Um blog do Ministério Fiel
PERGUNTAOk. Existe Deus, e Ele é criador dos céus e da terra. E existe também o diabo. Então, como Deus sempre existiu, e é bom, como e porque o diabo existe? (não estou questionando a existência em si, mas sim a explicação para isso) Pelo que me ensinaram o diabo é o “anjo de luz” que se rebelou contra Deus, é isso? Então já existia pecado antes mesmo do homem existir? Da onde surgiram os “anjos”? O que faria um anjo “cair”?
RESPOSTA
Obrigada pelo seu contato.
Anjos e Satanás
Demônios são anjos maus que anteriormente foram anjos bons, mas que pecaram e perderam o seu privilégio de servir a Deus em comunhão e santidade, apesar de o “servirem” debaixo de sua soberania, pois todas as coisas estão ao Seu serviço.
Iguais aos anjos, eles também são seres espirituais criados com juízo moral e com alta inteligência, mas sem corpos físicos. Podemos definir os demônios da seguinte e maneira: Os demônios são anjos maus que pecaram contra Deus e que agora operam continuamente o mal no mundo.
Quando Deus criou o mundo, ele “viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom” (Gn 1.31). Isso significa que mesmo o mundo angelical que Deus havia criado não possuía anjos maus nem demônios àquela altura. Mas, quando chegamos a Gênesis 3 , percebemos que Satanás, na forma de uma serpente, tentou Eva para que pecasse (Gn 3.1-5). Portanto, em um determinado tempo entre os eventos de Gênesis 1.31 e Gênesis 3.1, deve ter havido uma rebelião no mundo angelical, com muitos anjos se voltando contra Deus e tornando-se maus.
O NT fala disso em dois lugares. Pedro nos diz que “Deus não poupou a anjos que pecaram, mas os lançou no inferno, prendendo-os em abismos tenebrosos a fim de serem reservados para o juízo” (2Pe 2.4) . Judas também diz que “quanto aos anjos que não conservaram suas posições de autoridade mas abandonaram sua própria morada, ele os tem guardado em trevas, presos com correntes eternas para o juízo do grande Dia” (Jd 6). Uma vez mais a ênfase recai sobre o fato de que eles são removidos da glória da presença de Deus e sua atividade é restringida (metaforicamente, eles estão em “correntes eternas”), mas o texto não sugere que a influência dos demônios tenha sido removida do mundo ou que alguns demônios sejam guardados em um lugar de punição à parte do mundo, enquanto outros são capazes de influenciá-lo. Ao contrário, tanto 2ª Pedro como Judas nos dizem que alguns anjos se rebelaram contra Deus e se tornaram oponentes hostis à sua palavra. O pecado deles parece ter sido o do orgulho, a recusa em aceitar seu lugar designado, pois eles “não conservaram suas posições de autoridade mas abandonaram sua própria morada” (Jd 6).
[…]
Satanás pecou antes de os seres humanos terem caído, como fica evidente no fato de que ele (na forma de uma serpente) tentou Eva (Gn 3.1-6; 2 Co 11.3). O NT também nos informa que Satanás “foi homicida desde o princípio” e que ele é ”mentiroso e pai da mentira” (Jo 8.44). Ele diz igualmente que o Diabo “vem pecando desde o princípio” (1 Jo 3.8). Em ambos os textos, a frase “desde o princípio” não sugere que Satanás tenha sido mau desde o tempo em que Deus começou a criar o mundo (“desde o princípio do mundo”) ou desde o começo de sua existência (“do princípio de sua vida”), mas sim desde o começo da história do mundo (Gn 3 e mesmo antes). A característica do Diabo tem sido a de originar o pecado e a de induzir outros a pecar.
Fonte: Os Anjos, Satanás e os Demônios, de Wayne Grudem, acréscimos em negrito pelo autor do blog. Para aprofundamento, sugiro a leitura de todo o texto, ressaltando que Grudem tem uma visão não-ortodoxa, mas interessante, em relação à possessão demoníaca de cristãos.
Há ainda outros textos que falam sobre a queda de Satanás: Lc 10:18, Ap 12:1-9. Algumas pessoas relacionam também os textos de Is 14.12-15 e Ez 28.11-19 a queda de Satanás, como você pode ver no texto de Wayne Grudem, chamando-o assim de Lúcifer, contudo há objeções: Robert L. Alden – Lúcifer: Quem ou o que? e Ra McLaughlin – Satanás nunca foi Lúcifer.
A Origem do Pecado
Contudo, uma explicação muito mais complicada que a origem de Satanás é a origem do pecado. Primeiramente, reconhecemos que as respostas para esta pergunta não será simples e, provavelmente, não teremos uma conclusiva. Mas, historicamente, os credos colocam Deus como não-autor do pecado, como podemos ver na Confissão de Fé de Westminster, de 1647.
A onipotência, a sabedoria inescrutável e a infinita bondade de Deus, de tal maneira se manifestam na sua providência, que esta se estende até a primeira queda e a todos os outros pecados dos anjos e dos homens, e isto não por uma mera permissão, mas por uma permissão tal que, para os seus próprios e santos desígnios, sábia e poderosamente os limita, e regula e governa em uma múltipla dispensarão mas essa permissão é tal, que a pecaminosidade dessas transgressões procede tão somente da criatura e não de Deus, que, sendo santíssimo e justíssimo, não pode ser o autor do pecado nem pode aprová-lo.
Sugiro a leitura do seguinte texto: Deus é o autor do Pecado?, por Kenneth G Talbot & W. Gary Crampton.
Para maior compreensão do mistério, segue abaixo um trecho do livro de John Piper, Spectacular Sins and Their Global Purpose in the Glory of Christ (Pecados Espetaculares e Seus Propósitos Globais na Glória de Cristo) traduzido pelo Voltemos ao Evangelho:
Disputando pela posição de pecado mais espetacular já cometido, está o desejo dos uma-vez-santos anjos a amarem suas próprias glórias mais que a Deus. É insondável. A Bíblia não nos leva profundamente ao âmago de tal pecado misterioso para explicar a dinâmica da alma que faz a rebelião despontar da justiça. Não nos foi dada a resposta final de como a origem do pecado na alma de um ser santo acontece. Mas também não somos deixados a indagar se Deus estava surpreso ou se Ele teve de reformular todos os Seus planos. Somos levados intimamente pelas Escrituras aos salões da eternidade e nos são dados vislumbres de tirar o fôlego. E o objetivo de Deus nisto não é promover a especulação, mas sim despertar o culto e fazer-nos poderosos por Cristo no meio do pecado e da miséria.
[…]Mas agora perguntamos: Por quê? Como isso pôde acontecer? Não há resposta fácil. Na verdade, a resposta bíblica definitiva cria ainda mais perguntas. Assim, parece que nesta época, quando nós “conhecemos em parte” (1 Coríntios. 13:12), nem todas as nossas perguntas serão respondidas.Algumas pessoas acham que ajuda dizer que os anjos tinham “livre-arbítrio”, e, portanto, Deus, por respeito a este livre-arbítrio, não poderia exercer uma influência decisiva para manter a fidelidade deles ou mantê-los O adorando. Mas eu não acho esta idéia útil. Ela simplesmente não responde à pergunta: Por que um anjo perfeitamente santo na presença infinitamente bela de Deus usa seu livre-arbítrio para, de repente, odiar a Deus?Essa idéia de que Deus era incapaz de impedir a rebelião por causa de seu respeito à vontade inata de auto-determinação dos anjos sem pecado não é uma solução para o problema. Ela não explica o porquê de seres perfeitamente santos usarem suas vontades para desprezar o que eles estavam adorando quando criados. E ela não se encaixa com o que o resto da Bíblia diz sobre o governo de Deus sobre o diabo. Nesse cenário, o termo livre-arbítrio é somente outra maneira de nomear o mistério. Mas não é a forma como a Bíblia lida com essa situação.
(Mais, somente quando o livro for lançado no Brasil. Sim, eu também fiquei com gostinho de quero mais.)
Cabe ressaltar que Vincent Cheung argumenta em prol de Deus como autor do pecado em seu livro Autor do Pecado, indo assim “contra a maré”.
Apesar de o assunto ser extremamente complexo, já que adentramos os portões da eternidade, cabe-nos, antes, temer e confiar em Deus, que é infinitamente sábio, reconhecendo nossa pequenez. Assim, deixamos a palavras de John Murray para meditação:
Não devemos tentar descobrir as razões do seu [de Deus] conselho não revelado. Devemos nos curvar em humildade e adoração e dizer: ‘Não fará justiça o Juiz de toda a terra?’. E se tivermos dispostos a dizer: ‘Por que me fizeste assim?’; deveríamos nos lembrar da resposta inspirada: ‘Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus? Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim?’. Não podemos conhecer o Todo-poderoso com perfeição.
Todos os textos foram extraídos do excelente site Monergismo.com.
