Pregando Cristo no Antigo Testamento (2)

Davi e Golias, Spurgeon

Esta é uma série de postagens sobre como pregar a Cristo no Antigo Testamento. Muitos tem pregado de forma errada usando o Velho Testamento para pregações moralistas ou de auto-ajuda. Pregador, quer aprender a pregar com base no Antigo Testamento? Esta série de postagem lhe dará uma boa introdução.

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“Todo sermão realmente bíblico se desenvolverá de forma a apresentar Jesus Cristo aos ouvintes.”

(Dario de Araújo Cardoso)

Na primeira postagem apresentamos uma introdução, falando sobre sermões moralistas e uma breve introdução de como pregar de forma cristocêntrica no Velho Testamento. Apresentamos agora, em vários segmentos, um excelente artigo de Dario de Araújo Cardoso sobre isso.

INTRODUÇÃO

O lançamento, em 2006, de dois livros do professor Sidney Greidanus pela Editora Cultura Cristã deu importante contribuição para a discussão sobre a pregação evangélica em nosso país. São eles: O Pregador Contemporâneo e o Texto Antigo e Pregando Cristo a partir do Antigo Testamento. Eles complementam e aprofundam o trabalho de Bryan Chapell, Pregação Cristocêntrica, também publicado pela Editora Cultura Cristã, em 2002. Todos eles, em especial o segundo, têm como ponto chave a proposta de que Cristo não é apenas o tema central e principal das Escrituras, mas é, sobretudo, o tema de toda a Escritura. Assim, segundo esses dois autores, todo sermão realmente bíblico se desenvolverá de forma a apresentar Jesus Cristo aos ouvintes. Ainda que tal proposição pareça superdimensionada aos ouvidos contemporâneos, esses autores não se encontram isolados na história da pregação cristã. Pelo contrário, eles ecoam aquilo que disseram luminares da história da igreja, incluindo Calvino, Lutero e até mesmo os apóstolos. Greidanus os cita fartamente.

Diante dessa proposta, o sermão biográfico no Antigo Testamento parece ser um respeitável desafio prático e será o foco do presente artigo. Primeiramente ver-se-á, a partir de um resumo dos argumentos de Greidanus, qual é a proposta hermenêutica e homilética da pregação cristocêntrica, bem como as razões históricas e teológicas em sua defesa. Em seguida, discutir-se-á a forma de pregação biográfica mais comumente usada, chamada exemplarista, e os problemas hermenêuticos presentes nesse tipo de pregação. Por fim, apresentar-se-á o modelo cristocêntrico proposto por Greidanus, ilustrando sua aplicação nos textos biográficos.

1. A Proposta e as Razões da Pregação Cristocêntrica

[iremos dividir essa seção em duas partes. Nesta primeira, você verá o testemunho das Escrituras e na semana que vem o testemunho histórico]

“Deus, assim, cumpriu o que dantes anunciara por boca de todos os profetas: que o seu Cristo havia de padecer … Disse, na verdade Moisés … E todos os profetas, a começar com Samuel, assim como todos quantos depois falaram, também anunciaram esse dias” (At 3.18,22,24)

Argumentando sobre a razão pela qual os pregadores modernos deveriam pregar a Cristo, Greidanus escreve que foi essa a ordem que os discípulos receberam do próprio Jesus em sua despedida (Mt 28.19,20), o que mais tarde foi recordado por Pedro: “E nos mandou pregar ao povo e testificar que ele é quem foi constituído por Deus Juiz de vivos e de mortos” (At 10.42). Vê-se o modo como Pedro realizou esse mandato em sua contundente afirmação no sermão à porta do templo: “Deus, assim, cumpriu o que dantes anunciara por boca de todos os profetas: que o seu Cristo havia de padecer … Disse, na verdade Moisés … E todos os profetas, a começar com Samuel, assim como todos quantos depois falaram, também anunciaram esse dias” (At 3.18,22,24 – grifos meus). Paulo foi comissionado igualmente segundo as palavras do Senhor a Ananias: “este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel” (At 9.15). Diante do rei Agripa, Paulo descreve o modo como a tinha cumprido: “Mas, alcançando socorro de Deus, permaneço até ao dia de hoje, dando testemunho, tanto a pequenos como a grandes, nada dizendo, senão o que os profetas  e Moisés disseram haver de acontecer, isto é, que o Cristo devia padecer e, sendo o primeiro da ressurreição dos mortos, anunciaria a luz ao povo e aos gentios” (At 26.22-23 – grifos meus).

Tanto no discurso de Pedro como no de Paulo, deve-se notar a ênfase de que todo o Antigo Testamento anuncia a Jesus e a salvação. Tal atitude não deveria surpreender, uma vez que foi isso mesmo o que os discípulos viram Jesus fazer. Na sinagoga de Nazaré, Jesus leu Isaías 61.1-2, uma referência ao Ano do Jubileu (Lv 25.8-55), e declarou: “Hoje se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir” (Lc 4.18-21). E quando caminhava com os discípulos que iam a Emaús firmou: “Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!… E, começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha o que a seu respeito constava em todas as Escrituras” (Lc 24.25,27 – grifos meus). Fica claro que os apóstolos aprenderam com Jesus que não apenas certas passagens do Antigo Testamento testemunhavam acerca dele, mas que todo o Antigo Testamento o fazia. Greidanus conclui:

Por esse breve resumo do Novo Testamento, fica claro que os apóstolos e evangelistas pregavam Cristo a partir do Antigo Testamento. Fica também claro que eles o faziam com integridade, porque criam que o Antigo Testamento se referia a Cristo. Finalmente, é evidente que eles aprenderam esse entendimento cristológico do Antigo Testamento do próprio Jesus, pois Jesus não só modelou em sua vida o cumprimento do Antigo Testamento, como também ensinou “as coisas que a seu respeito constavam em todas as Escrituras” (Lc 24.27).

Por Dario de Araújo Cardoso em Uma Abordagem Cristocêntrica para os Sermões Biográficos