Thomas Watson – Uma Exortação Para Amar a Deus [3/6]

O Voltemos ao Evangelho está traduzindo o livro Um Tônico Divino, do puritano Thomas Watson. Confira os capítulos já traduzidos:

  1. As melhores coisas cooperam para o bem [Parte 1 | Parte 2 | Parte 3 | Parte 4 | Parte 5]
  2. As piores coisas cooperam para o bem [Parte 1 | Parte 2 | Parte 3 | Parte 4 | Parte 5 | Parte 6 | Parte 7 | Parte 8]
  3. Por que todas as coisas cooperam para o bem do homem piedoso? [Parte 1 | Parte 2 | Parte 3]
  4. Sobre o Amor a Deus [Parte 1 | Parte 2 | Parte 3]
  5. Os Testes do Amor a Deus [Parte 1 | Parte 2 | Parte 3 | Parte 4 | Parte 5 | Parte 6]
  6. Uma Exortação Para Amar a Deus [Parte 1 | Parte 2 | Parte 3 | Parte 4 | Parte 5 | Parte 6]

1. Uma exortação (cont.)

(11) Se você não amar a Deus, você amará alguma outra coisa, seja o mundo ou o pecado; e acaso são essas coisas dignas do seu amor? Não é melhor amar a Deus do que amá-las? É melhor amar a Deus do que o mundo, como demonstraremos nos pormenores que seguem.

Se você puser o seu amor em coisas mundanas, elas não o satisfarão. Você pode satisfazer a sua alma com a terra tanto quanto pode alimentar o seu corpo com ar. “Na plenitude da sua abastança, ver-se-á angustiado” (Jó 20.22). A fartura tem a sua penúria. Se o globo do mundo fosse seu, ele não preencheria a sua alma. E acaso você porá o seu amor em algo que jamais poderá dar-lhe contentamento? Não é melhor amar a Deus? Ele lhe dará aquilo que há de satisfazer. “Quando acordar, eu me satisfarei com a tua semelhança” (Salmo 17.15). Quando eu acordar do sono da morte, e tiver alguns dos raios e feixes da glória de Deus postos sobre mim, então eu serei satisfeito com a Sua semelhança.

Se você amar coisas mundanas, elas não podem remover as preocupações da mente. Se há um espinho na consciência, o mundo inteiro não é capaz de arrancá-lo. Estando o rei Saul perplexo em sua mente, todas as jóias de sua coroa não podiam confortá-lo (1Sm 28.15). Mas, se você ama a Deus, Ele pode lhe dar paz quando nada mais pode fazê-lo; Ele é quem “torna a densa treva em manhã” (Am 5.8). Ele pode aplicar o sangue de Cristo para revigorar a sua alma; Ele pode sussurrar o Seu amor pelo Espírito e, com um sorriso, dissipar todos os seus medos e inquietações.

Se você amar o mundo, você ama aquilo que pode mantê-lo fora dos céus. Contentamentos mundanos podem ser comparados às carruagens de um exército: enquanto os soldados ficam alimentando a si mesmos nas carruagens, eles perdem a batalha. “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!” (Mc 10.23). Para muitos, a prosperidade é como a vela para o barco, a qual pode facilmente fazê-lo virar; sendo assim, ao amar o mundo, você ama aquilo que o põe em perigo. Mas, se você amar a Deus, não há medo de perder os céus. Ele será uma Rocha para protegê-lo, mas não para feri-lo. Se nós O amamos, nós iremos desfrutá-Lo.

Você pode amar coisas mundanas, mas elas não podem correspondê-lo em amor. Você ama o ouro e a prata, mas o seu ouro não pode correspondê-lo em amor. Você ama um quadro, mas o quadro não pode correspondê-lo em amor. Você doa o seu amor à criatura, mas não recebe nenhum amor de volta. Mas, se você amar a Deus, Ele o corresponderá em amor. “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada.”  (Jo 14.23). Deus não será mesquinho em amor por nós: pela nossa gota de amor, haveremos de receber um oceano.

Quando você ama o mundo, ama aquilo que é pior do que você mesmo. A alma, como diz Damasceno, é uma faísca do brilho celestial; ela traz em si uma idéia e semelhança de Deus. Ao amar o mundo, você ama aquilo que é infinitamente inferior à dignidade da sua alma. Acaso alguém gastará dinheiro em sacos de estopa? Quando você gasta o seu amor com o mundo, você lança uma pérola aos porcos; você ama aquilo que é inferior a você mesmo. Como Cristo fala, em outro sentido, acerca das aves do céu, “Não tendes vós muito mais valor do que elas?” (Mt 6.26, ARC), assim também eu digo acerca das coisas mundanas: Você não tem muito mais valor do que elas? Você ama uma casa agradável, um quadro bonito; você não vale muito mais do que essas coisas? Mas, se você ama a Deus, você põe o seu amor no mais nobre e sublime objeto: você ama aquilo que é melhor do que você mesmo. Deus é melhor do que a alma, melhor do que os anjos, melhor do que os céus.

Você pode amar o mundo, e receber ódio em paga do seu amor. “Porque não sois do mundo, […] por isso é que o mundo vos aborrece” (Jo 15.19). Acaso não se aborreceria o homem que gastasse dinheiro para comprar um campo que, ao invés de produzir trigo ou uvas, não daria outra coisa senão urtigas? Assim é com todas as coisas que estão debaixo do sol: nós as amamos, mas elas demonstram ser como urtigas que só nos causam ardor. Nós não encontramos outra coisa, senão desapontamento. “Saia do espinheiro fogo que consuma os cedros do Líbano” (Jz 9.15). Enquanto nós amamos a criatura, sai fogo desse espinheiro para nos consumir; mas, se nós amamos a Deus, Ele não pagará o ódio pelo amor. “Eu amo os que me amam” (Pv 8.17). Deus pode disciplinar aquele que O ama, mas não pode odiá-lo. Cada crente é membro de Cristo e, assim como Deus não pode odiar a Cristo, tampouco pode odiar um crente.

Você pode amar excessivamente a criatura. Você pode amar o vinho demais, e a prata demais; mas você não pode amar Deus demais. Se fosse possível exceder-se em amor por Deus, tal excesso seria uma virtude; mas é nosso pecado o fato de não podermos amar a Deus o suficiente. “Quão fraco é o teu coração, diz o SENHOR Deus” (Ez 16.30). Assim também podemos dizer: “Quão fraco é o nosso amor por Deus!” É como a aguardente da última retirada do alambique, a qual possui menos álcool do que as demais. Se nós pudéssemos amar a Deus muito mais do que amamos, ainda assim não o faríamos proporcionalmente à Sua dignidade; assim, não há perigo de excesso em nosso amor a Deus.

Você pode amar coisas mundanas, e elas morrem e o deixam. As riquezas tomam asas, os relacionamentos escoam e desaparecem. Aqui, não há nada permanente: a criatura tem um pouco de mel em sua boca, mas ele tem asas e logo voa para longe. Mas, se você amar a Deus, Ele é “a minha porção para sempre” (Sl 73.26). Assim como Ele é chamado um Sol em relação ao conforto, também é chamado uma Rocha para a eternidade; Ele permanece para sempre. Assim, nós vemos que é melhor amar a Deus do que o mundo.

Se é melhor amar a Deus do que o mundo, certamente também é melhor amar a Deus do que o pecado. O que há no pecado, para que alguém venha a amá-lo? O pecado é uma dívida. “Perdoa-nos as nossas dívidas” (Mt 6.12). É uma dívida que nos arrasta para debaixo da ira de Deus; por que nós amaríamos o pecado? Acaso algum homem ama ter dívidas? O pecado é uma doença. “Toda a cabeça está doente” (Is 1.5). E acaso você amará o pecado? Pode algum homem afagar uma enfermidade? Pode ele amar as suas chagas purulentas? O pecado é uma contaminação. O apóstolo o chama de “impureza” (Tg 1.21). Ele é comparado à lepra e ao veneno das áspides. O coração de Deus se levanta contra pecadores. “E destruí os três pastores num mês, porque se angustiou deles a minha alma” (Zc 11.8, ARC). O pecado é um monstro deformado: a luxúria torna um homem animalesco, a malícia o torna diabólico. O que há no pecado para ser amado? Havemos de amar a deformidade? O pecado é um inimigo. É comparado a uma “serpente” (Pv 23.32). Ele possui quatro aguilhões: vergonha, culpa, horror e morte. Pode um homem amar aquilo que busca a sua morte? Certamente, então, é melhor amar a Deus do que o pecado. Deus irá salvá-lo, o pecado irá condená-lo; acaso não se tornou louco o homem que ama a condenação?

Por Thomas Watson. Original: A Divine Cordial By Thomas Watson

Tradução: voltemosaoevangelho.com

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