Vern Sheridan Poythress – Panorama Bíblico Cristocêntrico (2/3)

As Promessas de Deus

Por que modos o AT aponta para Cristo? Primeiro, por meio de promessas de salvação e promessas concernentes ao compromisso de Deus com seu povo . Deus nos promessas específicas sobre o Messias como o Salvador na linhagem de Davi. Através do profeta Miquéias, Deus prometeu que o Messias nasceria em Belém, cidade de Davi (Mq. 5:2), profecia que se cumpriu perfeitamente (Mat. 2:1–12). Mas Deus freqüentemente dava promessas gerais a respeito dos dias futuros de salvação, detalhando o seu cumprimento (e.g., Isaías 25:6–9; 60:1–7).

Um frequente refrão era Eu serei seu Deus, e eles serão meu povo (cf. Jer. 31:33; Os. 2:23; Zc. 8:8; 13:9; Heb. 8:10). Às vezes algumas variações dessa promessa focalizavam o povo e o que ele devia ser, e em outros casos se relacionava com Deus e o que Deus haveria de fazer. A promessa Serei o seu Deus é realmente um compromisso de estar com o seu povo, cuidar dele, discipliná-lo, protegê-lo, suprir suas necessidades e ter um relacionamento pessoal com ele. De modo contínuo, essa promessa finalmente é consumada na salvação em que Deus traria em Cristo.

Esse princípio se estende a todas as promessas do AT: Todas as promessas de Deus têm nele (Cristo) o “sim” (2 Cor. 1:20). Algumas vezes Deus dava imediatamente bênçãos temporais. Essas bênçãos eram apenas antecipação das ricas bênçãos que viriam por meio de Cristo: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênçãos espirituais nas regiões celestiais” (Ef. 1:3).

Advertências e Maldições

Mas a relação de Deus com seu povo não era apenas de bênçãos, é claro, mas também de advertências, e promessas de maldição. Era necessário que fosse assim por conta da reação justa de Deus contra o pecado. Essas advertências antecipavam e apontavam para Cristo de duas maneiras diferentes. Primeiro, Cristo é o Cordeiro de Deus, que carrega a maldição (Jo 1:29; 1 Pe. 2:24). Ele era inocente quanto ao pecado, mas levou por nós a maldição (2 Cor. 5:21; Gal. 3:13). Toda ocasião no AT que retrata a ira de Deus contra o pecado e sua punição, aponta para a ira que caiu sobre Cristo, na cruz.

Em segundo lugar, Cristo lutará contra o pecado e o exterminará na segunda vinda. Sua segunda vinda e a consumação será o tempo em que o julgamento final contra o pecado será executado. Todo castigo pelo pecado nos tempos passados aponta para o julgamento final. Cristo antecipava seu julgamento final quando em vida expulsava demônios e denunciava os pecados dos líderes religiosos.

Os Pactos

As promessas de Deus no AT estão não apenas no contexto dos compromissos de Deus para com seu povo, mas também nas obrigações que o povo tem para com Deus. Noé, Abraão e outros a quem Deus encontra e se dirige são chamados não somente a crer em Deus, mas a responder com suas vidas ao chamado de Deus. A relação de Deus com seu povo é consumada por meio de pactos. Quando Deus faz um pacto com o homem, ele é apresentado como o Soberano que especifica as obrigações do pacto para ambas as partes. Eu serei seu Deus é a obrigação fundamental do lado de Deus, enquanto que eles serão meu povo é a obrigação fundamental para o lado humano.

Por exemplo, quando Deus chama Abrão, ele diz, Sai a tua terra e da tua parentela para a terra que te mostrarei (Gen. 12:1). Esse mandamento especifica uma obrigação da parte de Abrão. Mas Deus diz o que fará de sua parte: E eu farei de ti uma grande nação, e te abençoarei (Gen. 12:2). As declarações de Deus tomam a forma de promessas, de bênçãos e advertências. As promessas e bênçãos apontam para Cristo, que é o cumprimento das promessas e fonte última das bênçãos de Deu s. As advertências (maldições) apontam para Cristo no seu papel de nosso substituto e executor de julgamento contra o pecado, especialmente em sua segunda vinda.

Cristo também tem as obrigações do lado humano dos pactos. Cristo é plenamente homem e plenamente Deus. Como homem, ele está com seu povo do lado humano. Ele cumpre as obrigações dos pactos por sua perfeita obediência (Heb. 5:8). Ele recebeu a recompensa da sua obediência em sua ressurreição e ascensão (Fp. 2:9–10). Os pactos do AT no lado humano apontam para sua consumação em Cristo.

Ao tratar com a ira de Deus contra o pecado, Cristo mudou a situação do homem de alienação para paz. Ele nos reconciliou com Deus (2 Cor. 5:18–21; Rom. 5:6–11). Ele nos trouxe o privilégio do relacionamento pessoal com Deus, o fato de sermos chamados filhos de Deus (Rom. 8:14–17). A intimidade com Deus é o que todo o AT antecipa. Em Isaías, Deus declara que seu Servo, o Messias, será o pacto para o seu povo (Isaías 42:6; 49:8).

A Descendência

Junto aos pactos, a Bíblia focaliza num elemento especial, a saber, a promessa acerca da descendência de Jesus. No pacto com Abrão, Deus o chama para andar em sua presença e ser perfeito (Gen. 17:1). Esse é o lado humano da obrigação do pacto. No outro lado, Deus promete fazer dele pai de multidão (Gen. 17:4), e muda seu nome para Abraão (Gen. 17:5). E esse pacto se estende às gerações posteriores de Abraão: Estabelecerei meu pacto entre ti e tua descendência depois de ti por meio de um pacto eterno. E darei a terra da possessão a ti e teus descendentes (Gen. 17:7–8).

As promessas a Abraão são importantíssimas porque são a base da nação de Israel. A história de Abraão mostra que ele teve um filho, Isaque, que era o resultado da promessa de Deus, e deu origem às doze tribos.

Mas como isso tudo se relaciona com Cristo? Cristo é o descendente de Davi e Abraão (Mat. 1:1). Ele é a semente de Abraão: Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo. (Gal. 3:16; Gen. 22:15–18).

Abraão ouviu o chamado ande após mim e seja perfeito (Gen. 17:1). Ele confiou em Deus (Gal. 3:9; Heb. 11:8–12, 17–19). Mas tinha suas falhas e pecados. Em último caso, quem anda na presença de Deus e é perfeito? Não Abraão! Ninguém nesse mundo, mas Cristo (Heb. 4:15). Todos os outros que sucederam Abraão na descendência foram pecadores. Por isso o pacto com Abraão tem um apontamento certo para Cristo. Cristo é o Descendente Final para quem todos os anteriores apontam: Isaque, Jacó, e os filhos de Jacó. Entres eles, é Judá que terá um reinado (Gen. 49:10). Davi é o descendente de Abraão e Judá; Salomão é o descendente de Davi; seguindo com Jeroboão e os outros descendentes de Davi e Salomão (Mateus 1:1–16).

Cristo não é meramente o herdeiro por direito legal, mas o único perfeito. Através dele somos unidos e nos tornamos nós mesmos descendência de Abraão (Gal. 3:29). Cristãos, judeus e gentios tornam-se participantes da promessa (Gal. 3:28–29).

 

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Por: Vern Sheridan Poythress.

Tradução: Pablo Monteiro, 2011. www.monergismo.net.br