Três maneiras surpreendentes de ofender o Espírito Santo

O Espírito Santo é frequentemente descrito como luz. Ele brilha nos lugares sombrios do coração e nos convence do nosso pecado (Jo 16.7-11). Ele é a lâmpada que ilumina a palavra de Deus, ensinando o que é verdadeiro e apresentando a verdade como sendo preciosa (1Co 2.6-16). E o Espírito lança um holofote em Cristo para que possamos ver a sua glória e sermos mudados (Jo 16.14). É por isso que 2 Coríntios 3.18 fala de se tornar mais como Cristo ao contemplar a glória de Cristo. Assim como Moisés teve a sua face transfigurada quando viu a glória do Senhor no Monte Sinai (Êx 34.29; 2Co 3.7), assim também nós seremos transformados quando, pelo Espírito, contemplarmos a glória de Deus na face de Cristo.

O Espírito, portanto, é uma luz para nós de três maneiras: ao expor a nossa culpa, ao iluminar a palavra de Deus e ao nos mostrar Cristo. Ou, para colocar de outra maneira, como Luz Divina, o Espírito Santo trabalha para revelar o pecado, revelar a verdade e revelar a glória. Quando fechamos os nossos olhos para essa luz ou depreciamos o que deveríamos ver através do seu brilho, somos culpados de resistir ao Espírito (At 7.51), ou apaga (1Ts 5.19) ou entristece o Espírito (Ef 4.30). Pode haver pequenas nuances entre os três termos, mas todos eles falam da mesma realidade básica: recusar-se a ver e saborear o que o Espírito quer nos mostrar.

Há, portanto, três maneiras de entristecer o Espírito Santo — três maneiras que podem ser surpreendentes, pois correspondem com as três maneiras pelas quais o Espírito age como luz para expor a nossa culpa, iluminar a palavra e nos mostrar Cristo.

Primeiramente, nós entristecemos o Espírito Santo quando o usamos como desculpa para a nossa pecaminosidade. O Espírito é a fonte do convencimento nos corações humanos. Quão triste é, portanto, quando os cristãos tentam usar o Espírito como licença para comportamentos impiedosos. Nós vemos quando pessoas — quer sejam genuinamente enganadas ou charlatães intencionais — declaram a direção do Espírito como a razão para seu divórcio anti-bíblico, ou por seu mau procedimento financeiro, ou por sua nova querida liberação sexual. O Espírito Santo sempre é o Espírito da santidade. Sua intenção é nos mostrar o nosso pecado  Se o Espírito Santo se entristece quando nos desviamos da justiça para o pecado, quão duplamente triste ele deve ficar quando declaramos a autoridade do Espírito para tal rebelião deliberada.

Em segundo lugar, nós entristecemos o Espírito Santo quando o fazemos competir contra as Escrituras. O Espírito trabalha para revelar a verdade da palavra de Deus, não para nos guiar para longe dela. Não há lugar na vida cristã para supor ou sugerir que a atenção cuidadosa à Bíblia seja de alguma forma antitética à sincera devoção ao Espírito Santo. Qualquer um que deseje honrar o Espírito fará bem em honrar a Escritura que ele inspirou como meio de iluminação.

Às vezes, cristãos citam a promessa em João 16.13 de que o Espírito “vos guiará a toda a verdade” como razão para esperar que a terceira pessoa da Trindade nos dará novas compreensões que não são encontradas na Escritura. Mas a “verdade” a que se refere João 16 é toda a verdade a respeito de tudo o que está ligado a Jesus Cristo, o caminho, a verdade e a vida. O Espírito revelará as coisas que virão, na medida que revela aos apóstolos (v. 12) o significado da morte, da ressurreição e da exaltação de Jesus. O Espírito, falando pelo Pai e pelo Filho, ajudaria os apóstolos a lembrar do que Jesus disse e entender o verdadeiro significado de quem Jesus é e o que ele conquistou (Jo 14.26).

Isso significa que o Espírito é responsável pelas verdades que os apóstolos pregaram e que, por sua vez, foram escritas naquilo que hoje chamamos de Novo Testamento. Nós confiamos na Bíblia — e não precisamos ir além da Bíblia — porque os apóstolos, e aqueles sob o guarda-chuva de sua autoridade, escreveram a Bíblia por meio da revelação do Espírito. A Bíblia é o livro do Espírito. Insistir em precisão exegética, rigor teológico e atenção cuidadosa à palavra de Deus nunca deveria ser rebaixado a encher as nossas cabeças de conhecimento, muito menos como de alguma maneira oposto à real obra do Espírito.

Terceiro, nós entristecemos o Espírito Santo quando sugerimos que ele tem ciúmes do nosso foco em Cristo. O trabalho do Espírito Santo é servir. Ele fala apenas aquilo que ouve (Jo 16.13). Ele declara o que lhe é dado; sua missão é glorificar a outro (Jo 16.14). Todas as três pessoas da Trindade são plenamente Deus, e ainda assim, na economia divina, o Filho torna conhecido o Pai e o Espírito glorifica o Filho. Sim, é algo terrível ser ignorante quanto ao Espírito e não é sábio negligenciar o papel indispensável que ele executa em nossas vidas. Mas não devemos pensar que podemos focar demais em Cristo, ou que quando exaltamos a Cristo à glória do Deus Pai, de alguma maneira o Espírito esteja aborrecido em um canto. O Espírito tem o objetivo de lançar luz em Cristo; ele não tem inveja que o faça lançar luz em si mesmo.

Exaltar a Cristo, focar em Cristo, falar muito e cantar com frequência sobre Cristo não são evidências de rejeição do Espírito, mas da obra do Espírito. Se o símbolo da igreja é a cruz e não a pomba, isso se dá porque o Espírito deseja que seja assim. Como J.I. Packer diz: “A mensagem do Espírito para nós nunca é: ‘Olhem para mim; me ouçam; venham a mim; me conheçam’, mas sempre: ‘Olhem para ele, vejam a sua glória; ouçam a ele e escutem a sua palavra; ide a ele e tenham vida; conheçam-no e provem do seu dom e da sua paz’”.

Novamente, saber nada a respeito do Espírito Santo é um erro sério (cf. At 19.2). Mas quando cristãos lamentam uma atenção exagerada em Cristo ou se queixam de ênfase demais à cruz, tais protestos entristecem o próprio Espírito. O Espírito Santo não está só à espera de ser notado e enaltecido. A obra dele não é brilhar vividamente diante de nós, mas lançar uma luz sobre a glória de Cristo. Contemplar a glória do Deus Pai na face do Filho Jesus Cristo não é marginalizar o Espírito Santo; é celebrar a sua graciosa obra entre nós.

Quer estejamos falando sobre santidade, sobre a Bíblia ou sobre Jesus Cristo, que nunca coloquemos o Espírito contra a própria coisa que ele deseja conquistar. Nós não honramos o Espírito ao tentar diminuir o que ele procura exaltar. E nós não seguimos os seus passos lançando outros (ou nós mesmos) na direção da própria coisa que o entristece mais.

Por: Kevin DeYoung. © The Gospel Coalition. Website: thegospelcoalition.org. Traduzido com permissão. Fonte: Three Surprising Ways To Grieve The Holy Spirit.

Original: Três maneiras surpreendentes de ofender o Espírito Santo. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Tradução: Alan Cristie.