Conversas com um jovem pastor

Anos depois, do outro lado das ruínas, encontrei-me escutando os desejos de um jovem pastor. Eu me via e escutava nele. Talvez você também se identifique.

“Não importa o que vier, quero me entregar totalmente ao ministério”, disse ele.

A sua paixão me inspirava, mas o contexto me preocupava. Tínhamos acabado de falar sobre a dificuldade dele, como marido e pai, junto a uma dobra recorrente dentro da estrada de sua alma. Respirei fundo e parei, olhando para a tigela de pad thai à minha frente.

“Se o ministério for tudo que almejamos alcançar”, comecei dizendo, “então como definimos ‘o ministério’ parece importante, sabe?” Levei um pouco de comida à boca e mastiguei.

“Só quero pregar a Palavra”, ele declarou. “Não importa o que aconteça, enquanto eu continuar falando o que Deus diz, ele vai me abençoar. Sei que Deus me deu um propósito”.

Havia urgência em sua voz e pressa em seus olhos. Ambos eram como espelho para mim. Enrolei o amendoim e o macarrão em volta de meu garfo (os palitos chineses já haviam começado o trabalho de me humilhar). Eu procurava as palavras.

“Sim, Deus abençoa a sua Palavra”, comecei. “Você tem um propósito”, afirmei.

Demorei mais um pouco com a tigela, tentando achar o que eu deveria deixar de dizer. “Certa vez falei em uma conferência. Preguei cinco vezes. Foi um daqueles momentos quando sentia a presença de Deus de maneira tangível. De fato, depois daquela conferência específica, o resto do meu ano estava planejado, repleto de pregações por todo o país. Realmente, Deus abençoou a sua Palavra. Eu vejo isso de primeira mão.”

“Mas”, disse eu, e parei. Em minha cabeça, eu estava numa encruzilhada, perguntando-me como dizer o que seguiria. “No caminho para casa depois daquele último sermão, entre as divinas bênçãos daquela noite, a minha esposa de quinze anos de casamento disse que estava me deixando”.

Houve um silêncio entre meu jovem amigo e eu. Tomei meu refrigerante. Temia ter falado demais e cedo demais. Ele conhecia as circunstâncias da minha vida. Mas será que estava pronto para aprender um pouco sobre o que tais circunstâncias podem nos ensinar? Além do mais, será que eu estava pronto a tentar e dar uma voz a isso?

“Estou tentando sugerir que o ministério envolve mais do que a questão de nossos sermões serem poderosos e de como influenciamos multidões de pessoas. Entregar tudo a Deus significa muito mais do que entregar-se aos sermões e às multidões.”

Mais tarde, naquela mesma noite, estávamos de pé sob as estrelas.

“Quando chegar em casa”, disse ele, “finalmente começarei a ser pastor. Quem sabe, logo estarei no seminário e serei equipado, e então serei professor em algum lugar. Mal posso esperar para chegar lá. Dois anos de pastorado e então…”

Eu me encontrava fitando o cascalho da entrada de carro como se fosse uma tigela de pad thai. Novamente eu procurei palavras para dizer o que ainda não fora dito. Eu ouvia a minha voz na voz dele. Ele estava inquieto por fazer algo grande para Deus. Seu trabalho pastoral era uma plataforma para ajudá-lo a chegar a outro lugar onde não estava. No entanto, ele não sabia como incluir trocar as fraldas do filho ou ficar de mãos dadas com a esposa na sua definição de grandeza.

“E se você já estiver onde Deus quer?”, tentei timidamente. “Em Jesus você já é uma bênção para as pessoas. E se seu lugar no ministério for onde você está com a família, no lugar em que Deus quer você junto dele?”

Seu rosto demonstrava sofrimento.

“Por favor, me perdoe se estou falando demais”, eu disse. Então fiz uma pausa. “É que você está falando com um homem que ganhou tudo que sempre sonhou e perdeu muito do que realmente importava, tudo em nome de se entregar totalmente ao ministério para servir a Deus. Apenas estou tentando dizer que parece realmente importante saber o que queremos dizer por ‘ministério’ se vamos nos entregar totalmente a isso. Meu desejo é que aquilo a que você está se entregando totalmente seja realmente aquilo que Deus deseja, com a definição que Deus dá a isso.”

Ele olhou novamente para o céu. “Não sei onde começar com isso tudo”, protestou.

 

Sem-teto em nossas salas de estar

Na semana seguinte, sentei-me para almoçar com um pastor que está subindo e se tornando famoso. A igreja na qual ele servia existia apenas há quatro anos, mas já tinha frequência de várias centenas de pessoas. Ele surgia em nossa comunidade como o próximo grande acontecimento.

Contudo, havia algo que o perturbava. “Durante os primeiros dois anos de nosso crescimento explosivo”, ele admitiu, “relacionei-me mal como marido e pai”. Ele fitou sua água gelada e fez careta. “Eu me escondia no meu sucesso como pastor”, continuou. “Acho que usei isso para evitar ver minhas falhas em casa e em meu coração”.

Este homem era o exemplo máximo do que meu amigo mais jovem se esforçava para ser. Contudo, os dois homens revelavam a mesma luta — o reconhecimento de que alguém pode receber grandes elogios por pregar Jesus, e ao mesmo tempo conhecer pouco sobre como seguir Jesus nas coisas pequenas e simples do dia a dia. Conseguem comunicar amor à multidão do púlpito ou num escritório ou numa sala de aula, mas quando são chamados para entregar a si mesmos (não os seus dons), são propensos a ficar desajeitados. Vejo isso em mim.

Meu jovem amigo escreveu-me na primeira semana de seu novo pastorado:

Estou cheio de ansiedade, principalmente sobre o que fazer com todo esse tempo. Fico me perguntando se fiz número X de dólares de trabalho para a igreja hoje? Não estou acostumado com tanto tempo livre em um só dia, e isso me deixa ansioso. Consigo realizar melhor as coisas quando meu horário está abarrotado e vou a mil por hora. Tenho vivido sob pressão por anos, e agora que Deus está alargando o meu espaço, de alguma forma quero sabotá-lo. Como posso sair dessa e encontrar minha vida?

Meu amigo não sabia como fazer um dia de trabalho pastoral se as variáveis da eficiência, quantidade, rapidez e medidas econômicas fossem removidas. Ele não fora ensinado sobre os outros tipos de tesouros que eram dele em Jesus, os quais ele podia desejar usar no seu dia. Eu também não tinha aprendido. O tempo que ele esteve comigo no passar dos anos não o havia ajudado.

O Pastor Imperfeito

O desejo de fazer a obra de Deus é algo que arde no coração de todo pastor

O pastor é treinado para pensar em grandes coisas para a glória de Deus. Mas, parece que a obra do ministério insiste em puxar o pastor para as coisas pequenas, as coisas simples do dia a dia, para aquelas atividades que não são vistas e nem percebidas pelas pessoas.

Além disso, o pastor logo percebe que tem seus limites e que é insuficiente para o trabalho que Deus coloca diante dele. Descobre que não sabe todas as coisas, não consegue consertar todas as coisas e nem pode estar em todo lugar, ao mesmo tempo. Porque, afinal, este é o trabalho de Deus e não do pastor.

Confira

Original: Conversas com um jovem pastor. © 2017 Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados.