Breves relatos da vida do reformador John Knox (Parte 2) (Reforma500)

500 anos de Reforma Protestante

Em comemoração aos 500 anos de Reforma Protestante, o Voltemos ao Evangelho trará artigos semanais e biografias de diferentes reformadores: Girolamo Zachi (jan), Theodoro Beza (fev), Thomas Cranmer (mar), Guilherme Farrel (abr), William Tyndale (mai), Martin Bucer (jun), John Knox (jul), Ulrico Zuínglio (ago), João Calvino (set) e Martinho Lutero (out).

(Leia a Parte 1)

Vida no continente

Entre 1553 e 1559, Knox viveu de modo semelhante a um nômade. Ele passou algum tempo com Calvino em Genebra, chamando-a de “a mais perfeita escola de Cristo… desde os dias dos apóstolos”. Posteriormente, ele aceitou um pedido para pastorear a congregação de língua inglesa em Frankfurt. Mas lá, surgiram problemas sobre a sua visão para uma igreja que deveria se ajustar absolutamente ao padrão do Novo Testamento.

Em 1555, depois de um novo período em Genebra, Knox retornou à Escócia para fortalecer o trabalho de reforma. Ele particularmente buscou encorajar os membros da nobreza escocesa, os quais ele temia correrem o risco de um compromisso fácil com Roma.

Knox casou-se com Marjory Bowes e, em 1556, retornou a Genebra, onde pastoreou uma congregação de cerca de duzentos refugiados. No ano seguinte, recebeu um convite urgente para retornar à Escócia — 1558 era o tempo programado para o casamento da jovem Maria, rainha dos escoceses, com o Delfim de França, um evento que parecia destinar a Escócia ao um governo Católico Romano permanente.

Compelido por Calvino, Knox fez uma jornada difícil e perigosa através de zonas de guerra para Dieppe, na França, apenas para receber a palavra de que parte da nobreza já não sentia a urgência da situação (Alguns deles estavam realmente em Paris naquela época preparando o tão temido casamento de Maria). A resposta de Knox foi instar esses “Lordes da Congregação” a formarem um grupo comum (acordo ou aliança), estabelecendo assim um precedente para a realização de alianças entre os piedosos escoceses.

Uma prova do vigor de Knox pode ser vista em uma carta que ele escreveu no mesmo ano para o povo da Escócia, instando-os a não comprometerem o evangelho. Knox lembrou-lhes que responderiam por suas ações diante do tribunal de Deus:

[Alguns desculpam-se:] “Nós éramos apenas pessoas simples, não poderíamos reparar as falhas e crimes de nossos governantes, bispos e clérigos; pedimos reformas e as desejamos, mas os irmãos dos Lordes eram bispos, seus filhos eram abades e os amigos dos grandes homens tinham a posse da igreja, e assim fomos obrigados a obedecer a tudo o que eles exigiam”. Essas desculpas vãs, eu vos digo, não servirão de nada na presença de Deus.

Retorno à Escócia

Em 1558, Maria, a “Sanguinária”, rainha da Inglaterra morreu e foi sucedida por Elizabeth I. Knox procurou um meio seguro de voltar ao lar passando pela Inglaterra. Nesse momento, no entanto, ele já era conhecido como o autor da infame polêmica contra as mulheres monarcas: First Blast of the Trumpet Against the Monstrous Regiment of Women [Primeiro Toque da Trombeta Contra o Monstruoso Governo das Mulheres], que houvera sido publicada anonimamente, a princípio, em Genebra e que fora colocado à venda sem o conhecimento de Calvino. Um meio seguro de passagem lhe foi recusado e, então, foi de barco que Knox finalmente chegou ao porto de Edimburgo, voltou para casa para iniciar a sua mais importante fase de ministério público.

Apesar de suas longas ausências de sua terra natal, várias coisas capacitaram Knox a liderar a reforma ali: seu nome estava associado aos heróis do passado recente, seus sofrimentos autenticavam o seu compromisso, sua ampla experiência o preparou para liderança e seu senso de chamado o fez “não temer a face de homem algum”.

Knox dá um relato vívido desses dias em sua History of the Reformation in Scotland [História da Reforma na Escócia]. Suas audiências famosas com Maria, rainha dos escoceses, muitas vezes deturpadas, indicam o seu compromisso total com os princípios da Escritura. Provavelmente foi esse compromisso total que levou a uma diminuição de apoio entre aqueles de quem ele tanto esperava. Em dias anteriores, sua visão radical proporcionara uma oportunidade para a nobreza liderar a Escócia no futuro, mas muitos se mostrariam pouco preocupados com a transformação radical da vida espiritual da igreja e da nação. Como um erudito moderno o expressou: “a linguagem pactual foi substituída por uma imagem mais sedutora: o bem comum [bem-estar]”.

Esta mudança na influência de Knox foi ilustrada na coroação do jovem Tiago VI, onde Knox pregou o sermão, mas o ex-bispo Católico Romano de Orkney realizou a unção do rei de acordo com os antigos ritos. O retorno dos bispos à igreja já era prenunciado.

No verão de 1572, Knox era uma sombra de seu eu anterior. Enfraquecido por um golpe, estava além de seus poderes pregar na Igreja de St. Giles, embora ele conseguisse fazê-lo ocasionalmente nas proximidades de Tolbooth. Em novembro, ficou claro que ele não esperava mais desse mundo. Na manhã de 24 de novembro, ele pediu a sua esposa para ler 1 Coríntios 15 para ele, e por volta das cinco horas seu último pedido foi: “Leia onde eu lancei minha primeira âncora”, certamente com fé; ela leu João 17. Ao final da noite, ele morreu.

O próprio Knox escreveu com profunda gratidão a Deus pelo trabalho que ele viu ser realizado:

No tocante à doutrina ensinada por nossos ministros e… à administração dos sacramentos realizados em nossas Igrejas, somos ousados ​​em afirmar que hoje não existe um reino na face da terra que os tem em maior pureza; sim (devemos falar a verdade, não importa a quem ofendamos), não há… quem os tenha com pureza semelhante.

Muitas explicações foram feitas para a influência de Knox e da Reforma Escocesa. Sem dúvida, houve muitos fatores em ação na providência de Deus que causaram tal renovação espiritual. Mas a própria convicção de Knox foi esta: “Deus deu o Seu Espírito Santo em grande abundância a homens simples”. Esta é a maior lição da vida de Knox.

Por: Sinclair Ferguson. Fonte: John Knox

Original: Breves relatos da vida do reformador John Knox (Parte 2) (Reforma500) (Reforma500). © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Camila Rebeca Teixeira. Revisão: William Teixeira.