Obediência, não há nada que possamos fazer? – Parte 1/2

O texto abaixo foi extraído do livro Graça Extravagante, de Barbara Duguid, da Editora Fiel.

Parte 2

Embora possamos cair por nós mesmos, não podemos levantar-nos sem a ajuda dele. — John Newton

Acho que a maioria dos cristãos acredita, corretamente, que toda a nossa força para seguir na vida cristã precisa vir de Cristo. Entretanto, podemos querer dizer coisas diferentes quando falamos isso. Alguns acreditam que o Espírito Santo, que passa a habitar em nós no momento da salvação, também nos capacita constantemente a sermos obedientes. Em outras palavras, a graça recebida na conversão inclui uma força permanente para escolhermos obedecer a Deus, sempre que estamos dispostos a fazê-lo. Portanto, a vontade e a força para permanecermos em obediência vêm de nossa própria diligência e esforço árduo, enquanto caminhamos pela vida.

John Newton possuía uma visão diferente sobre a obediência cristã — uma visão que colocava toda a culpa do pecado no pecador, mas dá todo o crédito pela obediência unicamente a Deus. Newton uniu a essa ideia o conceito de autoglorificação e concluiu, acertadamente, que se não houvesse nenhuma jactância humana diante de Deus pelas boas obras, a santificação teria de ser totalmente da graça e de penderia completamente de Deus. Longe de colocar a culpa em Deus por nossos pecados, Newton via a presença permanente de nossa natureza pecaminosa decaída e a atividade constante de Satanás como explicação suficiente para nosso contínuo pecado interior. Ele ponderou também que, se isso for verdade, somente Deus pode obter o crédito quando seu Espírito se move, em um novo ato da graça, para engajar a vontade dos crentes, de modo que eles queiram obedecer, e quando, depois, provê a verdadeira força para seguirem em obediência.

Nisto, John Newton repercute a percepção das históricas confissões de fé reformadas. Por exemplo, a Confissão de Westminster diz:

O poder de fazer boas obras não é, de modo algum, dos próprios fiéis, mas provém inteiramente do Espírito de Cristo. A fim de que sejam para isso habilitados, é necessário, além da graça que já receberam, uma influência positiva do mesmo Espírito Santo para obrar neles o querer e o perfazer segundo o seu beneplácito; contudo, não devem por isso tornar-se negligentes, como se não fossem obrigados a cumprir qualquer dever senão quando movidos especialmente pelo Espírito, mas devem esforçar-se por estimular a graça de Deus que há neles. – CFW 16.3

De modo semelhante, a Confissão Belga declara:

Então, fazemos boas obras, mas não para merecermos algo. Pois, que mérito poderíamos ter? Antes, somos devedores a Deus pelas boas obras que fazemos e não Ele a nós. Pois, “Deus é quem efetua em” nós “tanto o querer como o realizar, segundo sua boa vontade” (Filipenses 2:13). Então, levemos a sério o que está escrito: “Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer” (Lucas 17:10).

Assim como Newton, os elaboradores destas confissões reformadas acreditavam que cada ato específico de obediência exige uma influência real do Espírito Santo em nosso coração. A graça que recebemos no momento de nossa salvação não é um tipo de poder capacitador geral que precisamos descobrir como acessar e ativar para que possamos crescer e ser abençoados. Pelo contrário, é a presença pessoal e poderosa do Espírito do Deus vivo, que governa sobre nossa alma e decide, em cada momento, se nos dará graça para nos fazer querer obedecer e se dará graça adicional para sermos bem-sucedidos na obediência.

Esse tipo de cuidado, específico e minucioso por nós, como indivíduos, não deveria surpreender-nos. Quando Jesus disse que os fios de cabelo de nossa cabeça estavam contados, estava se referindo a um tipo de amor vigilante tão compreensível que nem um único fio de cabelo pode cair de nossa cabeça sem sua permissão (Mateus 10.30). Então, como é que podemos chegar a imaginar que Deus deixaria a grande e poderosa função de guiar nosso espírito ao encargo de pessoas fracas e pecadoras como nós? Certamente, o assunto a respeito de quais pecados cometeremos ou não é muito mais importante para Deus do que o número de fios de cabelo que podemos chamar de nossos cada dia.

De modo semelhante, até a morte de um pequeno e frágil pardal sob as garras de um gato da vizinhança, algo que dificilmente nos causaria preocupação, é objeto da vontade soberana de Deus (Mateus 10.29). Quanto mais, então, o Senhor exercerá sua soberania e cuidado amoroso na santificação de seus filhos? Aqueles que Deus criou à sua imagem e redimiu com o sangue de seu precioso e único Filho são muito mais valiosos para ele do que pequenos pardais (Mateus 10.31)!

Outras Escrituras também falam da atenção pessoal de Deus sendo manifestada em profusão sobre cada um de nós em cada momento de nossos dias. Ele sabe as palavras que estão em nossa língua, antes que as falemos (Salmo 139.4); é ele quem decide se elas sairão ou não de entre nossos lábios. Deus conhece nossos pensamentos (Salmo 139.2), bem como as características intrínsecas da nossa carne pecaminosa. Deus está escrevendo a história da redenção do seu povo, mantendo-o longe de pecados que ele não permite e entregando-o a pecados que planejou vencer para sua glória e nosso bem. O que planejamos para o mal Deus usa para o bem, apesar de nossas piores intenções.

Por: Barbara Duguid. © Editora Fiel. Website: EditoraFiel.com.br. Traduzido com permissão. Fonte: Extraído do livro: Barbara Duguid, Graça Extravagante.

Original: Obediência, não há nada que possamos fazer? – Parte 1/2. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados.

Graça Extravagante

Nesse livro, Barbara Duguid nos ensina, a partir dos escritos de John Newton, sobre o propósito de Deus para as nossas falhas e culpa. Sua abordagem franca e cheia de empatia, com ilustrações de suas próprias lutas, eleva o nosso foco, de nossos próprios esforços, para um Deus que é maior que as nossas falhas e que as usa para a sua glória.

 

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