Thomas Watson – Os Testes do Amor a Deus [3/6]

Os testes do amor a Deus

O Voltemos ao Evangelho está traduzindo o livro Um Tônico Divino, do puritano Thomas Watson. Confira os capítulos já traduzidos:

  1. As melhores coisas cooperam para o bem [Parte 1 | Parte 2 | Parte 3 | Parte 4 | Parte 5]
  2. As piores coisas cooperam para o bem [Parte 1 | Parte 2 | Parte 3 | Parte 4 | Parte 5 | Parte 6 | Parte 7 | Parte 8]
  3. Por que todas as coisas cooperam para o bem do homem piedoso? [Parte 1 | Parte 2 | Parte 3]
  4. Sobre o Amor a Deus [Parte 1 | Parte 2 | Parte 3]
  5. Os Testes do Amor a Deus [Parte 1 | Parte 2 | Parte 3 | Parte 4 | Parte 5 | Parte 6]

7. Crucificação

Um outro fruto do amor é crucificação. Aquele que é um amante de Deus está morto para o mundo. “O mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo” (Gl 6.14). Eu estou morto para as suas honras e prazeres. Aquele que está em amores por Deus não tem semelhante amor por qualquer outra coisa. O amor de Deus e a paixão do mundo são inconsistentes. “Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele” (1Jo 2.15). O amor a Deus engole todos os demais amores, assim como o cajado de Moisés engoliu os cajados dos egípcios. Se um homem pudesse viver no Sol, a Terra para ele não passaria de um pequeno ponto; assim também, quando o coração de um homem está elevado acima do mundo em admiração e amor a Deus, quão pobres e insignificantes se tornam as coisas de baixo! Elas parecem como nada em seus olhos. Havia um sinal de que os cristãos primitivos amavam a Deus no fato de as suas propriedades não ocuparem um lugar de proeminência em seus corações; ao contrário, “os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes e depositavam aos pés dos apóstolos” (At 4.35).

Teste o seu amor a Deus por meio disso. O que nós deveríamos pensar acerca daqueles que vivem como se nunca tivessem o suficiente do mundo? Eles têm a “hidropisia da cobiça” (1), vivendo avidamente atrás das riquezas: “Suspiram pelo pó da terra” (Am 2.7). Nunca fale acerca do seu amor por Cristo, diz Inácio, quando você prefere o mundo à Pérola de grande valor; e não é verdade que há muitos assim, que estimam o seu ouro acima de Deus? Se eles têm um terreno fértil, não se preocupam em buscar a água da vida. Eles venderão a Cristo e uma boa consciência em troca de dinheiro. Acaso irá Deus jamais conceder-lhes o céu, a esses que tão baixamente O menosprezam, preferindo o pó cintilante à gloriosa Divindade? O que há de valioso na terra para que depositemos nela o nosso coração? Apenas o diabo nos faz olhar para ela com lentes de aumento. O mundo não possui valor real e intrínseco; tudo não passa de maquiagem e engano.

8. Temor

O próximo fruto do amor é temor. Nos homens piedosos, amor e temor se beijam. Há um duplo temor que emerge do amor.

(i) O temor de desagradar. A esposa ama o seu marido e, por isso, escolhe negar a si mesma ao invés de desagradá-lo. Quanto mais nós amamos a Deus, mais nos tornamos temerosos de entristecer o Seu Espírito. “Como, pois, cometeria eu tamanha maldade e pecaria contra Deus?” (Gn 39.9). Quando Eudóxia, a imperatriz, ameaçou punir Crisóstomo com a pena de banimento, ele respondeu: “Digam a ela que eu não temo outra coisa, senão pecar” (2). Este é um bendito amor que põe no cristão o calor do zelo e o frio do temor, fazendo-o agitar-se e tremer, não ousando voluntariamente ofender a Deus.

(ii) Um temor misturado com ciúme.  “Eli estava assentado numa cadeira, ao pé do caminho, olhando como quem espera, porque o seu coração estava tremendo pela arca de Deus” (1Sm 4.13). Não é dito que o seu coração estava tremendo por Hofni e Finéias, seus dois filhos, mas seu coração tremia pela arca, pois, se a arca fosse tomada, então a glória se apartaria. Aquele que ama a Deus está cheio de temor de que algo vá mal com a Igreja. Ele teme que a profanação (que é a praga de lepra) aumente, que o papismo se estabeleça, que Deus não se aparte do Seu povo. A presença de Deus em suas ordenanças é a beleza e a força de uma nação. Enquanto a presença de Deus está com um povo, tal povo está seguro; mas a alma inflamada pelo amor a Deus teme que os emblemas visíveis da presença de Deus sejam removidos.

Com isso testemos o nosso amor a Deus. Muitos temem ficar sem paz ou sem negócios, mas não temem perder a Deus e o Seu evangelho. São esses amantes de Deus? Aquele que ama a Deus tem mais medo de perder as bênçãos espirituais do que as temporais. Se o Sol da justiça desaparecer do nosso horizonte, o que nos restará, senão escuridão? Que conforto um órgão ou um hino poderão nos dar, se não tivermos o Evangelho? Não seriam eles tão somente como o som de uma trombeta ou uma salva de tiros em um funeral?

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Notas:

(1) Hidropisia é, segundo o Dicionário Michaelis, a acumulação anormal de líquido seroso nos tecidos. Watson usa essa palavra, retirada da medicina, como uma metáfora para referir-se àqueles que, por cobiça, acumulam excessivamente as coisas deste mundo e nunca se saciam.

(2) Aélia Eudóxia, segundo a Wikipedia, era esposa do imperador romano do oriente, Arcádio, e foi imperatriz romana consorte no final do século IV. Ela e João Crisóstomo tiveram diversos conflitos, ao ponto de este compará-la com Herodias, a mulher adúltera que pediu a Herodes a cabeça de João Batista. Esses conflitos resultaram, de fato, na deposição e banimento de Crisóstomo por duas vezes.

Por Thomas Watson. Original: A Divine Cordial By Thomas Watson

Tradução: voltemosaoevangelho.com

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