Vern Sheridan Poythress – Panorama Bíblico Cristocêntrico (3/3)

Cristo como o Último Adão

Cristo não é somente o descendente perfeito de Abraão, mas, antes disso, o descendente da mulher (Gen. 3:15). A vitória sobre a serpente e sobre o mal e a reversão dos seus efeitos tem sua raiz na descendência da mulher. A sua semente é traçada, passando por Eva, Sete, Noé, etc. (Lc 3:23–38). Assim Cristo é também o último Adão (1 Cor. 15:45–49) e, como era Adão, Cristo representa todos os que descendem dele, pela fé.

Sombras, Figuras e “Tipos”

Constantemente o NT fala de Cristo e da salvação. O que não é tão óbvio para as pessoas é que o mesmo é verdade no que diz respeito ao AT. Mas lá isso acontece como antecipação, com sombras e tipos das coisas que virão (1 Cor. 10:6, 11; Heb. 8:5).

Por exemplo, 1 Coríntios 10:6 fala que os eventos que aconteceram com os israelitas no deserto eram exemplos para nós. E 1 Coríntios 10:11 diz, Estas coisas aconteceram como exemplo pra nós, para nossa instrução. Em 1 Coríntios 10:6 e 11, a palavra grega para exemplo é typos, da qual deriva tipo (cf. Rom. 5:14).

Um tipo, na linguagem teológica, é um exemplo especial, símbolo, ou figura que Deus providenciou em direção ao futuro. Sacrifício de animais eram tipos, de Cristo. O templo era a presença de Deus. E Cristo é o cumprimento total desse tipo (Mat. 1:23; Jo 2:21). Os sacerdotes do AT eram tipos de Cristo, o grande sacerdote (Heb. 7:11–8:7).

A consumação tem o seu lugar em Cristo (Ef. 1:10; 2 Cor. 1:20). Mas o NT também fala que aqueles que estão em Cristo, que depositam sua fé nele, recebem os benefícios daquilo que ele consumou. Portanto, podemos achar no AT tipos que se referem à igreja. Por exemplo, o templo prefigura Cristo, cujo corpo é o templo (Jo 2:21), mas prefigura também a igreja, que é chamada de templo (1 Cor. 3:16–17).

Alguns símbolos do AT falam da consumação final que terá lugar nos novos céus e nova terra (2 Pe. 3:13; Ap21:1–22:5). A Jerusalém do AT prefigura a nova Jerusalém que vem da parte de Deus (Ap. 21:2).

Cristo o Mediador

A Bíblia deixa claro que, desde que Adão caiu em pecado, o pecado e suas conseqüências têm sido o maior problema da raça humana. Pecado é rebelião contra Deus e seu salário é a morte (Rom. 6:23). Deus é santo e ninguém pode estar em sua presença sem morrer (Ex. 33:20). Logo, o homem necessita de Cristo como o mediador que responde por ele diante de Deus (1 Tim. 2:5–6). Cristo é tanto Deus quanto homem, mas sem pecado, e é o único suficiente para realizar essa mediação.

Embora haja apenas um mediador em último caso, há vários mediadores representativos no AT: Moisés, por exemplo. (Ex 19). Quando o povo se apavorou da presença de Deus, Moisés intercedeu por ele (Ex. 20:18–21, Deut. 5:28–33).

Mas se o mediador é um só, como Moisés podia ser um? Moisés prefigurava a mediação de Cristo, que o é mediador verdadeiro. Como Moisés era pecador, não poderia estar na presença de Deus sem perdão, isto é, sem ter um mediador ao seu lado. Logo, Moisés pôde estar ali na presença de Deus somente porque, de acordo com o plano de Deus, a obra de Cristo faria expiação pelos pecados de Moisés. Os benefícios da redenção de Cristo foram antecipados a Moisés e assim tem sido com todos os santos do AT. Como eles poderiam ser salvos se Deus exigia perfeição? Deus é perfeitamente santo. A perfeição era graciosamente aplicada a eles por meio de Cristo, que haveria de vir.

Isso significa que existe um só meio de salvação no Antigo e Novo Testamentos. Somente Cristo pode nos salvar (At 4:12) e no AT, salvação vem freqüentemente representada por um mediador, que pode ser uma pessoa ou instituição que fique entre Deus e o homem.

Então, a unidade da Bíblia aumenta quando vemos os casos em que Deus salva seu povo e os casos em que um mediador, no AT fica entre Deus e o homem. Deus traz salvação espiritual na forma de comunhão pessoal, intimidade espiritual, e a promessa da vida eterna com Deus. Não somente casos de salvação espiritual, mas de salvação temporal, num sentido físico, que prefigura a salvação num sentido espiritual. Aliás, salvação não é meramente espiritual. Nós olhamos para a ressurreição do corpo e para os novos céus e nova terra em que habita justiça (2 Pe. 3:13). A salvação pessoal começa com a renovação do coração, mas na sua consumação atingirá dimensões cósmicas. O AT, quanto fala da terra física, prosperidade material e da saúde física, antecipa a prosperidade dos crentes nos novos céus e na nova terra de um ponto de vista físico.

Os casos de mediadores no AT incluem os profetas, reis e sacerdotes. Profetas trazem a palavra de Deus para o povo. Reis, quando se submetem a Deus, trazem o reinado de Deus para o povo. Sacerdotes representam o povo na presença de Deus. Cristo é o Profeta, Rei e Sacerdote que consuma todas estas três funções em um sentido último (Heb. 1:1–3). Podemos observar também os homens sábios, que trazem a sabedoria de Deus para o povo; e os guerreiros, que trazem a libertação dos inimigos; e músicos, que trazem o louvor a Deus no meio do povo, mostrando com música o caráter de Deus.

Mediação ocorre não apenas através de figuras humanas, mas também por meio de instituições. Os pactos dão início a um papel de mediação ao trazer a palavra de Deus ao povo; o templo traz a presença de Deus. O sacrifício de animais traz o perdão de Deus. Ao lermos a Bíblia, vemos todos esses meios de mediação estabelecidos por Deus. E porque há um só mediador, isso significa que todos eles apontam para Cristo.

 

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Por: Vern Sheridan Poythress.

Tradução: Pablo Monteiro, 2011. www.monergismo.net.br