Comparação: Mães em guerra!

Você já ouviu a expressão “guerras maternas”? Popularmente chamadas em inglês de “mommy wars”, não são tão recentes quanto costumamos pensar, mas com a facilidade de acesso à informação, sobretudo nas mídias sociais, atualmente são muito, muito comuns.

Fazendo uma breve pesquisa, descobri que o termo “mommy wars” surgiu no final da década de 70, quando as “mulheres que não trabalham fora” começaram a criticar as “mulheres que trabalham fora” – e vice-versa. Cada uma com seus muitos argumentos e posições, a guerra foi instalada, a princípio sutil, mas depois escancarada, sobre qual o “jeito certo” de ser mulher, esposa e mãe.

Aliás, o assunto “trabalhar ou não trabalhar fora’’ continua em alta até hoje nesse campo de batalha, mas agora existem outros motivos para confusão, veja se reconhece algum:

– Parto normal ou cesárea?

– Parto normal com ou sem anestesia?

– Amamentar ou não? Até 6 meses ou até 5 anos?

– Mamadeiras e chupetas: sim ou não?

– Berço ou cama compartilhada?

– Doces: qual a idade certa?

– Papinha industrializada: alívio na rotina ou veneno?

– Se a mãe não trabalha fora: colocar na escola com qual idade? Aliás: colocar na escola??

– Se a mãe trabalha: escola ou babá?

– Viajar/sair sem as crianças: necessário ou falta de apego?

Enfim, a lista é longa, bem longa. Em parquinhos, salas de espera, salas de amamentação, igrejas, em uma reunião entre amigas, e principalmente, nas redes sociais, um universo de mães parece querer defender sua posição com unhas e dentes.

De fato, essas discussões rendem muito assunto no universo materno, principalmente em terrenos como estes acima, em que várias concepções existem. Sendo assim, corremos um risco enorme de cair num jogo inútil de comparações e, como consequência, descontentamento, orgulho, inveja e tantas outras coisas.

Veja, não é minha intenção defender que não existem absolutos na maternidade, pois eles existem sim, e esse texto tratará disso no final.  Mas, pretendo mostrar que tais absolutos nada tem a ver com as discussões vazias com as quais nos envolvemos ao nos compararmos tanto.

A internet tem sido uma ferramenta incrível para as pessoas se compararem umas às outras, especialmente as mães. E, como boas pecadoras que somos, não nos contentamos apenas em comparar: botamos defeito, invejamos ou detonamos quem faz diferente do que fazemos, seja para “melhor” ou para “pior”.

Não há problema em ler posts e blogs da internet sobre a maternidade ou sobre qualquer outro assunto. O problema é que entramos em pânico e sentimo-nos verdadeiros desastres quando lemos blogs de mães ou vemos postagens no facebook, instagram, pinterest ou qualquer outra rede social!

Sobre comparar-se

Há muitos anos, li uma reflexão em um extinto blog feminino que me chamou a atenção. As autoras trouxeram uma passagem que eu nunca tinha lido direito anteriormente:

“Jesus disse a Pedro: cuide das minhas ovelhas. Digo-lhe a verdade: quando você era mais jovem, vestia-se e ia para onde queria; mas quando for velho, estenderá as mãos e outra pessoa o vestirá e o levará para onde você não deseja ir. Jesus disse isso para indicar o tipo de morte com a qual Pedro iria glorificar a Deus. E então lhe disse: Siga-me! Pedro voltou-se e viu que o discípulo a quem Jesus amava os seguia. (…) Quando Pedro o viu, perguntou: Senhor, e quanto a ele? Respondeu Jesus: Se eu quiser que ele permaneça vivo até que eu volte, o que lhe importa? Quanto a você, siga-me!”  (João 21: 17b-22 – grifo meu)

O contexto é mais ou menos o seguinte: estamos no último capítulo de João, mais especificamente na terceira aparição que Cristo fez aos seus discípulos, depois da ressurreição. Depois de comerem, Jesus perguntou três vezes a Pedro se ele o amava, e depois da terceira resposta afirmativa de Pedro, vem a passagem acima.

Depois de ouvir três vezes que era amado por Pedro, Jesus indicou a ele o tipo de morte com a qual Pedro iria glorificar a Deus. Pedro não deve ter ficado muito contente. Olhou para o lado, e lá estava outro discípulo, o discípulo amado, autor do evangelho em questão. Pedro então rapidamente se volta para Jesus e é como se ele falasse: Senhor, Senhor, e ele hein? O que vai acontecer com ele?? Me conta! Tem que ser uma morte mais escabrosa que a minha, vai… ele não vai se dar melhor do que eu, né? Então, o sábio Mestre Jesus Cristo responde: Pedro, se eu quiser que ele não morra jamais, o que você tem a ver com isso? Cuide da sua vida e siga-me.

Puxa vida, que mensagem mais atual. Nós todos somos incrivelmente tentados a olhar para o lado. “Senhor, e ela hein? Por que com ela não acontece isso? Por que ela conseguiu ter um trabalho de parto em 6 horas e o meu durou 26? Por que eu, que faço tudo tão direitinho, estou passando por essa provação, enquanto ela, que não tem a menor paciência com os filhos, está de férias em Paris pela terceira vez? Por que ela amamenta sempre sorrindo (no instagram) e para mim é esse sofrimento? Por que os filhos dela comem de tudo e os meus seguem resolutos a aceitar apenas macarrão com manteiga?” Senhor, Senhor, e quanto a ela? E quanto a eles??

Comparação: a chave para uma vida descontente

Insistimos em olhar para o lado ao invés de viver a nossa vida. Como se Deus não soubesse o que faz. Como se nós soubéssemos melhor. Como se Ele não tivesse um plano. Como se Ele não estivesse no controle. Como se a nossa vida dependesse do desfecho das demais. Como se Ele não quisesse trabalhar com cada uma individualmente.

Pedro passou por isso. Olhou para o lado e prontamente quis saber: Senhor, e ele hein?! Aí veio o nosso Soberano Deus: O que lhe importa o que vai acontecer com ele, Pedro? Siga-me!

Não é uma resposta aparentemente amável. É um grande “fora”! Uma exortação enérgica e em amor. Pedro precisava de uma palavra dura para entender o quanto sua pergunta estava errada. Depois dessa, Pedro não teria mais o que responder. E nós precisamos nos lembrar dessa resposta! Quando formos tentadas a comparar, a olhar para os lados e questionar, “e ela hein”, “por que ela”, “e com eles, não vai acontecer nada não”, que possamos ouvir a voz enérgica e amável do nosso Soberano Deus dizendo: O que lhe importa? Siga-me!

Não olhe para o lado questionando ou se comparando com outras mães. O que lhe importa? Siga a Jesus Cristo!

O que, afinal, é essencial na maternidade??

Fazer pães caseiros diariamente para os filhos não é requisito de Deus para que sejamos mães piedosas. Costurar e fazer as roupas dos filhos também não. Deus não espera que as mães comprem apenas alimentos orgânicos, façam scrapbook, jardinagem, façam uma horta ou nunca jamais deem comida industrializada para os filhos.

Repito, não há absolutamente NADA errado em nada disso, mas admita: na descrição bíblica do seu papel de mãe, não existe nenhuma dessas coisas. Ou seja, no fundo, no fundo não é essencial. Eu sei, isso choca. Mas, admita: não é.

Se formos olhar na Bíblia, o essencial é simples. Muito, muito simples. E por isso é que parece pouco! Aí, criamos demandas a mais, nos sobrecarregamos por acharmos que temos que dar conta de todas elas, perdemos o foco do que realmente importa, ficamos exaustas, e não fazemos o que Deus pede!

Entendo, pelas passagens abaixo, que Deus nos dá três absolutos para a maternidade, e que Ele também as elenca em ordem de prioridade:

“Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força” (Marcos 12:30)

“[…] amarem ao marido e a seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a palavra de Deus não seja difamada” (Tito 2:4-5)

Ame a Deus. Isso significa que, por amá-lo, você se empenha em encontrar algum tempo durante o dia para encontrar-se com Ele. Ter seu tempo a sós com Deus, ler a Sua Palavra, orar, adorá-lo, entregar a Ele seus anseios e preocupações. Não precisa ser antes de seus filhos e marido acordarem. Não precisa ser antes do nascer do sol, de madrugada. Seu papel é amar a Deus. Como você vai fazer e demonstrar isso pode ter milhões de jeitos diferentes. Encontre o que se encaixa na sua rotina e faça disso uma prioridade. Faz parte do papel!!

Ame seu marido.  O segundo essencial na maternidade é amar o marido. Nossa sociedade é acostumada a dizer “deem a vida por seus filhos, porque os maridos se vão, mas os filhos é que ficam”. Lembrem-se: Deus não nos torna uma só carne com nossos filhos, mas com nossos maridos. Viu como Ele realmente espera de nós uma prioridade diferente? Então, ame seu marido. Os maridos também devem fazer o mesmo por suas esposas, mas isso é assunto para outra pessoa escrever. Se ele realmente gosta de pão caseiro, talvez seja mesmo uma boa você se esforçar em aprender para fazer para ele. Mas não faça pão em casa simplesmente porque viu outras mães postando foto dos seus pães e banquetes no Facebook. Amar o marido é essencial e no meu caso especificamente, um pão francês fresquinho da padaria faz muito mais por ele do que eu me atrever a fazer um pão em casa!! Conheça o seu marido e esforce-se em amá-lo mais e mais, a cada dia. Pare por um momento e reflita: o que mudaria no seu estilo de maternidade se você considerasse o seu marido como prioridade acima dos seus filhos? De forma curiosa, você deve se tornar uma mãe melhor pois essa é ordem de prioridade que Deus colocou em Sua Palavra.

Ame seus filhos. Em terceiro lugar, e também algo essencial e inegociável, mas que vem depois de Deus e do cônjuge. Seu papel e chamado como mãe é amar seus filhos e ensiná-los a amar a Deus. Para isso, empenhe-se ao máximo! Eles não precisam falar latim e alemão antes dos seis anos. Se eles aprenderem, parabéns hein?! Mas isso é um bônus, não faz parte da descrição do seu trabalho. Seu papel é “simplesmente” amá-los de todo o seu coração, e ensiná-los os caminhos do Senhor. Não acrescente a esse absoluto outras coisas extravagantes, que vão tornar sua vida ainda mais difícil e estressante. Se você quiser ensinar seus filhos a costurar, ótimo. Mas não se entupa de culpa se eles não estiverem fazendo as próprias roupas aos 11 anos. Lembre-se, não é essencial (U-F-A).

Acredito que a combinação dessas três prioridades, inegociáveis aos olhos de Deus, podem assumir as mais diferentes configurações na nossa vida cotidiana. Culturas diferentes, condições socioeconômicas diversas, gostos e preferências pessoais, tudo isso influencia a forma como a sua e a minha família irão funcionar.

E isso é libertador! A maternidade vivida com liberdade é aquela cujo foco não está no meu desempenho como mãe, nem em como estou comparada às outras mães, muito menos nos métodos que escolho. As comparações nos aprisionam e roubam a nossa alegria; a dependência a Deus nos liberta para segui-lo da forma particular que Ele desenhou para cada uma de nós!

Mães, Jesus quer que descansemos nele. Ele quer que as mães relaxem! Seu fardo é suave e seu jugo é leve. Não gastemos nosso tempo e energia nos comparando a outras mães. Não tentemos ser algo que Deus não nos chamou para ser.

Ame a Deus, ame seu marido, ame seus filhos. Já vai dar bastante trabalho, pode ter certeza. Que Ele nos ajude a focar no que é essencial.

Por: Ana Mendes Castillo (Naná). © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Original: Comparação: Mães em guerra!