No meio do caminho

Você já passou por uma situação na vida em que você acha que está caminhando meio em “stand-by”? Uma situação provisória, que talvez você sinta, de forma explícita ou não, que está colocando a sua vida “em espera”?

Eu já. Mais de uma vez. Na verdade, acho que estou passando por mais uma agora.

Quem me conhece e acompanha há um tempo sabe que eu já me mudei seis vezes. E, não paramos ainda.

Estamos numa situação transitória, morando em um apartamento bem pequeno, que era para ser provisório, mas esse provisório completou dois anos em fevereiro. Temos planos, sonhos e metas, mas estão todos em suspenso por enquanto.

Tentei sair dessa situação provisória no começo desse ano. Fui empenhada procurar uma casa maior para morar, colocamos o nosso apartamento à venda, visitei 24 (isso: vinte e quatro) imóveis para alugar, mas situações diversas impediram que isso acontecesse, e entendemos que devemos ficar nesse apartamento por mais um tempo. Quanto tempo? Não sei. Não sei mesmo dizer. Muitos entraves me impedem de responder essa pergunta com exatidão, e isso aumenta a minha sensação de que, de certa forma, estamos assim meio “em espera”: “quando eu resolver onde vou morar, aí eu vou…”

Enfim. Estou me sentindo “no meio do caminho”. Sabe essa sensação? Quando você já saiu de algum lugar, mas ainda não chegou onde pretende?

Assim estava também o povo de Israel, quando saiu do Egito, e acampava no deserto a caminho da terra prometida, sob a liderança de Moisés. Ali no deserto, enquanto o povo de Israel também estava no meio do caminho, muitas coisas aconteceram, e lendo Números 11 (Eu recomendo que você leia esse capítulo da Bíblia!!), percebi que tenho muitas lições a aprender com eles.

Aprendi que a gente sempre sai super empolgada de um lugar em direção a outro, mas é no meio do caminho que a nossa fé é mais provada. É verdade mesmo! Quando decidimos mudar para esse apartamento, eu estava muito, muito animada. Eu finalmente pararia de pegar tanta estrada todos os dias (e parei). As crianças teriam mais qualidade de vida (e tem!). Eu também teria (e tenho). Seria muito mais fácil conciliar o trabalho com o cuidado da casa e da família (e é! Muito mais fácil mesmo). Teríamos uma boa igreja por perto, com possibilidades de entrosamento e ministério (e temos! Quantos amigos fizemos aqui, quantas pessoas especiais, quantas oportunidades de ministério!). Foi muito bom mudar para cá! Entretanto, a situação provisória trouxe também suas demandas e desgastes, e eu aqui, no meio do caminho, estou tendo a minha fé provada mais uma vez, e preciso tomar muito cuidado.

Aprendi com o povo de Israel que o meio do caminho é um lugar onde eu serei bastante propensa a murmurar!  Sei que posso ser tentada a olhar pra trás e pensar, “puxa, por que eu fui sair de onde eu estava, o apartamento era nosso, o gasto era menor, etc.” Sei inclusive que posso ser tentada a murmurar dizendo que sinto falta de coisas que, enquanto eu estava lá, eu não gostava! O povo de Israel fez isso no deserto!! Reclamou do maná (provisão de Deus), com saudade de coisas que provavelmente eles não tinham livre acesso enquanto cativos no Egito (alho-poró, melancia, carne, alho… gente, os escravos comiam tudo isso??). Sei que faço isso no meio do caminho também. Reclamo, e reclamo, e reclamo… toda vez que saio da minha zona de conforto. Pior: às vezes, tão cega no meu descontentamento, reclamo de um jeito que reflete uma imagem distorcida da realidade (como os escravos, que comiam iguarias do faraó… só que não).

Mas o meio do caminho também é um lugar em que a correção de Deus se manifesta de forma assombrosa na vida de seus filhos. Deus quer que eu viva para agradá-lo, independente das minhas circunstâncias. Se eu começo a murmurar o tempo todo no meio do caminho, não só a jornada se torna mais longa, como também duvido da bondade e do caráter de Deus, pois as minhas murmurações mostram quem eu realmente acho que tem razão: EU, EU, e EU. Mas Deus, que é fiel a si mesmo e não pode negar o seu caráter, me corrige nesta hora, assim como corrigiu o povo no deserto.

De tanto reclamar do maná e pedir carne, Deus literalmente deu carne ao povo. MUITA CARNE! Até eles não aguentarem mais. Até que o povo visse que quem estava no controle REALMENTE estava no controle de tudo. Aprendi com o povo no deserto que, se eu achar que meus caminhos e minhas soluções são melhores do que as de Deus, ele prontamente me corrigirá este pensamento orgulhoso e pecaminoso. E que eu posso confiar no tempo perfeito de Deus para atingir todos os propósitos que ELE tem para a minha vida.

Por último, aprendi que o meio do caminho também é um lugar em que a provisão de Deus é certa. Eu não sei de nada ainda, mas eu sei quem está indo na frente!!!!E isso é suficiente. Deus provê. Deus não falta. Não falha. Não enxerga como o homem, e graças a Deus por isso. O desenrolar da história ainda é incerto para mim. Mas, a cada dia, as coisas vão se ajeitando, creio nisso!!! Creio nisso porque Deus é assim… Ele supre. Sempre supriu! Ele não fará de novo? Claro que fará!

Assim como fez ao povo no deserto. Mesmo Moisés sendo teimoso (como eu), medroso (como eu) e ter ficado por várias vezes muito nervoso (como eu), Deus mostrou sua provisão para com ele e com o povo por várias vezes. Várias. Com o maná. Com 70 conselheiros para ajudar Moisés a dirigir o povo. Até mesmo na hora da “bronca”, mandando carne em abundância para o meio do deserto para o povo literalmente se encher de carne e parar de reclamar! Deus provê. Ele é assim.

Estou no meio do caminho. Talvez você esteja também. Em transição de algum lugar para outro, de um estado civil a outro, de uma carreira a outra, de um país para outro, de uma função a outra. Que vençamos a tentação de murmurar, usando como antídoto a certeza do cuidado amoroso e da provisão de Deus, que vem na hora certa, no tempo certo e do jeito certo.

Ah! Sabe essa sensação que eu falei lá no começo? Quando você já saiu de algum lugar, mas ainda não chegou onde pretende? Então. Aprendi também que o lugar em que eu pretendo chegar talvez seja simbólico perto dos propósitos que Ele tem para mim: de me santificar, me tornar mais parecida com Cristo. Quando entendo que minha linha de chegada é essa, e não a solução de questões dessa vida, a caminhada aqui toma um sentido e um rumo totalmente diferente, não?  Como diz uma música que gosto muito do Carlos Sider, “é como se vai, e não onde se está”.

O mesmo Deus que nos dirigiu até aqui é o Deus que vai prover daqui para frente! E corrigir, sempre que necessário, para me ver conforme à imagem do Seu Filho.

E isso é tudo que eu preciso saber.

Por: Ana Márcia Castillo. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Original: No meio do caminho.