Uma taxonomia de pastores em risco

Durante uma aula do ministério pastoral no seminário, meu professor abordou a tragédia dos pastores que cometeram imoralidade sexual. Ainda me lembro dos conselhos que ele nos deu para evitar esse fracasso moral: “O primeiro passo para se proteger contra um caso é admitir que você é capaz de ter um caso”. Ai.

Essa admoestação também se aplica ao desgaste pastoral. O primeiro passo para se proteger contra o esgotamento é admitir que você pode, de fato, se esgotar. Até os jovens se cansam e desanimam, e até pastores bons podem se esgotar. Todos nós temos um ponto de ruptura. Alguns pastores têm mais resiliência e capacidade do que outros, mas ninguém está imune a um profundo esgotamento emocional e espiritual.

Neste artigo, quero ajudar-nos humildemente a enfrentar o perigo de esgotamento no ministério, considerando algumas formas específicas pelas quais podemos estar em risco. Às vezes, a ameaça de colapso vem de circunstâncias externas. Outras vezes, surge internamente de nossas próprias fraquezas. Provavelmente, a maioria dos casos de esgotamento inclui ambos.

Considere estas cinco categorias de pastores em risco:

#1: O pastor solo

Você pastoreia sozinho? Você é o único pastor pago em sua igreja? Talvez você trabalhe com uma junta de diácono leigos ou com o conselho da igreja, mas quando você vem trabalhar todos os dias, não há ninguém lá, exceto a secretária de meio período. O escritor de Eclesiastes resumiu bem o seu risco de esgotamento:

“Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante”. Eclesiastes 4. 9–10

O pastor solitário se esvazia levantando todos os outros. Mas quem o levanta? O ministério é muitas vezes confuso, desanimador e doloroso – e enfrentá-lo sozinho pode ser uma receita para o esgotamento.

Quando olho para a minha própria carreira pastoral, uma das minhas maiores alegrias tem sido o relacionamento com outros pastores e funcionários da igreja. Meus colegas de trabalho me deram amizades seguras para desabafar e rir. Eles me ajudam a resolver problemas, cumprir tarefas, neutralizar conflitos e avaliar o ministério. O pastor solo não tem essas parcerias no dia-a-dia.

Como pastor solo, você pode atenuar seu risco de esgotamento buscando relacionamentos estimulantes com colegas, sempre que possível. Encontre-se semanalmente com outro pastor de sua cidade. Trabalhe com sua igreja para trazer um seminarista. E o mais importante, leve sua igreja a adotar presbíteros leigos. O plano de Deus para a igreja local e para você inclui uma equipe de pastoreio (At 14.23; Tt 1. 5).

Aliás, aqui está outra reviravolta no pastoreio solo. Alguns pastores realmente têm funcionários e presbíteros, mas eles são funcionalmente solitários porque se isolam. Eles não têm amizades reais e ninguém os conhece verdadeiramente.

Você é funcionalmente solo? Se você estivesse desmoronando ou sendo pego pelo pecado, alguém perceberia isso?

#2: O pastor do silo

Não são apenas pastores solitários de pequenas igrejas que enfrentam o esgotamento. Conheça o “pastor do silo” na grande igreja da rua. Ele é um associado ou pastor assistente que supervisiona um programa bem definido (também conhecido como ministério “silo”). Ele pode ser o pastor de solteiros ou o pastor de missões ou o pastor associado do ministério de jovens e famílias. Ele é tipicamente visto como um “especialista” que lidera o ministério para um grupo demográfico específico da igreja.

Soa bem, certo? Quem não gostaria de ter a chance de participar de uma grande equipe em uma grande igreja? Quem não gostaria da responsabilidade de administrar um departamento importante?

Contudo, ironicamente, esse mesmo silo pode às vezes parecer menos uma oportunidade e mais como uma prisão. O pastor do silo pode ser rotulado. Ele tem o coração e o chamado de um pastor, mas ele não tem muitas chances de ter deveres pastorais, como pregar, aconselhar, fazer um funeral ou participar de um encontro de presbíteros, porque ele é “apenas” o pastor de um grupo. Como o gerente corporativo de nível médio que se sente como se fosse uma engrenagem substituível em uma grande máquina, o pastor especialista pode ter a sensação de que ele está lá apenas para manter um programa em funcionamento e bem atendido.

E isso pode sugar lentamente a vida de você.

Pastor do silo, continue crescendo. Não desista e viva. Leia. Busque uma graduação. Aproveite as oportunidades para colaborar com outros funcionários em outros ministérios. Peça e implore à sua liderança sênior por oportunidades para tarefas pastorais fora de sua rotina.

E pastores e presbíteros mais velhos, o que você está fazendo para ajudar sua equipe a crescer? Você está cuidando de suas almas? Você está desencorajando-os – ou você está desenvolvendo-os?

#3: O superpastor

O “superpastor” faz tudo isso. Ele participa da maioria das reuniões do comitê, lidera vários estudos bíblicos, analisa a maioria das decisões, atua como líder denominacional, edita todas as publicações da igreja e verifica constantemente seu smartfone em busca de mensagens, e-mails e telefonemas sobre coisas da igreja. Ele trabalha um pouco no seu dia de folga e nunca usa todas as suas férias. Ministério é sua paixão, seu hobby, sua identidade, sua vida.

Superpastores obtêm sua superforça para o seu movimento perpétuo de diferentes fontes. Alguns são alimentados pelo desejo de agradar as pessoas. Outros são incontrolavelmente impelidos por sucesso e significado, de modo que mantêm blogs, lançam ministérios e catalisam movimentos. Ministério é a sua máxima.

Outros tipos de superpastores também existem. Existem superpastores superespirituais que são tão radicalmente devotados a Deus e que veem fazer qualquer coisa fora do ministério como um esgotamento. Da mesma forma, os superpastores perfeccionistas se esforçam, e todos ao seu redor, a buscar padrões quase inatingíveis em nome de “dar o melhor ao Senhor”. E não se esqueça dos superpastores salvadores, que sentem uma obrigação esmagadora de resolver os problemas de todos. e atender às necessidades de todos.

Embora os superpastores voem alto, eles geralmente quebram – porque nenhum de nós pode fazer tudo. Nenhum de nós pode manter todos felizes. Nenhum de nós pode consertar tudo. Eventualmente, algo dá errado, e o herói se esgota. E, infelizmente, muitas vezes é a família do superpastor que paga o maior preço.

Você é um “viciado em trabalho” no ministério? Sua esposa concorda com a forma como você respondeu a essa pergunta?

#4: O pastor pragmático

Estou bastante familiarizado com este porque me considero um pastor pragmático em recuperação. Você pode até ler um artigo sobre minhas experiências aqui (em Inglês) .

O pastor pragmático está empenhado em fazer “tudo funcionar” para alcançar as pessoas. Em vez de tomar decisões sobre o ministério com base nas Escrituras, ele devora o último best-seller escrito pelo pastor da igreja que mais cresce. Ser um pastor pragmático significa perseguir tendências, conduzir pesquisas, rastrear números, observara outras igrejas, participar de conferências de ponta, permanecer tecnologicamente esclarecido e sempre reinventar coisas nessa indescritível busca para descobrir o que “funciona”.

Eu achei o caminho pragmático exaustivo. Estava me esgotando. Eu tinha essa sensação incômoda de que estava sendo levado pelos ventos da sabedoria humana, em vez de guiar a igreja pela bússola da Palavra de Deus. Mas quando parei de perguntar: “O que funciona”? E comecei a perguntar: “O que as Escrituras dizem?” Descobri um grande incentivo para o ministério. Você pode resistir a muitas decepções e sofrimentos no trabalho pastoral, sem se esgotar, quando sabe que sua tarefa é simplesmente ser fiel ao que Deus já disse na Bíblia.

Qual é a sua filosofia de ministério? Ela pode sustentar você por um longo tempo?

#5: O pastor em apuros

Uma das causas mais comuns de esgotamento é o conflito. Alguns oponentes persistentes podem roubar a alegria do trabalho pastoral. Eu nunca deixei de me surpreender com a forma como um detrator crítico em uma manhã de domingo pode anular uma dúzia de palavras encorajadoras.

Você está em uma igreja que tem muita oposição? Você está resistindo a uma tempestade de ataques públicos? Sua equipe está dividida? Talvez você esteja trabalhando para trazer a reforma necessária. Infelizmente, nem todos concordam que a igreja precisa mudar, e agora os dissidentes estão se organizando.

Tome cuidado especial para vigiar sua alma nessas temporadas de conflito. Você pode facilmente se esgotar. É hora de jejuar e orar. Busque o conselho divino. Discipline-se a gastar mais tempo derramando-se sobre a Palavra de Deus, em vez de ficar relendo aquele e-mail forçado de você sabe quem.

Força na Fraqueza

Como você está em relação ao risco de esgotamento? Você está animado e feliz, ou está em uma grande crise tentando fugir de renunciar e talvez até deixar o ministério completamente? É uma pergunta humilhante porque nenhum de nós gosta de admitir nossa fragilidade. Pastores deveriam ser sempre confiantes, certo?

E, no entanto, ironicamente, é quando confessamos e abraçamos nossa fraqueza em Deus que encontramos nossa verdadeira força.

De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte. 2Coríntios 12. 9–10.

Reset

Vivendo no ritmo da graça em uma cultura estressada

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Confira

Por: Jeramie Rinne. © 9Marks. Website: 9marks.org. Traduzido com permissão. Fonte: A Taxonomy of At-Risk Pastors.

Original: Uma taxonomia de pastores em risco. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Tradução: Paulo Reiss Junior. Revisão: Filipe Castelo Branco.