A igreja e a evangelização: o culto deve ser evangelístico?

Um padrão comum do domingo do século XX para muitas igrejas era um culto de adoração pela manhã e um serviço do evangelismo à noite. No final do século, seguindo Bill Hybels de Willow Creek, esse padrão foi modificado para manter um “Seeker Service” (Serviço para o Cliente) na parte da manhã, quando os não-cristãos estão mais propensos a participar e um ministério no meio da semana para os cristãos.

Deixando de lado a questão controversa da relação entre igreja e adoração, qual é a relação entre igreja e evangelismo? A igreja é voltada para não-cristãos, para cristãos ou ambos? Nós mantemos a igreja para evangelizar? Devemos adaptar a igreja para ser acolhedora e acessível aos não-cristãos? Devemos adaptar a igreja à cultura não-cristã ao nosso redor? As estratégias de “crescimento da igreja” e “plantação de igrejas” são estratégias evangelísticas?

Parte da questão geral da relação entre igreja e evangelismo são questões a respeito de se deveríamos ter igrejas direcionadas a um grupo demográfico em particular e assim se tornarem homogêneas. Deveria haver igrejas “étnicas”? O ministro é o pastor da congregação ou o evangelista da paróquia? Nós direcionamos a escola dominical para as crianças da congregação ou para os filhos da comunidade? O pertencer precede o crer? A participação na comunidade de fé é mais importante que a compreensão pessoal? A igreja nos dá a palavra de Deus ou a palavra de Deus nos dá a igreja?

Ao trabalhar a relação entre igreja e evangelismo, não somos ajudados pela palavra “igreja”. Ela está carregada com a bagagem de dois mil anos de história; há pouco acordo sobre o seu significado. Definir a igreja é quase uma questão de política – é mais sobre reivindicar os títulos de propriedade da palavra do que esclarecer o significado. As definições da igreja frequentemente fazem pouco mais do que indicar a ortodoxia da peculiaridade do definidor.

Na Bíblia, a igreja é a reunião dos salvos em torno de Cristo para ouvir obedientemente a sua palavra e responder com amor ao serviço uns aos outros. Aqui estão dez proposições sobre a relação entre igreja e evangelismo.

  1. A igreja é edificada sobre o Senhor Jesus Cristo e o ministério apostólico da palavra de Deus. É a reunião daqueles que são salvos pela palavra de Deus. Portanto, não é uma reunião de incrédulos nem uma reunião para eles.
  2. Incrédulos podem estar presentes porque a igreja não é conduzida como uma reunião fechada, privada ou exclusiva (1Co 14.23).
  3. As atividades da vida da igreja devem sempre ser edificantes (1Co 14.26). A edificação acontece tanto para o cristão individual como para toda a congregação em Cristo (Ef 4.11).
  4. A palavra do Evangelho que converte os incrédulos é a mesma palavra que edifica a igreja e edifica os crentes. O cristianismo não tem duas mensagens: uma para os incrédulos e outra, ou uma adicional, para os crentes. Incrédulos que frequentam uma igreja bíblica ouvirão as boas novas salvadoras de Jesus.
  5. A filiação à igreja é o resultado do evangelismo. Portanto, as igrejas devem ser sempre abertas e acolhedoras aos novos cristãos. Isso significa que uma congregação madura será flexível e acolhedora para com os que são novos e ainda fracos em sua fé (Rm 14; 1Co 8).
  6. Uma Igreja edificada é sagrada, santificada e diferente do mundo, tendo membros que sejam semelhantes a Cristo em caráter e vida. Tais membros estão todos comprometidos com a salvação da humanidade, pois essa foi a própria missão do Cristo (1Tm 1.15). Um santo amontoado de pessoas, não comprometidas com o evangelismo mundial, não é sagrado, pois seus membros não são como Cristo.
  7. No Novo Testamento, o foco e a dinâmica de crescimento não são na igreja, mas na palavra do evangelho. É pela forma como a palavra é ensinada e explicada que as pessoas são salvas e a igreja cresce espiritualmente e numericamente.
  8. O evangelismo nem sempre tem que ser pessoal, privado e individual. Não há nada intrinsecamente errado em os cristãos organizarem o evangelismo corporativo. Um grupo de cristãos pode realizar eventos evangelísticos e certamente não há nada de antibíblico em pregar para uma multidão. Enquanto as reuniões evangelísticas se concentram em proclamar a palavra de salvação de Deus, elas não são a reunião do povo de Cristo, mas dos incrédulos. Então elas não se encaixam na definição acima de igreja. Infelizmente, no entanto, algumas reuniões evangelísticas são mais igreja do que as chamadas igrejas onde a palavra do evangelho não é pregada.
  9. Plantar e desenvolver mais igrejas para pregação do evangelho é uma estratégia fundamental da evangelização mundial. É pela forma como o evangelho é pregado que as igrejas vêm à existência. É pela forma como as igrejas crescem à semelhança de Cristo que os membros estarão olhando para fora para a salvação dos outros, abertos a novos cristãos que vão chegando e dando boas-vindas aos não-cristãos que estão entre eles.
  10. O desenvolvimento e plantação de igrejas podem ser uma distração do crescimento do evangelho e do evangelismo. Frequentemente o crescimento da igreja significa pouco mais do que “minha igreja crescendo” – assim como a plantação de igrejas pode ser simplesmente um egoísta iniciando sua própria igreja. Tal crescimento e plantação podem vir às custas de outras igrejas, sem que nenhum evangelismo aconteça ou novas pessoas sejam salvas. É mais importante alcançar um número crescente de pessoas na comunidade com as boas novas salvadoras de Jesus do que simplesmente cultivar ou plantar igrejas.

O evangelismo leva ao crescimento e plantação da igreja que, por sua vez, se a igreja for edificada pelo evangelho, levará a mais evangelização. Mas a iniciativa é evangelismo, e são os membros da igreja edificados que vão realizá-lo na comunidade.

Por: Phillip Jensen. © phillipjensen.com. Traduzido com permissão. Fonte: Evangelism and Church.

Original: A igreja e a evangelização: o culto deve ser evangelístico? © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Tradução: Paulo Reiss Junior. Revisão: Filipe Castelo Branco.