Teologia para a glória de Deus

O estudo teológico não como um fim em si mesmo

O estudo de teologia nunca deve se tornar um fim em si mesmo. O objetivo da sã doutrina nunca é o de produzir pessoas que têm suas cabeças cheias, mas corações vazios e vidas estéreis. O propósito da teologia reformada nunca é produzir os “eleitos gelados”. Ao contrário, o conhecimento de Deus e de Sua verdade tem a intenção de nos levar a conhecê-lo e adorá-lo. O ensino da Escritura é dado para inflamar nossos corações com devoção por Deus e nos impulsionar a viver para Ele. Em suma, uma teologia robusta deve produzir uma doxologia vibrante.

Estudamos teologia não para sermos educados por conta de aparências. A teologia é meramente um meio para o mais elevado fim. Estudamos a verdade sobre Deus para conhecê-lo melhor e para que nos tornemos maduros. A teologia renova nossas mentes. Inflama nossos corações. Eleva nosso louvor. Direciona nossas orações. Humilha nossas almas. Ilumina nosso caminho. Energiza nossa caminhada. Afia nossos ministérios. Fortalece nosso testemunho. Teologia faz tudo isso, e muito mais. Cada aspecto dessa busca de vida traz glória a Deus.

Devemos glorificar a Deus em “tudo” que fazemos. Paulo escreve, “quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (1 Co. 10:31). Esta ordem de honrar a Deus inclui até mesmo o estudo de teologia. O apóstolo avisa: “O saber ensoberbece” (8:1) se não levar a amar a Deus e os outros. Devemos estudar a “fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (Judas 3) a fim de chegar ao “pleno conhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor” (2 Pedro 1:2). Esta verdade, por sua vez, nos levará a dar a Ele a glória devida ao Seu nome.

Um versículo importante torna essa verdade especialmente clara. Paulo escreve: “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém” (Rm. 11:36). Esta confissão conclui o ensino mais profundo de Paulo sobre a salvação de pecadores que estão perecendo. Paulo havia exposto as grandes doutrinas da condenação, justificação, santificação, glorificação e eleição e então ele irrompe neste louvor fervoroso a Deus. Que nós consideremos cuidadosamente esta doxologia e imitemos a resposta do apóstolo de dar glória a Deus.

O versículo começa com três frases preposicionais “dele e por meio dele e para ele” seguido por três palavras que incluem tudo, “são todas as coisas” (Rm. 11:36). Aqui está a frase mais compreensiva já escrita. Esta é uma cosmovisão cristã completa. É quase uma teologia sistemática em si mesma. Aqui está o enredo de toda a Bíblia em poucas palavras. Esta é a história do mundo em poucas palavras. Não há nada que se encontre fora dos parâmetros desta tríade de frases. “Todas as coisas” inclui tudo em três grandes áreas: criação, história e salvação.

Primeiro, o apóstolo escreve que todas as coisas são “dele.” Isto aponta de volta a eternidade passada, quando Deus projetou Seu plano mestre para tudo que viria a acontecer. Deus é o “Autor” de Seu eterno propósito (“dele”), o que inclui tudo que irá ocorrer. Antes da fundação do mundo, Deus desenhou o projeto para toda a criação, incluindo as especificações detalhadas da terra (Jó 38 39). Além disso, esboçou Seu decreto eterno que inclui tudo que iria acontecer no tempo (Is. 47:8-9). Há muito tempo, Deus escolheu Seus eleitos (Rm. 8:29; Ef. 1:4; 2 Ts. 2:13). Posteriormente confiou eles ao Seu Filho para assegurar a salvação deles (João 6:37). Todo este pré-planejamento da criação, história e salvação é “dele.”

Segundo, Paulo afirma que todas as coisas são “por meio dele.” Isso significa que, dentro do tempo, Deus realiza “todas as coisas” que planejou. Ele é o Criador que trouxe o universo à existência por meio de Sua fala (Gn. 1:1; Sl. 33:6-7) e que continuamente o sustenta pelo Seu poder (Cl. 1:16; Hb. 1:2). Além disso, Ele preside sobre todos os assuntos da providência, operando todas as coisas de acordo com o conselho de Sua vontade (Ef. 1:11). Ele nunca se desvia de Seu plano original a fim de adotar uma estratégia alternativa. Nada acontece, nem mesmo o menor movimento, à parte de Seu propósito soberano (Pv. 16:33; Mt. 10:29). Coisas como boa sorte, azar, acontecimentos aleatórios, ou destino não existem. Além disso, a obra de Deus na salvação de todos Seus eleitos é integralmente eficaz. Operando através de Seu Filho e do Espírito Santo, Deus convence do pecado, chama, atrai, regenera, santifica, preserva e glorifica todos os Seus escolhidos (Jo. 6:37-40, 44; Rm. 8:29-30).

Terceiro, Paulo então escreve que “todas as coisas” são “para ele.” Isto assevera que Deus direciona tudo para Sua própria glória. O mais elevado propósito do mundo é exibir a majestade de Deus (Sl. 19:1). Tudo que Ele orquestra dentro da história é para demonstrar a grandeza do Seu nome (Is. 48:11). Tudo que Ele faz na salvação para resgatar pecadores que estão perecendo é para o louvor da glória de Sua graça (Ef. 1:3, 6, 12, 14). Tudo tem esse mais elevado fim: soli Deo gloria, para a glória de Deus somente.

Tudo é “de” Deus, procedente de Sua soberana vontade na eternidade passada. Tudo é “por meio” dele, realizado pela Sua soberana ação dentro do tempo. Tudo é “para” Ele, promovendo Sua soberana glória por todo o tempo. O que Ele tiver planejado e predestinado, Ele opera e preserva para o Seu propósito e prazer.

Paulo então afirma que é essa teologia transcendente e “somente” essa teologia que produz a seguinte doxologia: “A ele, pois, a glória eternamente. Amém.” Aqui, essa elevada doutrina sobre Deus leva a nossa profunda devoção a Ele. Aquele que criou e controla todas as coisas, que converte todos Seus eleitos, merece todo o louvor. Nenhuma glória pertence ao homem. Nem deve ser dividida entre Deus e o homem. Nosso Deus zeloso não compartilhará Sua glória com outro (Is. 42:8).

A palavra “glória” (Grego doxa) inclui o significado de “uma correta opinião ou estima sobre alguém.” Ela carrega a ideia da reputação que alguém tem. De doxa nós derivamos nossa palavra no português ortodoxia, que significa uma crença correta sobre algo. Indica a honra devida a uma pessoa de alto nível. Quanto maior a pessoa, maior ela deve ser reverenciada. De forma similar, quanto mais estudamos teologia, mais elevada será a nossa visão de Deus. Por sua vez, mais o louvaremos.

A Bíblia fala sobre “glóriade duas formas diferentes que precisam ser distinguidas. A primeira é a glória “intrínseca” de Deus. Essa é a soma e substância de tudo que Deus é. Essa glória representa todo o Seu ser divino. Isso inclui todas as perfeições de Seus atributos divinos. A glória intrínseca é para sempre a mesma, nunca aumenta ou diminui. De eternidade a eternidade, Deus é, aquele “que era, que é e que há de vir” (Ap. 4:8). Não podemos dar a Deus glória intrínseca. Não podemos adicionar ou subtrair de quem Deus é.

A Bíblia também fala de Sua glória atribuída. Essa é a única resposta correta para a contemplação de Sua glória intrínseca. Essa é a glória que devemos dar a Ele. Quanto mais apreendemos a glória intrínseca de Deus, mais iremos atribuir glória a Ele. Quanto maior seja o nosso conhecimento de Deus, maior será nosso louvor a Ele. Uma visão elevada de Deus invocará um louvor elevado a Ele. A pessoa que cresce em conhecer mais profundamente a Deus o louvará mais fervorosamente.

Essa glória deve ser dada a Deus “para sempre”, ou literalmente “pelos séculos.” Paulo reconhece que nunca haverá um momento no tempo ou na eternidade no qual ele não estará dando glória a Deus. Essa é a sua preocupação presente e será sua paixão motriz ao longo dos séculos vindouros. Esse é o propósito definitivo para o qual Ele foi criado.  E é por isso que existimos. Devemos ser consumidos por viver para a glória de Deus, tanto agora e para sempre.

Nunca iremos parar de louvar a Deus, porque Ele é imortal e nunca chegará a um fim: “Assim, ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém!” (1 Tm. 1:17). “Glória” será “para sempre” dada a Ele, porque Ele reinará supremamente como Rei pelos séculos vindouros.

A última palavra desse versículo é a afirmação final de Paulo sobre a teologia que acabou de ensinar. Ele conclui, “Amém!”. Esse é um retumbante, “É verdade.” Em outras palavras, “É correto”; “Que assim seja”; “Sim!”. A teologia deve produzir essa resposta fervorosa em nossos corações. Essa verdade sobre Deus deve criar esse tema dominante e central na vida. Essa deve ser nossa maior pulsação e mais forte paixão. Esse deve ser nosso mais profundo zelo e motivação mais elevada. Devemos viver e morrer e então viver para sempre para a glória de Deus.

Que o nosso estudo de teologia seja para a glória de Deus. Que Ele nos leve a dar a Ele o louvor que pertence somente a Ele. Amém.

Por: Steven Lawson. © Ligonier Ministries. Website: ligonier.org. Traduzido com permissão. Fonte: Teologia para a glória de Deus. Tradução: Alex Motta. Revisão: Renata Gandolfo. Editor: Vinicius Lima.