O argueiro e a trave (Lucas 6.42)

 

Como poderás dizer a teu irmão: Deixa, irmão, que eu tire o argueiro do teu olho, não vendo tu mesmo a trave que está no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão. (Lc 6.42)

 

Lembro-me de uma vez que, sentado diante da carteira enquanto fazia uma prova, virei o papel e imediatamente comecei a olhar em volta para ver se todos os outros se sentiam tão mal com a primeira questão quanto eu. Então fiquei surpreso com a exortação do professor: “Não perca tempo olhando para os outros. Apenas se concentre em si mesmo!”

Jesus faz um argumento semelhante nesses versículos, usando uma metáfora impressionante para instruir seus ouvintes a lidar com o próprio pecado antes de tentarem apontar os pecados dos outros. A palavra que Jesus usa para “argueiro” muitas vezes descreve pedaços muito pequenos de palha ou madeira. Em contraste, a palavra para “trave” se refere a uma viga de suporte de carga em uma casa ou estrutura. Se eu tenho uma trave no meu olho, isso claramente requer minha atenção mais do que um argueiro no de outra pessoa.

Como criaturas caídas, tendemos a pensar que é nossa responsabilidade lidar com a condição espiritual de todos os outros antes de lidar com a nossa. No entanto, Cristo não nos chamou para nos preocuparmos primeiro e principalmente com os ciscos dos outros. Não; ele diz que devemos ser diligentes em nos examinarmos à luz da Escritura e do padrão que ele estabeleceu.

A instrução de Jesus representa um grande desafio. Às vezes, podemos apontar as falhas dos outros sob o pretexto de nos preocuparmos com sua condição espiritual. Porém, se não formos honestos e implacáveis com nossos próprios pecados, isso é hipocrisia! Muitas vezes somos vítimas da noção equivocada de que, se eu puder encontrar sua falha e lidar com você, não terei de lidar com meus próprios problemas. É muito mais agradável contar a outra pessoa sobre sua condição terrível do que enfrentar a nossa.

Se realmente queremos ajudar os outros, devemos primeiro estar preparados para enfrentar o horror de nosso próprio coração — reconhecer, com Robert Murray M’Cheyne, que “as sementes de todos os pecados estão em meu coração”.[1] Quando entendermos e acreditarmos nisso, então, quando nos aproximarmos dos outros, estaremos na posição de humildade e amor genuínos, ao invés da soberba da presunção. Entre essas duas perspectivas, há toda a diferença do mundo.

 

[1] Citado em Andrew Bonar, Memoir and Remains of Robert Murray M’Cheyne (Banner of Truth, 1995), p. 153.


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