Rob Bell, o inferno e o amor de Deus

Recentemente, Rob Bell concedeu uma entrevista à revista VEJA, falando sobre seu livro “O Amor Vence” (lançado pela editora Sextante) e sobre a incerteza do inferno. Rob Bell ficou conhecido no Brasil principalmente através de uma série de vídeos chamada Nooma. Ele se tornou uma figura polêmica quando passou a pregar que no final “o amor de Deus vence”, ou seja, no final todos serão salvos (universalismo) negando a realidade do inferno (veja mais na entrevista).

Nesta postagem queremos (1) listar algumas respostas a Rob Bell e (2) falar sobre um típico argumento usado para negar a realidade ou eternidade do inferno.

Não queremos dar a impressão que temos um prazer sádico em falar sobre o inferno, pois Deus não tem um prazer sádico na condenação do ímpio (cf. Ez 18). Contudo, não devemos esquecer que (1) Deus faz tudo que lhe agrada (logo, Deus se agrada em executar sua justiça – cf. Sl 115:3 e Ap 14:10) e que (2) todos os santos louvarão a Deus por seus juízos (cf. Ap 15:1-4). A verdade é que falamos sobre o inferno, pois o próprio e amoroso Senhor Jesus falou (e foi Ele quem mais falou!). Falamos sobre o inferno porque batalhamos pela fé entregue aos santos. Falamos sobre o inferno, pois desejamos que você leitor não vá para lá, mas, ciente desse terrível perigo, se volte para Cristo como seu Salvador, Tesouro e Senhor.

Interações com a entrevista de Rob Bell

Vários blogs postaram ótimas respostas ao episódio. Aqui estão alguns:

Augustus Nicodemus mostrou quão contraditório Bell é em sua entrevista.

Surpreendente para mim foi ver que nesta entrevista Bell não nega o céu ou o inferno depois da morte, mas sim que possamos saber com certeza que eles existem depois da morte. […] Ao ser perguntado se Gandhi, que não era cristão, estaria no inferno, ele responde “acredito que está com o Deus que tanto amou”. Isso só pode ser o céu, certo? A resposta coerente e honesta com seu pressuposto seria “não sei”.

Da mesma forma, quando a revista pergunta sobre Hitler, se ele está no céu, Bell responde que Deus deu a Hitler o que Hitler buscou a vida toda, “infernos para si e para os outros”. E acrescenta “qualquer reconciliação ou perdão, nesse caso, está além da minha compreensão”. Se esta resposta não quer dizer que Hitler recebeu o inferno da parte de Deus depois da morte não sei o que mais poderia representar. A resposta coerente e honesta deveria ter sido esta: “não sei”, o que significa dizer que ele admite a possibilidade de Hitler ter ido para o céu.

Misael Nascimento fez uma análise crítica da entrevista.

O modo como Rob Bell articula seu argumento sugere ao leitor uma caricatura do cristianismo preconizado pelas igrejas bíblicas e conservadoras. Fica a impressão de que as igrejas tradicionais não ensinam que Deus é amor, não trabalham para reduzir o sofrimento na terra, são preconceituosas, pregam uma mensagem que divide e fragmenta, desconhecem o verdadeiro ser de Deus, são contrárias à liberdade e felicidade do homem e, por fim, inventaram o dogma do inferno.

Sandro Baggio fala sobre como deixou de ser um admirador de Rob Bell.

Confesso que fiquei preocupado com O Amor Vence e com a influência negativa que a mensagem de Rob Bell possa ter na vida de muitas pessoas. Não porque tenho prazer em pensar, falar, estudar, tentar entender, etc., o inferno. Meu desejo seria poder dizer: Pro inferno com o inferno! Todavia, como seguidor de Jesus, não posso ignorar o fato de que ele falou, muitas vezes e de muitas maneiras, sobre a realidade da vida após morte e as consequências das escolhas pessoais.

Luis Henrique de Paula mostrou que Rob Bell acaba dizendo que Jesus é mau, indecente e sem coração.

Bell: “Para mim, é incompreensível um cristão que não considera a salvação universal como a melhor saída, a melhor história. Para mim, acreditar nisso é um dever de qualquer pessoa boa, decente, com um coração no peito”.

Por implicação, Jesus Cristo foi uma pessoa má, indecente e sem coração. Foi o próprio Senhor que nos garantiu que haverá uma separação entre os “benditos de seu Pai” e os “malditos” que vão para o “fogo eterno” (Mt 25:34,41).

 Allen Porto falou sobre a lógica pós-moderna e o jogo de palavras de Bell.

Rob Bell, ao longo de toda a entrevista, brinca com os sentidos das palavras “clássicas”, substituindo o significado histórico por um novo ao seu gosto. É o caso de céu e inferno. Para Bell, “céu e inferno são dimensões da nossa existência aqui e agora”.

Um Deus de amor jamais…

Há muito a ser dito, e boa parte já o foi nos artigos acima. Contudo, iremos focar em um argumento comum entre aqueles que negam a existência ou a eternidade do inferno. E o argumento é este:  um Deus de amor jamais…

• mandaria alguém para o inferno (universalistas – acreditam que no final todos serão salvos)
• deixaria alguém sofrendo eternamente no inferno (aniquilacionistas – acreditam que o sofrimento no inferno não é eterno, mas que a alma , após receber seu castigo, deixará de existir)

Você percebeu o conflito? Com um mesmo argumento “um Deus de amor jamais…” chega-se a duas conclusões distintas: “ninguém irá para o inferno” vs. “ninguém irá sofrer para sempre no inferno”. Não quero entrar no debate sobre aniquilacionismo, mas tratar especificamente sobre esse argumento; e a verdade é que esse argumento não é válido, pois não há nenhuma necessidade lógica entre a premissa (um Deus de amor jamais…) e a conclusão (sem inferno ou inferno limitado).

O problema desse argumento é que ele tenta impor a Deus nossa concepção de amor. Basicamente:

1. Eu acho que o amor é assim e que ele age assim;
2. Deus é amor;
3. Logo, Deus tem que agir como eu acho que o amor age.

Essa premissa é usada em muitos outros argumentos. Só para não “pegar no pé” só desses dois grupos, vejamos outros exemplos comuns entre os evangélicos: “um Deus de amor jamais…”

• diria para expulsarmos impenitentes (pessoas não arrependidas) da membresia da igreja (contrariando o ensino sobre disciplina eclesiástica em Mt 18 e 1 Co 5) – veja mais nesta postagem
• odiaria o pecador (contrariando a clara declaração do Sl 5:5) – veja mais neste vídeo
• mandaria alguém que nunca ouviu do evangelho para o inferno (contrariando o ensino de Rm 1 e 2) – veja esta postagem e esta.

Não podemos nos esquecer que Deus é amor, não nós. Portanto, Deus define seu amor, não nós. Caíamos em idolatria toda vez que tentamos moldar a Deus conforme nosso próprio entendimento. E também não podemos nos esquecer que Deus não é só amor. Os atributos de Deus de Deus existem em harmonia: o amor de Deus não contradiz ou diminui sua justiça. E como sabemos a dose desse equilíbrio? Pelo que achamos ser correto? Não,mas pela revelação de Deus em seu Filho e nas Escrituras.

Por fim, abaixo segue um vídeo de Francis Chan complementando o assunto:

Por ocasião do lançamento do livro nos EUA, vários autores publicaram artigos e outros livros sobre o assunto. Um deles foi  “Apagando o inferno” de Francis Chan. Recomendamos a leitura.

Atualização 03/12 22:35 h – Augustus Nicodemus acabou de elevar substancialmente o nível da refutação acima em sua nova postagem: Deus é amor

Leituras adicionais sobre Rob Bell, inferno e O Amor Vence