Theodoro Beza – Fé e Justificação (Parte 2) (Reforma500)

500 anos de Reforma Protestante

Em comemoração aos 500 anos de Reforma Protestante, o Voltemos ao Evangelho trará artigos semanais e biografias de diferentes reformadores: Girolamo Zachi (jan), Theodoro Beza (fev), Thomas Cranmer (mar), Guilherme Farrel (abr), William Tyndale (mai), Martin Bucer (jun), John Knox (jul), Ulrico Zuínglio (ago), João Calvino (set) e Martinho Lutero (out).

A fé encontra em Jesus Cristo tudo o que é necessário para a salvação

É necessário que isso seja exposto em detalhes, para que seja conhecido que, por meio da fé, temos um remédio suficiente para assegurar plenamente a vida eterna; segundo o que está escrito: “O justo viverá pela fé” (Habacuque 2.4; Romanos 1.16-17; Gálatas 3.11). Nós dizemos, portanto, que tudo o que obstrui o homem da comunhão com Deus, que é perfeitamente justo e bom, reside em três questões. Mas, para cada uma destas, encontramos o remédio, não em nós mesmos, mas em Jesus Cristo e em tudo o que Ele tem, desde que estejamos unidos e ligados a Ele em comunhão de todos os benefícios (João 17.9-11,20-26).

É por isso que a igreja, que é dita ser a assembleia dos crentes, é chamada de esposa de Jesus Cristo, seu esposo (Romanos 7.2-6, 8.35; 2Coríntios 11.2; Efésios 5.31-32); isso é para mostrar mais claramente a grandeza da união e da comunhão que há entre Jesus Cristo e aqueles que, por meio da fé, se confiaram a Ele. Pois, em virtude dessa união e deste casamento espiritual pela fé, ele toma todas as nossas misérias sobre si mesmo, e nós recebemos dele todos os seus tesouros, por sua pura bondade e misericórdia.

O remédio que a fé encontra somente em Jesus Cristo contra o primeiro ataque da primeira tentação: “A multidão dos nossos pecados”: A certeza que podemos ter sobre esse ponto em relação aos santos ou a nós mesmos

Portanto, vejamos agora como encontramos remédios seguros contra todas as tentações de Satanás e todos os problemas de nossa consciência, somente em Jesus Cristo.

Em primeiro lugar, Satanás e nossa consciência, para mostrar que somos verdadeiramente indignos de sermos salvos e dignos de perecer, ressaltam a natureza de Deus, que é perfeitamente justo e o grande inimigo e vingador de toda a iniquidade. Agora, é verdade, que estamos cobertos de pecados infinitos. Segue-se, portanto, que não há nada mais a fazer do que esperar o salário do pecado, ou seja, a morte eterna (Romanos 6.23).

O que os homens poderão pleitear contra essa conclusão de Satanás e de sua consciência? Certamente, nada de algum proveito, a menos que seja o que eu afirmo. Pois, se recorrem à misericórdia de Deus, esquecendo-se da sua justiça, enganam-se a si mesmos. Uma coisa é certa, a misericórdia de Deus é tal, que é necessário, porém, que a sua justiça também seja totalmente considerada, o que nós já declaramos.

Então, se para cobrir os nossos pecados desejamos invocar os méritos dos santos:

  1. Nós erramos muito no que se refere a eles; porque o próprio Davi escreve: “Não entreis em juízo com teu servo” (Salmo 143.2) e, em outra passagem, ele confessa que as suas obras não podem chegar a Deus (Salmo 16.2). E o que Paulo diz sobre Abraão, esta santa pessoa e pai dos crentes? “Porque, se Abraão”, ele diz, “foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus. Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça” (Romanos 4.2-3). E o que diz Paulo sobre si mesmo? “Porque”, ele diz, “em nada me sinto culpado; mas nem por isso me considero justificado” (1Coríntios 4.4). Então, como podemos pleitear os méritos dos santos para satisfazer nossos pecados, já que eles mesmos recorrem somente à misericórdia de Deus somente, obtida por Jesus Cristo (Filipenses 3.8)?
  2. Além disso, se os próprios santos mereceram o paraíso devido a sua vida santa (o que não pode ser, visto que eles mesmos testemunham o contrário), eles já não teriam recebido o pagamento por seus méritos? Com que reivindicação, portanto, nós suplicaríamos tais méritos diante de Deus novamente?
  3. Assim, dizer que eles tinham tanto mérito que resta alguns para nós, é mentir contra o que eles nos deixaram por escrito. Além disso, não é como se estivéssemos dizendo que eles não têm relação alguma com a morte de Jesus Cristo, visto que eles têm em si mesmos mais do que o suficiente para que tenham necessidade de Jesus?
  4. E, então, se eles têm excesso de méritos, de que maneira saberíamos que tais méritos são nossos? É porque achamos que sim, ou porque nós os compramos? Mas, Pedro censura a Simão, o mago, por este comércio falso e maldito: “O teu dinheiro seja contigo para perdição”, ele diz, “pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro” (Atos 8.20).

Aqui é como, ao crermos que honramos os santos, nós realmente os desonramos tanto quanto possível. Agora, se as obras dos santos não têm nada a merecer nesta esfera, o que encontraremos em nós mesmos ou em qualquer outro homem vivo que seja suficiente para nos fortalecer contra este ataque de Satanás? Mas, para acabar com todas essas falsas imaginações, consideremos os seguintes pontos:

Em primeiro lugar, não achamos que um homem é desprovido de sentido caso se convença de que está livre de um credor sob o pretexto de imaginar que pagou ou de que outro pagou por ele? É assim que sempre agimos em relação a Deus quando não estamos contentes com a satisfação exclusiva de Jesus Cristo. Pois, que fundamento têm todo o restante, exceto a fantasia dos homens, como se Deus tivesse que achar bom tudo o que nos parece bom. Mas, em vez disso, ouçamos o que Jesus Cristo diz: “Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens” (Mateus 15.9). E, em outra passagem: “Quando vindes para comparecer perante mim, quem requereu isto de vossas mãos?” (Isaías 1.12).

Em segundo lugar, quando dizemos que descansamos somente na misericórdia de Deus, mas imaginamos que nós mesmos pagamos por ela, total ou parcialmente, isso não é apenas zombar da sua misericórdia (Romanos 4.4)?

Em terceiro lugar, não se contentar somente com mérito de Jesus Cristo, mas desejar acrescentar outros a ele, não é como se estivéssemos dizendo que Cristo não é Jesus, ou seja, nosso Salvador, porém apenas em parte (Gálatas 2.21)?

Em quarto lugar, isso não é despojar a Deus da sua perfeita justiça (Romanos 3.26) e, consequentemente, da sua divindade (na medida em que isso é possível para nós!), ousando nos opormos à sua ira quanto às obras dos homens, contra os quais tal poderia ser dito, não importa quão boas elas sejam (Lucas 17.10)? Davi disse: “Não entre em juízo com teu servo” (Salmo 143.2).

Aprendamos, portanto, a responder de maneira diferente ao argumento de Satanás mencionado acima: “Você diz, Satanás, que Deus é perfeitamente justo e o vingador de toda iniquidade”. “Eu o confesso; mas eu acrescento outra característica da sua justiça que deixastes de lado; visto que ele é justo, ele está satisfeito de ter sido pago uma vez”. “Você diz em seguida que eu tenho iniquidades infinitas que merecem a morte eterna”. “Eu o confesso; mas acrescento o que você maliciosamente omitiu: as iniquidades que estão em mim foram muito amplamente vingadas e punidas em Jesus Cristo, que suportou o julgamento de Deus em meu lugar (Romanos 3.25; 1Pedro 2.24). Eu chego a uma conclusão muito diferente da sua, pois Deus é justo (Romanos 3.26) e não exige pagamento duas vezes, pois Jesus Cristo, sendo Deus e homem (2Coríntios 5.19), satisfez por infinita obediência (Romanos 5.19; Filipenses 2.8) a majestade infinita de Deus (Romanos 8.33); portanto, as minhas iniquidades não podem mais me arruinar (Colossenses 2.14), pois, já estão apagadas e lavadas da minha conta pelo sangue de Jesus Cristo, aquele que foi feito uma maldição por mim (Gálatas 3.13) e aquele é justo e que morreu pelos injustos (1 Pedro 2.24)”.

Então, é certo que Satanás saberá colocar bem as nossas aflições diante dos nossos olhos, e especialmente a morte (Romanos 5.12). Ele alegará que estes são muitos testemunhos mostrando que Deus não perdoou os nossos pecados.

Mas, quanto às aflições, devemos responder em primeiro lugar, que embora todas as aflições e morte tenham entrado no mundo devido o pecado, Deus nem sempre tem em consideração os nossos pecados quando nos aflige. Nós estabelecemos isso a partir de toda a história de Jó e de outras passagens (João 9.3; 1Pedro 2.19, 3.14; Tiago 1.2). Mas, Ele tem vários outros objetivos em vista que tendem à sua glória e nosso benefício […].

Por outro lado, quando Deus aflige aqueles que são seus devido aos pecados deles, mesmo que ele os faça provar as dores da morte (Jó 13.15), não se ira contra eles como juiz, para condená-los, mas como um Pai que castiga os seus filhos para impedi-los de perecer (2Coríntios 6.9; Hebreus 12.6; 2Samuel 7.14), ou para dar um exemplo aos outros (2Samuel 12.13-14).

O remédio que a fé somente encontra em Jesus Cristo contra o segundo ataque da primeira tentação: “Somos destituídos da justiça que Deus justamente exige de nós”

Aqui está o segundo ataque que Satanás pode suscitar contra nós por causa da nossa indignidade: Não basta que não tenhamos pecado, nem que tenhamos satisfação pelos pecados. Porém, mais é necessário: que o homem deva cumprir toda a lei, ou seja, que ame a Deus perfeitamente e ao seu próximo como a si mesmo (Deuteronômio 17.26; Gálatas 3.10-12; Mateus 22.37-40). “Portanto, traga esta justiça” — diz Satanás à nossa pobre consciência — “ou saiba que você não pode escapar da ira e maldição de Deus”.

Agora, contra este ataque, do que todos os homens se beneficiarão, exceto de Cristo somente? Pois, esta é uma questão de perfeita obediência, que nunca se encontra em nenhum outro lugar senão em Jesus Cristo. Logo, aprendamos aqui a nos apropriarmos mais uma vez, pela fé, de outro tesouro de Jesus Cristo: sua justiça. Sabemos que ele foi quem cumpriu toda a justiça (Mateus 3.15; Filipenses 2:8; Isaías 53.11). Ele ofereceu uma perfeita obediência e amor a Deus seu Pai, e amou perfeitamente aos seus inimigos (Romanos 5.6-10), tanto que foi feito uma maldição por eles, como diz Paulo (Gálatas 3.13), ou seja, suportou, por eles, o juízo da ira de Deus (Colossenses 1.22; 2Coríntios 5.21). Assim, estando revestidos dessa perfeita justiça que nos é dada pela fé, como se fosse propriamente nossa (Efésios 1.7-8), podemos ser aceitáveis ​​a Deus (João 1.12; Romanos 8.17), como irmãos e coerdeiros de Jesus Cristo.

Neste ponto, Satanás deve necessariamente fechar a boca, desde que tenhamos fé para receber Jesus Cristo e todos os benefícios que ele possui para comunicá-los aos que creem nele (Romanos 8.33).

O terceiro ataque da mesma tentação: “A contaminação natural, ou o pecado original, que está em nossas pessoas, faz com que Deus ainda nos odeie”

Ainda resta para Satanás um ataque com esta tentação sobre a nossa indignidade: embora você tenha satisfação pela punição dos seus pecados na pessoa de Jesus Cristo, e também, pela fé, seja coberto com a sua justiça, ainda assim você é corrompido em sua natureza; nela ainda habita a raiz de todo o pecado (Romanos 7.17-18). Como, então, você se atreverá a comparecer perante a majestade de Deus, que é o inimigo de toda impureza (Salmos 5.5) e quem vê o íntimo do coração (Salmos 44.21; Jeremias 17.10)?

Agora, nesta questão, encontramos novamente um remédio imediato em Jesus Cristo somente. Nós devemos confiar nele. Verdadeiramente ainda estamos presos neste corpo mortal (Romanos 7.24), de modo que não praticamos o bem que desejamos, ainda sentimos o pecado que habita em nós (Romanos 7.21-23) e a carne que luta contra o Espírito (Gálatas 5.17). É por isso que, em relação a nós mesmos, ainda estamos contaminados no corpo e na alma (1Coríntios 4.4; Filipenses 3.9), mas, na medida em que temos fé, somos unidos (1Coríntios 6.17), ligados (Efésios 4.16, Colossenses 2.19), enraizados (Colossenses 2.7) e enxertados em Jesus Cristo (Romanos 6.5); nele, desde o primeiro momento da sua concepção no ventre da virgem Maria (Mateus 1.20; Lucas 1.35), nossa natureza foi mais plenamente restaurada e santificada (Hebreus 2.10-11), do que foi criada pura em Adão, visto que Adão foi criado somente à imagem de Deus (Gênesis 1.27; 1Coríntios 15.47), enquanto Cristo é o verdadeiro Deus, que tomou para si a nossa carne, concebida pelo poder do Espírito Santo.

Esta santificação da natureza humana em Jesus Cristo é considerada como nossa, por meio da fé. Assim, o restante da corrupção natural que mesmo após a regeneração ainda habita em nós, não pode entrar ser colocada em nossa conta (Romanos 8.1-3). Nossa indignidade é coberta e envolvida pela santidade de Jesus Cristo, que é muito mais poderosa para nos santificar diante de Deus do que a corrupção natural é para nos contaminar.

Remédio contra a segunda tentação: “Temos fé ou não?”

Em uma segunda tentação, Satanás responderá que Jesus Cristo não morreu por todos os pecadores, visto que nem todos serão salvos. Recorramos, então, à nossa fé e respondamos que, na verdade, somente os crentes receberão o fruto deste sofrimento e satisfação de Jesus Cristo. Mas, em vez de nos perturbar, isso nos dá segurança; pois sabemos que temos fé (Romanos 8.15; 1Coríntios 2.12-16; 1João 4.13). Como já dissemos, não basta ter uma crença geral e confusa de que Jesus Cristo veio tirar os pecados do mundo, mas é necessário que cada um aplique a si mesmo e se aproprie de Jesus Cristo por meio da fé, para que cada um conclua em si mesmo: Eu estou em Jesus Cristo por meio da fé, por isso não posso perecer e sou assegurado da minha salvação (Romanos 8.1,38-39; 1Coríntios 2.16; 1João 5.19-20).

Assim, para confirmar que temos repelido Satanás nos três ataques anteriores da primeira tentação, e para resistirmos a este segundo, é necessário saber se temos esta fé ou não. O meio é voltar dos efeitos à causa que os produz. Agora, os efeitos que Jesus Cristo produz em nós, quando nos apossamos dele pela fé, são dois: Em primeiro lugar, há o testemunho que o Espírito Santo dá ao nosso espírito de que somos filhos de Deus e nos permite clamar com segurança: “Aba, Pai” (Romanos 8.16; Gálatas 4.6). Em segundo lugar, devemos entender que quando aplicamos Jesus Cristo a nós mesmos, pela fé, isso não é por alguma fantasia e imaginação tola e vã, mas realmente e de fato, embora espiritualmente (Romanos 6.14; 1João 1.6, 2.5, 3.7). Da mesma maneira que a alma produz os seus efeitos quando está naturalmente unida ao corpo, assim, quando, pela fé, Jesus Cristo habita em nós de maneira espiritual, o seu poder age e revela ali as suas graças, que são descritas na Escritura pelas palavras “regeneração” e “santificação”, e nos tornam novas criaturas com relação às qualidades que podemos ter (João 3.3; Efésios 4.21-24).

Esta regeneração, ou seja, um novo começo e nova criação, é dividida em três partes. Da mesma forma que a corrupção natural, que mantém a nossa pessoa cativa, tanto a alma quanto o corpo, produz em nós os pecados e a morte (Romanos 7.13), assim o poder de Jesus Cristo, fluindo e adentrando em nós com eficácia, se apossa de nós e produz em nós três efeitos: a morte do pecado, ou seja, aquela corrupção natural que a Bíblia chama de “velho homem”, seu sepultamento e, finalmente, a ressurreição do novo homem. Paulo, em particular, descreve essas coisas em detalhes (Romanos 6, e em quase todos os seus escritos; cf. 1Pedro 4.1-2).

A morte da corrupção, ou do pecado, é um efeito de Jesus Cristo em nós. Aos poucos, Ele destrói esta maldita corrupção da nossa natureza, de modo que esta se torna menos poderosa para produzir os seus efeitos em nós: os impulsos, os consentimentos e as outras ações contrárias à vontade de Deus.

O sepultamento do velho homem é um efeito do mesmo Jesus Cristo (Romanos 6.4; Colossenses 2.12, 3.3-4). Por seu poder, o velho homem, que recebeu seu golpe de morte, não deixa de ser aniquilado pouco a pouco. Em resumo, do mesmo modo que a sepultura do nosso corpo é uma progressão da morte, assim o sepultamento do nosso velho homem é uma progressão e consequência da sua morte. Para esta finalidade, servem grandemente as aflições com que o Senhor nos visita todos os dias (2Coríntios 4.16). Ele também faz ocorrer provações espirituais e físicas, das quais devemos diligentemente fazer uso, para matar cada vez mais a rebelião da carne, que milita contra o Espírito (1Coríntios 9.27; Gálatas 5.17). Finalmente, para os crentes, a primeira morte é a conclusão desta mortificação e sepultamento do pecado, pois ela põe fim à guerra da carne contra o Espírito (Filipenses 3.20-21).

A ressurreição do novo homem, esse homem cujas qualidades e faculdades são verdadeiramente renovadas, é o terceiro efeito do mesmo Jesus Cristo que vive em nós. Tendo mortificado em nossa natureza o que havia de corrupção, ele então nos dá um novo poder e nos recria. Assim, nosso entendimento e julgamento, iluminados pela pura graça do Espírito Santo (Efésios 1.18) e governados pelo novo poder que obtemos de Jesus Cristo (Romanos 8.14), começam a entender e aprovar o que anteriormente era loucura para eles (1Coríntios 2.14) e abominação (Romanos 8.7). E, em segundo lugar, a vontade é retificada para odiar o pecado e abraçar a justiça (Romanos 6.6). As faculdades do homem começam a fugir daquilo que Deus proibiu e a seguir tudo o que ele ordenou (Romanos 7.22; Filipenses 2.13).

Esses são, portanto, os dois efeitos que Jesus Cristo produz em nós. Se os experimentamos, a conclusão é infalível: temos fé e, consequentemente, como dissemos, temos Jesus Cristo vivendo em nós eternamente.

Logo, é evidente que cada crente deve vigiar sobretudo para manter, por súplica contínua, este testemunho acima mencionado que o Espírito de Deus dá àqueles que são seus; cada crente também deve desenvolver, através de um exercício contínuo das boas obras a que a sua vocação o chama, o dom da regeneração que recebeu (Romanos 12.9-16.). Nesse sentido, é dito que aquele que é nascido de Deus não peca (1João 5.18, ou seja, ele não ama o pecado, mas resiste cada vez mais a ele, de modo que ele tem correspondentemente mais segurança da sua eleição e vocação (2 Pedro 1.10). Para conhecer esta regeneração, é necessário chegar aos seus frutos. Assim, como eu disse, o homem, sendo libertado do pecado, ou seja, da sua corrupção natural, começa a produzir os bons frutos que chamamos de “boas obras”, graças ao poder de Jesus Cristo que habita nele; por isso dizemos, e com razão, que a fé da qual falamos não pode existir sem boas obras mais do que o sol sem luz ou do que o fogo sem calor (1João 2:9-10; Tiago 2:14-17).

Por: Theodoro Beza. Fonte: Faith & Justification

Original: Theodoro Beza – Fé e Justificação (Parte 1) (Reforma500). © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Camila Rebeca Teixeira. Revisão: William Teixeira.