Evangelho na Periferia – Princípio 5: Ouça a Comunidade

Ouvir sua comunidade

É perceptível em Niddrie que existem muitas organizações habitacionais e várias outras agências sociais, com equipes compostas fundamentalmente por pessoas de fora da comunidade, que impõe suas ideias e seus ideais sobre a comunidade sem muito diálogo. É comum aceitar-se que estes “profissionais” sabem o que nós precisamos. Da mesma maneira, muitas plantações de igrejas, igrejas estabelecidas e ministérios evangélicos podem ser acusados das mesmas atitudes. Por exemplo, uma equipe pode mudar-se para uma periferia com um plano bem elaborado e mesmo assim sua estratégia ter pouquíssimo impacto no local, devido à falta de pesquisa e de compreensão da cultura. Para igrejas estabelecidas e organizações para-eclesiásticas, pode parecer que muito “ministério” está sendo realizado, para todos os efeitos, enquanto há pouquíssimo fruto de longo prazo. Aqueles que pesquisam, obtém sua informação de páginas da internet ou de agências governamentais. Ou ainda, de forma inacreditável, obtém suai informação sobre uma localidade de “ouvir dizer” e opiniões baseadas na “reputação” ou suposições. Um grande perigo de pesquisar os fatos e informações sobre uma área somente em páginas governamentais é que nossa compreensão é distorcida sobre o que uma comunidade precisa a fim de mudar.

Um bom plantador de igreja, por outro lado, deve não só pesquisar e observar. Ele deve ouvir. Existem perguntas que precisam ser feitas. Por exemplo, quem são os principais líderes na comunidade? Quais grupos comunitários existem na localidade? Quais contêm pessoas do local e quais contêm pessoas de fora? O que as pessoas do lugar acreditam serem as maiores necessidades da comunidade? Como eu afirmei, é fácil pensar “periferia” e então chegar com um conjunto de suposições que por muitas vezes podem ter pouca conexão com a vida aqui dentro. Com o que as pessoas sonham? Qual são as ambições delas (aqueles que ainda as têm)? O que eles pensam que a comunidade precisa para poder melhorar? Por onde elas começariam? Eis aqui uma das mais importantes. Robert Lupton destaca:

“Isto é comumente referido como o conceito das necessidades sentidas. Ouvir é o mais importante, pois as pessoas da comunidade são os tesouros ocultos do futuro. É importante não focar nas fraquezas ou necessidades da comunidade.”

Nem a Igreja da Comunidade Niddrie, nem a 20schemes, existem para suprir as necessidades sentidas na periferia. Se assim fosse, então não estaríamos plantando igrejas, uma vez que esta não estaria nem entre as “top mil” necessidades sentidas por qualquer pessoa! Contudo, esta última sentença é interessante. Por que ele enfatiza isso? Bem, ele defende uma abordagem de desenvolvimento comunitário que nos ajuda a tentar focar nos desejos dos moradores da comunidade, que habilidades eles têm e então pensar nestes indivíduos como “bens da comunidade” sobre os quais podemos focar nossas energias. Obviamente, seu contexto se refere a desenvolvimento comunitário, mas eu penso que podemos usar este princípio na plantação de igrejas.

Como um plantador, a pergunta se torna sobre como podemos fortalecer alguns dos talentos dos cristãos locais em harmonia com a Grande Comissão. Novamente, é fácil olhar para uma periferia como Niddrie e apontar 10 coisas que precisam ser consertadas. Mas o que nós pensamos precisar ser consertado olhando de fora pode nem ser um interesse de alguém do local. O que eles pensam? Certamente, a igreja pode ajudar em aliviar algumas das grandes necessidades da comunidade, mas prestamos um desserviço se assumirmos toda a responsabilidade (e esta nem é nossa principal responsabilidade). Na verdade, podemos ser acusados de enfraquecer a comunidade se tentarmos resolver todos os problemas por eles.

Nas últimas décadas, em meu ministério pastoral, muitas vezes tive que lidar com pessoas desapontadas com a “igreja institucional”. Pessoas querendo sair e se mudar para outro lugar, algum lugar “melhor”. Minha resposta para estes indivíduos tem sido sempre a mesma.

“Você não pode mudar alguma coisa se afastando dela. Você só pode causar mudanças efetivas e duradouras estando dentro. Agora, o que você pensa que deveria acontecer e como você vai me ajudar para fazer acontecer?”

Eu sei que não é o argumento mais poderoso, mas se vamos permanecer e ouvir uma comunidade, nós precisamos estar preparados para ouvir conversas derrotistas sobre “nada mudar nunca”. Nós precisamos ajudar cristãos da localidade a ver que eles, sob o Senhorio de Cristo, são a reposta para os problemas de sua comunidade, não meramente agências externas ou mesmo a igreja.

É claro que a regeneração espiritual é o alvo final, mas nós precisamos desenvolver nossas habilidades de ouvir para fortalecer nosso evangelismo, juntamente com nosso método de discipulado, para que capacitemos as pessoas não só para assumir responsabilidade por si mesmas e por suas comunidades, mas capacitá-las a se envolver. Nós devemos constantemente avaliar o que estamos fazendo e questionar se estamos aproximando ou afastando as pessoas de depender de qualquer coisa que não seja Jesus Cristo.

Se vamos causar mudanças duradouras na periferia, então tudo o que fazemos precisa ser sustentável. Por esta razão, enquanto ouvimos, devemos desenvolver ministérios que vão fortalecer as pessoas em suas habilidades e encorajá-las a permanecerem na localidade para benefício de todos. Isto é algo extremamente difícil numa sociedade individualista. Por isso, deve começar dentro do corpo de Cristo. Se estivermos nos mudando para a comunidade, usando nossos dons, servindo uns aos outros para benefício do todo e ao mesmo tempo ouvindo, então este é um ótimo modelo de vida para as pessoas da localidade.

Ouvir as pessoas. Não é tão fácil como parece, não é?

Por: Mez McConnel. © 2013 20Schemes. Original: The Keys to Breakthrough in the Housing Scheme (1)

Tradução: Fabio Luciano. Revisão: Yago Martins. © 2016 Ministério Fiel. Todos os direitos reservados. Website: MinisterioFiel.com.br. Original: Evangelho na Periferia – Princípio 5: Ouça a Comunidade

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