O que não gostaríamos de ouvir no próximo encontro de mulheres

Em uma reunião de mulheres foi perguntado a elas quais temas gostariam que fossem abordados nos próximos encontros de mulheres organizados pela igreja, sem hesitar cada uma foi dando suas sugestões: casamento, maternidade, solteirice, finanças, vocação, ansiedade. A cada novo tema sugerido, vozes e comentários de aprovação se seguiam e todas pareciam estar muito interessadas e de pleno acordo quanto aos temas propostos até então. Tudo ia muito bem, até que uma mão hesitante se levantou sugeriu:

– Acho que poderíamos falar sobre pecados sexuais, como pornografia e masturbação…

Um silêncio constrangedor tomou conta da sala e todos os olhos se voltaram para a jovem que havia sugerido o tema. Ela, claramente desconfortável, se encolheu em seu lugar, rubra, desejando não ter proferido tais palavras.

– Bem, particularmente – interviu uma das irmãs – acho que o tema sexualidade da mulher seria o mais adequado, pois se estende a todas as idades e realidades. Além do mais, somos todas mulheres cristãs e sabemos que a Bíblica claramente condena esse tipo de práticas. Nos limitarmos a pecados sexuais não nos daria muito assunto para discussão.

Quase que imediatamente o grupo concordou, talvez, numa tentativa de amenizar o constrangimento que tal sugestão havia causado.

A reunião seguiu com mais sugestões, felizmente, ou infelizmente, nenhuma que trouxesse qualquer outro constrangimento ao grupo.

Essa é uma narrativa fictícia, mas ela revela algo muito verdadeiro em relação a maneira como nós, frequentemente, lidamos com pecados sexuais. Não é fácil falar sobre eles, só de ouvir palavras como pornografia e masturbação nos remexemos desconfortáveis em nossas cadeiras. Definitivamente, não é o tipo de tema que gostaríamos de ouvir no próximo encontro de mulheres de nossa igreja.

Mas, por mais espinhosos que possam ser esses assuntos, eles precisam ser abordados, pois, ao contrário do que disse nossa irmã “Fictícia”, ser cristã não nos torna imunes às tentações sexuais, pelo contrário, é justamente por sermos cristãs que enfrentamos tentações nessa e em outras áreas de nossas vidas. Ao contrário do que o mundo afirma não se tratam de questões de escolha ou mera satisfação sexual, e, sim, questões de pecado e santificação, dois assuntos de fundamental importância na caminhada cristã.

Saber que a Bíblia condena determinada prática não significa que não seremos suscetíveis a ela. Não se trata de conhecimento apenas, é preciso percorrer um estreito e árduo caminho de fé e renúncia para que consigamos resistir ao pecado. Infelizmente, reações como a da narrativa acima apenas retratam a maneira como muitos grupos ou ministérios de mulheres lidam com questões relacionadas a sexualidade, especialmente se tratando de pecados sexuais. Não precisamos ir muito longe para perceber isso.

Quando vejo as postagens de algumas páginas cristãs percebo que muitas delas exaltam a feminilidade com certo idealismo. Me parece que as mulheres ali retratadas são tão etéreas que não sofrem qualquer infortúnio da carne, são tão plenamente puras que desconhecem o ardor da tentação. Por vezes criamos uma imagem a respeito da mulher baseada numa visão secular e romântica que nada tem a ver com aquilo que a Escritura atesta acerca de nossa real natureza.

Em nenhum lugar a Bíblia coloca a mulher em um patamar elevado ou dá a entender que somente os homens são afligidos por certos “tipos de pecados”. Ao evitar abordar ou nomear esses pecados, erroneamente transmitimos a ideia de que as mulheres lutam somente contra pecados que consideramos socialmente aceitáveis: o orgulho, a falta de contentamento, a maledicência, entre outros.

Na maior parte das vezes, apenas fingimos que pecados ou tentações sexuais não ocorrem em nosso meio; que nós, ou nossas irmãs em Cristo, não lutamos contra eles, pois estamos num nível de espiritualidade que não nos permite sofrer tentações nessa área.

Sim, há muitas mulheres cristãs que amam ao Senhor lutando contra a imoralidade sexual, sofrendo em silêncio, carregando o peso, a culpa e a vergonha desse pecado. Muitas temem ser julgadas e desprezadas se confessarem seus pecados e suas lutas, pois se sentem indignas de participarem dessa comunidade de mulheres distintas, puras e perfeitas.

Uma abordagem bíblica sobre pecados sexuais é, antes de tudo, um meio de promover cura e libertação para muitas mulheres. Mas, será que estamos dispostas a trazer esses assuntos para o centro de nossas discussões? Como mulheres cristãs, será que não podemos ser vulneráveis ao ponto confessar nossos pecados umas às outras a fim de sermos curadas?

Reconheço que a teoria é muito mais simples do que a prática. Falar sobre pecados sexuais causa vergonha e constrangimento, mas precisamos dar o primeiro passo, rogando a Deus que nos conceda graça e misericórdia para lidarmos com esse assunto com sabedoria.

Mas, por onde devemos começar? Quer você seja alguém que está lutando contra pecados sexuais ou alguém que deseja fortalecer e encorajar outras mulheres, creio que a melhor abordagem é sempre a partir da própria Escritura, sem ela nossas melhores tentativas estarão fadadas ao fracasso. Gostaria de percorrer esse caminho iniciando por aquilo que a Escritura tem a dizer sobre o propósito de Deus para a nossa sexualidade, depois trataremos especificamente sobre pornografia, masturbação e defraudação, e, por fim, falaremos sobre a pureza, o doce e árduo fruto da santificação.

Sexualidade e Santificação

Como tudo em nossas vidas a sexualidade não tem a ver essencialmente com o nosso prazer, mas com a glória de Deus e seu propósito. Ao concedê-la Deus, em seu plano eterno, desejou que a ela cooperasse para o nosso bem final: edificar em nós a imagem de Cristo por meio do processo ao qual chamamos de santificação.

 “Pois esta é a vontade de Deus, a vossa santificação, que vos abstenhais da prostituição; que cada um de vós saiba possuir o próprio corpo em santificação e honra, não com o desejo de lascívia, como os gentios que não conhecem a Deus; e que, nesta matéria, ninguém ofenda, nem defraude a seu irmão […] porquanto Deus não nos chamou para a impureza e sim para a santificação” (1Ts 4.3-7)

Nesse texto o apóstolo Paulo trata simultaneamente de dois assuntos: imoralidade sexual e santificação. Ele começa dizendo que para alcançarmos a santificação devemos nos abster da porneia, palavra grega que se refere a qualquer tipo de relação sexual ilícita: prostituição, fornicação, incesto, adultério, homossexualismo, lesbianismo, relação sexual com animais, em suma, toda prática sexual fora do padrão de santificação que Deus estabeleceu.

De maneira muito objetiva o apóstolo Paulo deixa claro que o alvo de Deus para todo o cristão é a santificação. Esse longo e árduo caminho exige que abandonemos toda sorte de impureza e passemos a honrar o nosso corpo, sujeitando-o a vontade de Deus. É interessante pensarmos no fato de que a santificação está diretamente ligada à forma como usamos nossos corpos. Vivemos em uma cultura na qual as pessoas reivindicam o “direito” de terem domínio sobre seus corpos, para elas esse direito implica em poderem fazer com eles o que bem entendem. Contrariamente, a Bíblia nos ensina que ter domínio sobre o próprio corpo é justamente não fazer com ele o que bem entendemos, mas, sim, a vontade de Deus. Segundo a Escritura, dominar o próprio corpo é justamente não fazer com ele aquilo que desejamos, mas o que Deus ordena.

Assim sendo, a santificação é um processo no qual o nosso corpo deixa de ser instrumento de nossas próprias vontades e passa a ser instrumento da vontade de Deus. Na santificação não cabe “meu corpo, minhas regras”; como sacrifícios vivos rendemos nossos corpos e nossas regras aos pés da cruz e contamos com a graça de Deus para negarmos nossas vontades, tomar nossa cruz e seguir a Cristo diariamente.

Por: Prisca Lessa. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Original: O que não gostaríamos de ouvir no próximo encontro de mulheres.