O amor precisa crescer

“E o Senhor faça com que cresça e aumente o amor de uns para com os outros e para com todos, como também o nosso amor por vocês…” 1Ts 3.12

O amor precisa crescer porque amamos de modo infantil. Somos como crianças quando amamos. Apesar da sinceridade do amor de um infante, sabemos que uma criança tende a amar aquilo que lhe é conveniente, mais amável e que lhe é correspondente. Crianças não amam com a consciência de um amor sacrificial, doador apesar das circunstâncias adversas e buscando o bem do próximo, mesmo que isso incorra em prejuízo para elas. Todavia esse é o amor bíblico, esse é o amor divino. Nosso amor infantil se assemelha ao “amor necessidade”, aquele que C.S. Lewis compara ao amor por uma torneira quando estamos com sede[1]. Amamos torneiras na medida e proporção da sede que sentimos, mas uma vez que usamos a torneira para nos saciar, nunca mais pensamos nela novamente. Usamos torneiras, não as amamos. Por vezes agimos assim. Buscamos relacionamentos que podemos nos beneficiar deles. Usamos pessoas de acordo com nossas necessidades. Deveríamos ter aquele “amor apreciativo”, que contempla no próximo a imagem divina, aquela mesma admiração que temos por uma obra de arte que nos prende por tamanha beleza. Mas não, amamos como crianças, amamos com aquela motivação infantil: “se você der um abraço no papai, ele vai deixar você brincar depois…” – amor necessidade. O amor precisa crescer porque amamos de modo infantil.

O amor precisa crescer ao tamanho do amor de Cristo. Nosso amor padece não só em qualidade, mas em quantidade, falta-nos constantemente obras de amor – “dedicação do amor” (1Ts 1.3). Em contraste temos o amor de Cristo que é largo, comprido, alto, profundo e excede todo entendimento (Ef 3.18-19). Devemos comparar o tanto que amamos não com qualquer outro personagem na história ou figurante de um filme de Hollywood, mas com o próprio Cristo. Ele não amou só de palavras, não disse “eu te amo” à distância, esperando que o melhor acontecesse, pelo contrário, “nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; portanto, também nós devemos dar a nossa vida pelos irmãos” (1Jo 3.16). Não pensemos que porque Cristo pagou a dívida de nossos pecados para Deus estamos isentos de qualquer dívida, ainda somos devedores, devemos o amor: “Não fiquem devendo nada a ninguém, exceto o amor de uns para com os outros” (Rm 13.8). Quando devemos dinheiro ao banco, nossas consciências não descansam até quitarmos o débito, deveríamos ter o mesmo desconforto com a dívida do amor.

O amor precisa crescer com os da família da fé. A ordem das palavras no versículo é importante e é inspirada por Deus. Paulo primeiro diz “aumente o amor de uns para com os outros” e depois diz “e para com todos”. Infelizmente cristãos invertem a ordem constantemente. São generosos e misericordiosos com familiares e amigos incrédulos, mas severos com os da família da fé. Toleram erros e pecados dos de fora, oferecendo graça sempre que possível, mas imperdoáveis com os de dentro. Se envolvem em causas filantrópicas no mundo, mas não se atentam às dificuldades dos irmãos em Cristo. Convenhamos, é mais fácil amar os de fora, nossa interação com eles é menor do que com os irmãos da própria igreja local. Semanalmente nos encontramos, por mais de uma vez dependendo da agenda da igreja, vemos o que há de melhor e pior em cada irmão, e devido à intensidade do relacionamento, há mais chances de conflitos entre nós. É por isso que muitos evitam a igreja local e optam pelo distanciamento, pela indiferença, pela falta de amor. Mesmo assim a ordem é: “aumente o amor de uns para com os outros”. Não amar é pecado.

O amor precisa crescer para com todos. Aqui está nossa grande dificuldade: amar “todos”. Não devemos amar somente aqueles que são do mesmo nível social que o nosso, têm as mesmas preferências e gostos, possuem as mesmas convicções e crenças, estão no mesmo lado político etc. Devemos amar pessoas semelhantes e diferentes, amáveis e difíceis, maduras ou imaturas. Cristo não amou pessoas fáceis, pelo contrário, “Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando ainda éramos pecadores” (Rm 5.8). Éramos pecadores, não bonzinhos. Lembremo-nos disso.

O amor precisa crescer e isso é uma impossibilidade humana. Sim, precisamos amar de verdade, mas humanamente falando isso é impossível. Pelas nossas próprias forças e guiados pelos nossos amores desorientados, não daremos conta do recado. Não é à toa que Paulo coloca essa ordem de amar em uma oração – “E o Senhor faça com que cresça e aumente o amor”. Paulo recorre à ajuda divina para isso. Ele ora. Somente o poder do Espírito de Deus pode nos ajudar nesse caminho. O que é impossível para os homens, para Deus é possível (Mc 10.27). A oração, portanto, é fundamental para o crescimento do amor. Devemos orar para que nossos corações parem de amar coisas no lugar de pessoas. Para que não amemos uma planta ao invés de pecadores ninivitas (Jn 4). Oremos para que nosso amor-próprio diminua na medida em que o amor por outros cresce. Devemos orar para amarmos inclusive nossos inimigos e é significativo o fato de Cristo ter colocado as duas palavras “amor” e “oração” na mesma frase: “Eu, porém, lhes digo: amem os seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês…” (Mt 5.44). Oração e amor caminham de mãos dadas e ao oramos para amarmos pessoas difíceis, talvez Deus não mude o jeito delas, mas ele mudará nossos corações e derramará em nós o amor divino capaz de amar o pior tipo de gente – pecadores. É isso que somos e foi assim que Jesus nos amou.


[1] LEWIS, C.S. Os quatro amores. WMF Martins Fontes; 2ª edição (1 janeiro 2009).

A Regra do amor

Como a igreja local deve refletir o amor e a autoridade de Deus

Neste livro, Jonathan Leeman nos direciona ao ensino bíblico sobre o amor, respondendo questões cruciais, tais como: “por que o amor é mal entendido?”, “como é o amor de Deus e como este amor se relaciona com a igreja?”. Em uma era marcada pelo consumismo, individualismo e tribalismo, Leeman mostra como amor e autoridade andam juntos – e como ambos se manifestam na vida comunitária do povo de Deus.

Confira