Um blog do Ministério Fiel
É assim que sua igreja deve cantar
Cristãos são um povo que canta.
Mulçumanos não se reúnem para cantar. Nem hindus, budistas, ou rastafáris. Mas cristãos sim. Do mesmo modo, embora nem todos preguem, nem conduzam a oração, nem leiam publicamente a Escritura, todos nós cantamos. [1]
Mas o que podemos dizer acerca da natureza de um cântico cristão corporativo? Como ele deve ser? Nós podemos cantar qualquer tipo de cântico quando nos reunimos?
Como um cântico congregacional deve ser
Se a nossa adoração corporativa está sujeita ao princípio regulador ou, simplesmente, ao princípio da consciência, a prática do canto deve ser seriamente considerada à luz da Escritura. E o Salmo 96 oferece algumas perspectivas cruciais acerca da natureza de um cântico correto e de seus efeitos. Originalmente escrito para o povo da aliança de Deus para a entrada da arca da aliança em Jerusalém (vide 1Crônicas 16), este salmo tem muito a nos oferecer no que se refere à prática do canto hoje.
Um cântico congregacional deve focar em Deus
Deus está no centro de um cântico cristão. Quando Deus chama o seu povo a cantar, é um tipo específico de canção. No Salmo 96.1, Deus diz: “Cantai ao SENHOR”.
Quando a igreja está reunida no nome de Deus, a glória de Deus é o alvo da nossa melodia. Nós devemos cantar para ele, sobre ele e por causa dele. Nós não cantamos meramente como o mundo canta acerca das coisas criadas; a nossa canção é elevada Àquele que é Incriado. Os cânticos da igreja proclamam o caráter, os atributos e os caminhos do Deus da nossa salvação.
Para aqueles que escolhem os cânticos para a adoração corporativa, esta é uma tarefa a ser executada com sobrieddade. Mark Dever e Paul Alexander dão este conselho aos pastores: “Como o principal pastor docente, é sua responsabilidade conduzir a congregação aos pastos verdejantes de cânticos centrados em Deus e no evangelho, e para longe das planícies áridas do vácuo teológico, das meditações na experiência humana e do frenesi emocional”. [2] Se os nossos cânticos nunca estão compostos acima do vazio, da experiência humana e das emoções, nós falhamos em nossa meta. Deus deve ser o centro da nossa adoração; portanto, Deus deve ser o centro dos nossos cânticos.
Um cântico congregacional deve ser bíblico
Os cânticos da igreja devem ser construídos sobre a palavra de Deus, moldados por ela e saturados por ela. Cantar é um modo singular de fazer a palavra de Cristo habitar ricamente em nós (Colossenses 3.16).
No Salmo 96.2, nós vemos que devemos bendizer o seu nome. Sem a revelação de Deus, nós não conheceríamos o seu nome, tampouco como bendizer o seu nome. O nosso canto e tudo o mais em nossa adoração deve ser biblicamente informado para que estes mandamentos sejam cumpridos. Os cânticos da igreja devem ser intencionalmente bíblicos.
Nós podemos pensar no canto como uma forma de exposição que usa a poesia para ensinar a palavra de Deus. Quando Isaac Watts publicou seu Psalms, Hymns, and Spiritual Songs [Salmos, Hinos e Cânticos Espirituais], essa era a sua intenção. Sua meta não era cantar a Escritura linha por linha, mas criar versões poéticas e emotivas da Escritura que permitissem à igreja cantar as verdades da Escritura.
Cânticos são sermões. Eles não funcionam como exegeses homiléticas, mas eles articulam, explicam e anunciam verdades bíblicas. Nossos hinos ensinam e moldam a forma como as pessoas veem Deus, o homem, Cristo, e como nós devemos viver à luz do evangelho.
Um modo de assegurar que nosso canto é bíblico é esquadrinhar nossos cânticos a fim de ver se eles cobrem a amplitude de temas apresentados ao longo do cânon. Nossos cânticos devem se manter fieis à luz da palavra de Deus para assegurar que nós estamos cantando as glórias da sua verdade.
Um cântico congregacional deve apontar para o evangelho
Os contornos do evangelho devem moldar a nossa hinódia. Nós devemos “proclamar a sua salvação” (v. 2), de modo que o evangelho ressoa como o tema dos nossos cânticos. Se nós estamos convencidos da primazia do ministério centrado no evangelho, devemos certamente praticar o canto centrado no evangelho. Os cânticos de nossas igrejas devem ser fluentes no evangelho.
Uma abordagem para o canto centrado no evangelho pode ser construído a partir da estrutura Deus, homem, Cristo, resposta.
– Nós cantamos a Deus como o santo criador de todas as coisas, o qual é digno de adoração.
– Nós cantamos acerca do homem e da nossa natureza pecaminosa, da nosa separação de Deus, e da nossa necessidade de perdão.
– Nós cantamos acerca de Cristo, que é plenamente Deus e plenamente homem, que viveu uma vida sem pecado e morreu na cruz para levar a ira de Deus.
– Nós cantamos uma resposta. Nessas canções de consagração e arrependimento, fé e louvor, nós alegremente respondemos às boas novas de Jesus.
Um cântico congregacional deve ser congregacional
O prefácio deste Salmo diz que ele deveria ser cantado tanto por Asafe como por seus filhos (1Crônicas 16.7). O cântico cristão é essencialmente congregacional.
O cântico da redenção não é designado para um, mas paraa muito. Na torrente do individualismo e da autoajuda, o povo de Deus não canta como um agrupamento de indivíduos, mas como um só povo unido a Cristo. O cântico cristão não é feito para pôr em destaque uns poucos talentosos, mas para incluir as vozes dos muitos. A participação congregacional protege a assembleia da ostentação e pompa, e provê o ambiente para uma resposta exultante e cheia de graça à revelação de Deus.
Este coro dos redimidos eleva uma voz coletiva de louvor como testemunho de que nós fomos reconciliados com Deus e uns com os outros. Cantar juntamente em adoração é uma marca da unidade da igreja. O cântico dos redimiddos deve ser cantado por jovens e velhos, ricos e pobres, fortes e fracos. O versículo 7 nos lembra de as famílias dos povos tributam louvor a Deus: povos de toda tribo, língua e nação sobre a terra.
Um cântico congregacional deve ser evangelístico
Embora a adoração seja teocêntrica, ela também é declarativa. Nosso canto é direcionado para Deus, mas ele também ressoa nos ouvidos do nosso próximo. Adoração centrada em Deus é proclamação. À medida que nós cantamos sobre a glória de Deus, entendemos que nem todos viram a sua glória. À meddida que cantamos sobre a bondade do evangelho, percebemos que ele não é boas novas para todos.
Spurgeon chamou este Salmo de o “Salmo Missionário”, e por uma boa razão. Nos versículos 10 a 13, nós vemos que o canto centrado em Deus intrinsecamente opera como uma declaração aos perdiddos. A centralidade de Deus e o evangelismo não são dois alvos concorrentes, mas um alvo dentro do outro. A adoração a Deus é a meta do evangelismo.
No mesmo fôlego, nós cantamos o amor e a ira de Deus. Nas mesmas melodias, nós declaramos a sua santidade e o grave efeito do pecado. Cristo é o rei que virá julgar o mundo com justiça e os povos, consoante a sua fidelidade. Nós dizemoss entre as nações: “Reina o SENHOR” na esperança de que homens e mulheres se arrependerão do pecaddo e confiarão em Cristo.
Uma prática santa
A igreja recebeu um cântico para cantar, e Cristo é o seu autor, a sua substância e o seu alvo.
Os cânticos de uma igreja não são um mero preâmbulo do sermão. O canto não existe para preencher o tempo e aquecer a congregação. O canto é uma prática santa. Nós cantamos porque Deus nos ordenou, e os nossos cânticos devem encher de deleite os nossos corações.
Notas:
[1] Agradeço a Collin Hansen por articular essa ideia em uma conversa.
[2] Mark Dever e Paul Alexander. The Deliberate Church: Building Your Ministry on the Gospel. Wheaton: Crossway, 2005, p. 85 (publicado em português com o título Deliberadamente igreja: edificando o seu ministério sobre o evangelho [São José dos Campos: Editora Fiel, 2008]).