[Sofrimento e a Glória de Deus] Ed Welch – O que não dizer para aqueles que estão sofrendo

“Poderia ser pior. Você poderia ter quebrado as duas pernas.”

Nós temos algumas maneiras interessantes de animarmos uns aos outros.

A maioria dos nossos comentários genéricos para pessoas que estão sofrendo são oferecidos com boas intenções, e a maioria deles é tratada pelos receptores como equivocados, não como maliciosos, mas, com certeza, seria bom melhorarmos nosso histórico de encorajamento.

Todos nós poderíamos fazer uma lista das 10 palavras que falamos (ou ouvimos) que mais nos fazem sentir vergonha, quando nos lembramos delas. Aqui vai uma que, eu suspeito, estaria em muitas dessas listas:

“O que Deus está te ensinando por meio disso?”

Hmmm. Isso é verdade. Deus, de fato, nos ensina em nosso sofrimento, e ele trabalha todas as coisas para o bem. Concordamos com C. S. Lewis quando ele diz que a dor é o megafone de Deus para acordar um mundo ensurdecido. Mas a história de Jezebel e suas entranhas servindo de comida para os cães também é verdade. Estamos aqui para procurar verdades que sejam relevantes, pastorais e edificantes.

Considere alguns dos problemas dessa pergunta:

  • Ela tende a ser condescendente.  Se você já ouviu essa pergunta de alguém, você provavelmente não ouviu compaixão acompanhando.
  • Ela sugere que o sofrimento é uma charada decifrável. Deus tem algo específico em mente, e nós temos que adivinhar o que é. Bem vindo a um jogo cósmico de 20 perguntas, e é melhor descobrir a resposta logo; de outra forma, o sofrimento continua.
  • Ela sugere que nós fizemos algo que desencadeou o sofrimento.
  • Ela passa por cima do chamado de Deus a todos que sofrem: “Confiem em mim”.

Respondendo brevemente a esses quatro problemas,

  • Sofrimento nos leva à humildade. As Escrituras nos fornecem vários comentários sobre o sofrimento humano, mas nenhum deles é exaustivo. O mistério do sofrimento nos lembra que somos ainda como crianças que não entendem como bons pais poderiam colocar dificuldades em seu caminho. À luz do mistério, a humildade é natural e necessária. Para aqueles que conversam com pessoas que sofrem, a humildade perante o Senhor é expressa em humildade perante aquele que sofre.
  • Nós interpretamos o sofrimento além da conta. Eu estou conversando com uma pessoa que passou por sofrimentos horríveis em sua vida, e “O que Deus está tentando te dizer?” tem sido a questão que todo mundo pergunta. Ela já se perguntou por anos o porquê de não ter achado a resposta ainda. Só o que ela pode imaginar é que ela é pecadora demais para entender, ou que Deus não está respondendo seus questionamentos – então ela alterna momentos de culpa e de frustração. Jó, no Antigo Testamento, e o cego de nascença, no Novo Testamento (João 9), deveriam nos manter afastados das especulações sem fim a respeito dos intentos de Deus. Nenhum dos dois entendeu o que Deus estava ensinando para eles.
  • Focar na relação pecado-sofrimento pode ser perigoso. Claro, a pergunta pode não assumir logo de cara que a pessoa está em pecado. Ela pode ter sido elaborada de forma positiva, tipo “O que você tem aprendido sobre Deus nisso tudo?”. Mas, a não ser que haja uma conexão muito clara entre o pecado e o sofrimento da pessoa, e isso é óbvio para todos os crentes do planeta, então não deveríamos fazer essa conexão e fazer tudo que pudermos para impedir a pessoa que sofre de fazer o mesmo. Muitos de nós vemos mais dos nossos pecados quando estamos sofrendo – eu sei que eu vejo – mas isso não significa que nosso pecado foi a causa do sofrimento.
  • Idéias podem trabalhar contra a fé. Com isso, não quero dizer que devemos ser estóicos de cabeça vazia em nosso sofrimento. Mas quando nosso objetivo principal é descobrir a mensagem pessoal sobre uma deficiência específica de nossas vidas, estamos descansando em nosso entendimento humano, não no caráter plenamente revelado de Deus. A fé é nosso chamado no sofrimento – fé em Jesus Cristo. Isso não é um salto impensado em direção ao desconhecido. É uma mudança no coração, de nós para Jesus. Em nosso sofrimento, queremos lembrar que Deus é, de fato, bom e compassível. A encarnação de Jesus e seu sofrimento voluntário, culminando na cruz, são evidências inegáveis. Assim, devemos confiar nele.

Alguns ouviram a pergunta “O que Deus está te ensinando?” e, apesar de não serem edificados, também não foram desmotivados. Provavelmente essa pergunta não foi a primeira a ser feita, e foi feita em um meio a um relacionamento já estabelecido. Na dúvida, desista completamente de fazê-la.

Substitua por algo assim:

“Como posso orar por você?”

Essa é uma pergunta trabalhosa. Com ela, estamos nos achegando ao que sofre, estamos lembrando a eles que Deus ouve, estamos pedindo que eles considerem as promessas de Deus, e estamos dizendo que os levaremos em nosso coração. Se você receber uma resposta como “ore para Deus me deixar em paz” ou um olhar de desprezo – algo que sugira raiva ou indiferença espiritual – fale então de algo que seja uma promessa de Deus, como o conforto de saber que ele nos ama e está sempre conosco.

Melhor ainda, podemos orar pela pessoa ali mesmo. “Como eu posso orar por você agora?”. E em seguida vem a parte mais importante – dar seguimento. Quando oramos por alguém, deveríamos continuar orando até que vejamos o agir de Deus.

E não fui eu quem disse aquilo sobre as duas pernas. Eu sou culpado de muitos outros comentários nada edificantes, mas eu não disse aquele das pernas. Um “amigo meu” quem falou. É sério.

 

Por: Ed Welch. Website: ccef.org

Tradução: Filipe Schulz | iProdigo.com