Um blog do Ministério Fiel
Thomas Watson – As Piores Coisas (2/8)
Um trecho do sermão “A Divine Cordial” (Um Tônico Divino)- 1663
Para ver a relação de postagens, acesse o índice.
“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o Seu propósito”. (Romanos 8:28)
1. O mal da AFLIÇÃO coopera para o bem do homem piedoso.
(4). Aflições cooperam para o bem, pois elas são destrutivas para o pecado. O pecado é a mãe, a aflição é a filha; a filha ajuda a destruir a mãe. O pecado é como a árvore que gera um verme, e a aflição é o verme que come a árvore. Há muita corrupção no melhor coração; a aflição trabalha aos poucos para remover essa corrupção, como o fogo trabalha para remover a escória do ouro, “E voltarei contra ti a minha mão, e purificarei inteiramente as tuas escórias; e tirar-te-ei toda a impureza.” (Isaías 1:25) Se tivéssemos mais da nossa aspereza polida – se tivéssemos menos ferrugem! Aflições tiram de nós nada mais do que as escórias do pecado. Se um médico disser a um paciente: “Seu corpo está pálido e com muitas infecções que precisam ser tratadas ou você morrerá. Mas eu vou lhe prescrever um remédio que, embora possa fazer você ficar doente, apesar disso vai retirar os resíduos da sua doença e salvará sua vida”. Isso não seria para o bem do paciente? Aflições são remédios que Deus usa para nos curar de nossas doenças espirituais; elas curam o inchaço do orgulho, a febre da luxúria, o câncer da avareza. Elas não cooperam então para nosso bem?
(5). Aflições cooperam para o bem, pois elas são meios de desprender nosso coração do mundo. Quando você escava para retirar terra da raiz de uma árvore, é para afastar a árvore da terra. Assim também Deus escava para retirar nossos confortos mundanos e para desprender nosso coração da terra. Um espinho cresce com qualquer flor. Deus teria o mundo suspenso como um dente frouxo que ao ser puxado não nos incomodaria mais. Não é bom ser liberto? Os santos do passado precisaram. Por que o Senhor quebra o tubo-condutor, senão para que possamos ir a Ele, em Quem “são todas as nossas fontes” (Salmo 87:7)?
(6). Aflições cooperam para o bem, pois elas são um meio de nos confortar. “E lhe darei o vale de Acor por porta de esperança” (Oséias 2:15). Acor significa sofrimento. Deus adoça a dor externa com a paz interna. “A vossa tristeza se converterá em alegria.” (João 16:20). Aqui é onde a água se transforma em vinho. Depois de uma amarga pílula, Deus dá o açúcar. Paulo cantou na prisão. A vara de Deus tem mel no seu final. Os santos em aflição tiveram tão doces êxtases de alegria, que eles mesmos achavam-se nas fronteiras da Canaã celestial.
(7). Aflições cooperam para o bem, pois elas nos engrandecem. “Que é o homem, para que tanto o engrandeças, e ponhas nele o teu coração, e cada manhã o visites?” (Jó 7:17-18). Pela aflição Deus nos engrandece de três formas:
(1ª) Em nossas aflições, Ele irá condescender até o baixo nível de nos notar. É uma honra que Deus se importe com poeira e cinzas. O fato de Deus julgar-nos dignos de sermos afligidos nos engrandece. Deus não nos castigar é nos menosprezar: “Por que seríeis ainda castigados?” (Isaías 1:5). Se vocês irão continuar no pecado, então sigam seu curso — pecando para o inferno.
(2ª) Aflições também nos engrandecem, pois são insígnias de glória, sinais de filiação. “Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos” (Heb. 12:7a). Cada marca da vara é um emblema de honra.
(3ª) Aflições tendem a ser o engrandecimento dos santos, pois elas os tornam renomados no mundo. Soldados nunca foram tão admirados pelas suas vitórias, como os santos foram pelos seus sofrimentos. O zelo e constância dos mártires em suas provações renderam-lhes fama para a posteridade. Quão eminente foi Jó por sua paciência! Deus deixou seu nome registrado. “Ouvistes qual foi a paciência de Jó” (Tiago 5:11). Jó, o sofredor, foi mais renomado que Alexandre, o Conquistador.
(8). Aflições cooperam para o bem, pois elas são meios de nos fazer felizes. “Eis que bem-aventurado é o homem a quem Deus repreende” (Jó 5:17). Que político ou moralista alguma vez encontrou felicidade nas aflições? Jó encontrou. “Eis que bem-aventurado é o homem a quem Deus repreende”.
Alguém pode dizer: “Como as aflições nos fazem felizes?” Nós respondemos que, sendo santificadas, elas nos trazem para perto de Deus. A lua quando cheia está mais longe do sol; assim, muitos estão bem longe de Deus na lua cheia da prosperidade. Aflições os trazem para perto de Deus. O ímã da misericórdia não nos aproxima tanto de Deus quanto as cordas da aflição. Quando Absalão pôs fogo no pedaço de campo de Joabe, então ele veio correndo a Absalão (2 Samuel 14:30). Quando Deus põe fogo em nossos confortos mundanos, aí nós corremos para Ele, e encontramos paz nele. Só quando o pródigo sofreu aperto e necessidade, ele retornou à casa do seu pai (Lucas 15:14). Quando a pomba não pôde encontrar descanso para a planta de seus pés, só então ela voou para a arca. Quando Deus traz um dilúvio de aflições para nós, só então voamos para arca, que é Cristo. A fé pode fazer uso das águas das aflições, para nadar mais rápido para Cristo.
A lua quando cheia está mais longe do sol; assim, muitos estão bem longe de Deus na lua cheia da prosperidade.
(9). Aflições cooperam para o bem, pois elas silenciam o ímpio. Como eles estão prontos para difamar e caluniar o homem piedoso dizendo que eles servem a Deus apenas por interesse próprio. Portanto Deus terá seu povo suportando sofrimentos para a religião, para que Ele possa colocar um cadeado nos lábios mentirosos dos ímpios. Quando os ateus de todo o mundo veem que Deus tem um povo, que O servem, não por algo em troca, mas por amor; isso fecha suas bocas. O diabo acusou Jó de hipocrisia, dizendo que ele era um mercenário, que toda sua religião era baseada a fim de ter prata e ouro. “Porventura teme Jó a Deus debalde? Porventura tu não cercaste de sebe?” Etc. “Bem”, diz Deus, “estende a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem” (Jó 1:9-12). O diabo mal havia recebido a comissão e já desceu destruindo a sebe de Jó; mas Jó ainda adora a Deus (Jó 1:20) e professa sua fé nele. “Ainda que ele me mate, nele esperarei” (Jó 13:15). Isso silenciou o próprio diabo. Como isso atinge em cheio ao ímpio, quando eles veem que o homem piedoso se manterá perto de Deus mesmo numa condição de sofrimento, e que, mesmo quando eles perdem tudo, eles ainda permanecerão na sua integridade.
(10). Aflições cooperam para o bem, pois elas nos guiam para a glória (2Co 4:17). Não que elas mereçam a glória, mas elas nos preparam para isso. Como o arado prepara a terra para a colheita, assim as aflições nos preparam e nos tornam aptos para a glória. O pintor coloca a cor dourada sobre as cores escuras, como Deus primeiro põe as cores escuras das aflições, e só depois Ele deposita a cor dourada de glória. O vaso é primeiro experimentado para o vinho ser derramado nele; os vasos de misericórdia são primeiro experimentados com aflições, só depois o vinho da glória é derramado neles. Deste modo, vemos que as aflições não são prejudiciais, mas são benéficas. Não devemos olhar muito para o mal da aflição, como para o bem; não tanto quanto o lado escuro da nuvem como para a luz. O pior que Deus faz com seus filhos é chicoteá-los para o céu!