Um blog do Ministério Fiel
Franklin Ferreira – O Teísmo Aberto: a Glória Roubada de Deus
Creio em Deus, o Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra
Esse sempre foi um ensino básico e inegociável para a igreja. No passado, os fiéis em unanimidade confessavam crer que há um único Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, e que esse Deus é todo-poderoso e criador do céu e da terra.
“Para ele, ‘nada é impossível’ (Jr 32.17,27). Dessa forma, a idéia de poder divino todo-poderoso é especificamente israelita. (…) É verdade que, nas versões gregas primitivas do Credo Apostólico, a afirmação de Deus como todo-poderoso se expressa por meio do título grego pantocrator, senhor de tudo… (…) No entanto, muito tempo antes, a palavra tornara-se familiar à tradição judaica e cristã, através da tradução grega do Antigo Testamento, na qual a combinação kyrios pantocrator era usada como tradução para o nome veterotestamentário de Deus, Yahweh Sabaoth. Ademais, tal tradução mostra, mais uma vez, o quanto o poder absoluto de Yahweh permanecia no centro da fé judaica. A menção do poder divino todo-poderoso no Credo Apostólico, portanto, salienta a identidade do Deus da fé cristã com o Deus de Israel. O fato de nada ser-lhe impossível foi mostrado de forma renovada aos cristãos, por meio da ressurreição de Jesus dentre os mortos (cf. Rm 4.24). O poder todo-poderoso de Deus, contudo, incluía seu caráter como criador de todas as coisas. Quando a confissão de fé em Deus como o todo-poderoso governante de tudo foi melhor elucidada pela adição de referência explícita à criação do mundo, tal fato, portanto, não passou de mera expressão daquilo que já estava incluído na idéia de poder todo-poderoso. Se Deus é, de fato, todo-poderoso, não apenas o mundo visível, a terra, mas também o mundo invisível, o céu, são obra de suas mãos.” (Por Wolfhart Pannenberg, citado em Franklin Ferreira, Teologia Cristã)
Por vinte séculos, a igreja sempre proclamou que o Pai é o Deus onipotente do Antigo Testamento. Somente as seitas tentavam negar isso, como a seita marcionita (que afirmava que o “deus do antigo testamento era um diabo”). Os Pais da Igreja afirmaram a soberania divina em seus escritos e sempre enfatizaram a presciência divina, especialmente em face do problema do mal. Contudo em 1980 alguns professores de seminários começaram a questionar isso. Seus nomes eram:
- Greg Boyd (Independente)
- Clark Pinnock (Batista)
- John Sander (Pentecostal)
- David Basinger (Metodista)
O teísmo aberto pode ser resumido em cinco proposições:
- O conhecimento que Deus tem de todas as coisas não é estabelecido na eternidade (dessa forma Deus aprende com a história, com a reação dos seres humanos);
- Sua presciência não é exaustiva porque ele se autolimita;
- O relacionamento providencial com o mundo não é meticuloso (exaustivo – o poder de Deus está limitado pelo livre-arbítrio humano);
- O futuro não está totalmente seguro;
- Se o homem tem livre-arbítrio, então Deus não pode ordenar nem conhecer os eventos que irão acontecer no futuro. O futuro está em aberto no sentido de ser tanto criação do homem como de Deus.
Eis o que Clark Pinnock afirmou:
“A idéia da responsabilidade moral exige que acreditemos que as ações não são determinadas, nem interna nem externamente. Uma importante implicação desta forte definição de livre-arbítrio é que a realidade permanece, em certa extensão, aberta, e não fechada. Isto significa que uma novidade genuína pode aparecer na história, que não pode ser prevista por ninguém, nem mesmo por Deus. […] Tal conceito implica em que o futuro realmente está em aberto, e não disponível à exaustiva presciência nem mesmo da parte de Deus. Fica bem claro que a doutrina bíblica do livre-arbítrio humano exige de nós que reconsideremos a perspectiva convencional da onisciência de Deus.”
Pinnock afirmava que para o ser humano ser moralmente responsável, suas ações não poderia ser determinadas nem exteriormente, nem interiormente. Pinnock não começa com a revelação de Deus (começar “do alto”), mas a partir do que ele afirma sobre o ser humano (começar “de baixo”), ele determina como deve ser Deus.
Nota: o Teísmo Aberto afirma que para o homem ter livre-arbítrio, Deus não pode ser onisciente. Arminianos não afirmam o mesmo.
Livre-arbítrio segundo Agostinho: todo ser humano tem livre-arbítrio, mas não mais liberdade. O ser humano tem liberdade psicológica de fazer escolhas, mas essas escolhas não são neutras, elas são de acordo com a natureza humana caída. Adão e Eva podiam escolher pecar e não pecar. Agora, a ser humana caída só pode escolher pecar.
Visão “Aberta”
Visão Tradicional
A soberania de Deus tem sido autolimitada em virtude da criação de agentes livres.
Deus é soberano e controla todas as coisas no mundo criado, incluindo as ações dos agentes responsáveis.
O poder de Deus termina onde a vontade do homem começa, e o próprio Deus estabeleceu esta autolimitação.
O poder de Deus engloba o universo inteiro, todavia, de forma que “a vontade da criatura não é violentada”.
O conhecimento de Deus é autolimitado, porque o pré-conhecimento das ações dos agentes livres evidenciaria que eles não são livres.
O conhecimento de Deus engloba todas as coisas possíveis, e especificamente todas que acontecerão. Ele inclui o conhecimento eterno das futuras ações e decisões dos agentes livres.
O plano de Deus tem muitos vazios devido às ações ou decisões imprevistas dos agentes livres. A grandeza de Deus é manifestada por ele ser capaz de se deparar com qualquer coisa que aconteça.
Deus tem um plano eterno que certamente será realizado. Para ele não há surpresa e nem desapontamento.
A profecia é baseada sobre as suposições de Deus do que irá acontecer, sendo condicionada a ações ou decisões dos agentes livres. Esta condicionalidade não é sempre expressada em conexão com a profecia, promessa ou advertência. Por conseguinte, tem-se a aparição de não cumprimentos, conforme a história de Jonas e Nínive.
A profecia preditiva é baseada no conhecimento exaustivo e será certamente realizada.
Deus está constantemente pronto para ajustar seus planos às circunstâncias. Se o plano A falhar, ele pula para o plano B.
O plano de Deus é imutável, assim como a natureza de Deus. Expressões que falem de Deus se arrependendo devem ser vistas como antropomórficas.
A oração é uma atividade eficaz através da qual anjos e homens podem funcionar como conselheiros de Deus e mudar sua opinião.
O poder da oração é visto como uma causa secundária no cumprimento do desígnio de Deus, assim como as outras causas secundárias são instrumentais nesta maneira. A oração muda certos acontecimentos, mas não muda a opinião de Deus.
O ser de Deus é abalado pelas emoções de alegria e tristeza. Isto é essencial à sua personalidade trinitária.
Deus não é como os seres humanos, suscetível a mudanças emocionais. Mas ele não é impassível, porque a Escritura o representa como misericordioso.
Os teístas abertos argumentam que os textos que falam que Deus se arrepende (como em Gênesis 6 e no livro de Jonas) são literais. Porém, ainda que os autores bíblicos falem sobre a ira, o arrependimento, os pés e as mãos sobre Deus, isso não significa que Deus tenha tais coisas. Esta é uma forma humana de se referir a Deus, um antropomorfismo. Além do mais, a palavra traduzida por “arrependimento” (em hebraico “nâcham”) pode também ser traduzida por entristecer-se, ter repulsa.
O amor de Deus é a sua suprema perfeição, e todos os outros atributos devem ser revistos e, se necessário for, reinterpretados segundo este novo entendimento do amor divino.
O amor de Deus, que é a maravilhosa expressão de seu ser, não pode ser interpretado em separado de outras perfeições: santidade, justiça, ira santa do pecado, do diabo e dos rebeldes não-redimidos.
A expressão “Deus é amor” em 1 João 4:8 não pode ser separada dos outros atributos de Deus. No contexto a afirmação é uma expressão trinitariana, do Deus Pai enviando seu Filho unigênito para morrer uma morte propiciatória na cruz por causa do nosso pecado e da santidade e justiça de Deus (veja o versículo 10). Não há de forma bíblica como fazer uma hierarquia nos atributos de Deus.
A predestinação de Deus não está relacionada com indivíduos: ela é a bênção de Deus sobre todo aquele que, seja quem for, se arrepende e crê por sua própria iniciativa. Ela pode ser algumas vezes uma escolha de Deus para o serviço.
A predestinação de Deus é aquela provisão graciosa pela qual, como resultado de sua bondade e misericórdia, ele escolheu uma multidão da raça humana pecaminosa e rebelde, e determinou que eles recebessem todos os benefícios de sua salvação, providos para eles na obra de Cristo e aplicados neles no devido tempo pelo Espírito Santo.
Deus é tão misericordioso que não permite que alguém sofra o tormento eterno. Aqueles que não forem salvos simplesmente cessarão de existir.
Aqueles que não são salvos sofrerão inevitavelmente as consequências do pecado de Adão e de sua própria rebelião pecaminosa, e serão para sempre separados de Deus.
Consequências Últimas
1. A noção de que há mudança na divindade tem sua origem na filosofia do processo, cujas raízes remontam à filosofia grega.
2. Esta compreensão de Deus implicará o abandono da confiança nas Escrituras, a negação da distinção Criador–criatura, a Trindade, a presciência e soberania divinas, a morte penal e substitutiva de Cristo, assim como conduzirá seus adeptos ao maniqueísmo dualista.
3. A esperança do triunfo escatológico é minada.
Conclusões
1. Os seguidores de outras religiões precisam saber que o Deus trino é, de forma absoluta, mais poderoso do que os deuses deles. Como podemos esperar que um muçulmano se converta a uma divindade que é incapaz de realizar seus planos e anseios? Esta divindade, aos olhos de um muçulmano, não é digna de devoção e serviço. Como esperar que um animista dê mais crédito a um deus tão “fraco” do que ele dá aos outros seres do mundo espiritual? Ele veria esta divindade como mais um espírito que ele pode tentar manipular através da feitiçaria.
2. A presciência de Deus sobre tudo que vai acontecer é vista por Isaías como evidência de sua singularidade dentre todos os deuses (Isaías 46.9-10).
3. Sugerir que Deus está em processo contínuo de aprendizado e adaptação a um futuro desconhecido contraria a perspectiva bíblica de Deus, descrito como onipotente, onisciente, magnífico e majestoso, digno de glória (Ex 14.31; 15.6; Sl 8.1; Is 42.8).
4. A negação de que Deus previu as escolhas pecaminosas das criaturas responsáveis enfraquece a confiança no plano da salvação. Se Deus não pudesse prever a livre escolha de Adão para pecar – seguindo-se a queda do homem – Ele não teria necessidade de planejar a salvação através de Jesus Cristo. Mas desde a eternidade Deus planejou a salvação através de Jesus Cristo, em resposta às consequências da Queda que Ele havia previsto (2Tm 1.9; Ap 13.8).
5, Afirmar que “o destino eterno de cada pessoa será finalmente determinado por Deus com base na ‘luz’ disponível para ele ou ela (ou por outro critério)” leva-nos a concluir que o sacrifício de Cristo na cruz não é central e que talvez nem fosse necessário.
6. A ideia de que Deus e o mundo são mutuamente interdependentes margeia o panteísmo, isto é, que Deus está substancialmente presente em tudo. Mas a Escritura afirma que Deus existe separado de sua criação e tem supremacia sobre esta (Gn 1.1; Sl 8.3-8).
“Deus é um Deus glorioso. Não há ninguém como Ele, que é infinito em glória e excelência. Ele é o Altíssimo Deus, glorioso em santidade, temível em louvores, que faz maravilhas. Seu nome é excelente em toda a terra, e sua glória está acima dos céus. Entre todos os deuses não há nenhum como Ele… Deus é a fonte de todo o bem e uma fonte inextinguível; ele é um Deus todo suficiente, capaz de proteger e defender… e fazer todas as coisas… Ele é o Rei da glória, o Senhor poderoso na batalha: uma rocha forte, e uma torre alta. Não há nenhum como o Deus … que cavalga no céu…: o eterno Deus é um refúgio, e sob Ele estão braços eternos. Ele é um Deus que tem todas as coisas em suas mãos, e faz tudo aquilo que lhe agrada: ele mata e faz viver; ele leva ao túmulo e ergue de lá; ele faz o pobre e o rico: os pilares da terra são do Senhor… Deus é um Deus infinitamente santo; não há nenhum santo como o Senhor. E Ele é infinitamente bom e misericordioso… Este é um Deus que se deleita na misericórdia; sua graça é infinita, e permanece para sempre. Ele é o próprio amor, uma infinita fonte e um oceano dele”. (Jonathan Edwards, Ruth’s Resolution, 1735)
Por: Franklin Ferreira. Palestrado no dia 10/02/13, na 15ª Consciência Cristã (VINACC). Copyright © Franklin Ferreira.
Resumo por:Voltemos Ao Evangelho. Original: Franklin Ferreira – O Teísmo Aberto: a Glória Roubada de Deus
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