Um blog do Ministério Fiel
Não tenho rotina
Enquanto trabalhava em meu livro Super Ocupado, percebi o quão importante é ter ritmo em minha vida. Frequentemente aparecem coisas para fazer, e frequentemente elas parecem pior do que poderiam ser, porque não fazemos uma distinção precisa entre trabalho e descanso.
É fácil encontrar pessoas que pensam que trabalho é bom e lazer é ruim (ou seja, você descansa para trabalhar). Você também pode encontrar pessoas que pensam que lazer é bom e trabalho é ruim (ou seja, você trabalha para descansar). Mas de acordo com a Bíblia, tanto o trabalho quanto o descanso podem ser bons se são feitos para a glória de Deus. A Bíblia louva o trabalho duro (Provérbios 6:6-11; Mateus 25:14-30; 1 Tessalonicenses 2:9; 4:11-12; 2 Tessalonicenses 3:10) e também enaltece a virtude do descanso (Êxodo 20:8-11; Deuteronômio 5:12-15; Salmo 127:2). Ambos têm seu lugar. A parte difícil é colocá-los em seus devidos lugares.
Muitos de nós somos menos ocupados do que pensamos, mas a vida parece constantemente opressiva porque nossos dias, semanas e anos não têm rotina. Um dos perigos da tecnologia é que o trabalho e o descanso se misturam em um mingau confuso. Nós nunca deixamos de fato o trabalho quando estamos em casa, então no dia seguinte nós temos dificuldade em retornar ao trabalho quando estamos no trabalho. Nós não temos rotina, nenhuma ordem em nossos dias. Nunca estamos completamente “ligados” e nunca totalmente “desligados”. Então ficamos ociosos no escritório passando vinte minutos no YouTube, e mais tarde checamos os e-mails por quarenta minutos na frente da TV em casa. Talvez este ajuste funcione para alguns empregadores e pode parecer libertador para muitos funcionários. Mas ao longo do tempo a maioria de nós trabalha menos efetivamente, quer seja em casa ou fora de casa, e achamos nosso trabalho menos desfrutável quando não há um intervalo regular, concentrado e deliberado.
Não muito tempo atrás, o Wall Street Journal publicou um artigo fascinante sobre o quatro vezes campeão olímpico Bernard Lagat. Natural do Quênia, mas agora cidadão dos Estados Unidos, Lagat detém sete recordes americanos de atletismo leve, entre 1.500 e 5.000 metros. De acordo com o artigo, um dos segredos de sua corrida é, na verdade, não correr. Após onze meses de intenso treinamento e competição, Lagat “guarda o tênis no armário e se empanturra de comida por cinco semanas. Sem corrida. Sem abdominais. Ele treina o time de futebol de seu filho e ganha quase 4 quilos”. Ele tira esse longo tempo de repouso todo outono desde 1999. Lagat diz que “descanso é uma coisa boa” e chama seu mês de inatividade de “puro êxtase”. Até mesmo os melhores do mundo precisam de um intervalo. De fato, eles não seriam os melhores sem um intervalo. Ociosidade não é uma mera indulgência ou vício. Ela é necessária para realizar qualquer coisa.
As pessoas gostam de dizer que a vida é uma maratona, e não 100 metros rasos, mas é mais como um exercício de trilha. Nós corremos bastante, depois descansamos bastantes. Nós subimos uma colina, e depois bebemos um Gatorade. Subimos algumas escadas, depois 200 abdominais, depois 400 abdominais. No meio tempo, nós descansamos. Sem isso, nós nunca terminaríamos o exercício. Se queremos continuar prosseguindo, temos que aprender como parar. Assim como os israelitas tinham em seu calendário, nós precisamos de um tempo ocioso diário, e um descanso semanal, e tempos de refrigério ao longo do ano.
É por isso que é tão preocupante que nossas vidas estejam ficando cada vez mais sem rotina. Noite e manhã perderam sua sensação. Tudo é mesclado. A torneira está em constante goteira. A vida se torna uma indisposição, até que não possamos suportar nada mais e despenquemos para a doença, síndrome de burnout (esgotamento), ou depressão. Nós não podemos correr incessantemente e esperar que corramos muito bem.