Um blog do Ministério Fiel
Conheça o lançamento “Servos de Deus”, de Franklin Ferreira
Servos de Deus: espiritualidade e teologia na história da igreja – Franklin Ferreira
A Editora Fiel está lançando, no mês de fevereiro, mais uma obra do autor Franklin Ferreira, o livro ‘Servos de Deus’, um rico estudo da espiritualidade cristã, feito a partir da biografia de trinta e dois importantes personagens da história da igreja, cujas vidas serviram e servem de edificação, desafio, correção, conforto e estímulo para a peregrinação do cristão hoje.
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Apresentação: Hermisten Maia
O cristianismo é uma religião concreta que se desenvolve na história. Ele não se ampara em lendas, antes, em fatos os quais devem ser testemunhados, visto que têm uma relação direta com a vida dos que creem. O cristianismo é uma religião de fatos, palavra e vida. Os fatos corretamente compreendidos têm uma relação direta com a nossa vida. O cristianismo crê num Deus infinito-pessoal. Deus é transcendente, contudo, não é distante. Ele age na história por meios estabelecidos por Ele mesmo. Ele é a causa primeira e final de todas as coisas.
A fé cristã fundamenta-se ‒ porque foi por isso que ela se tornou possível ‒, na existência de um Deus transcendente e pessoal que se revela, se comunica conosco. Sem a comunicação divina não haveria teísmo nem ateísmo, simplesmente jamais chegaríamos ao conceito de Deus ou à sua negação. Portanto, como afirmou D. M. Lloyd-Jones, “a comunicação divina é a base fundamental da fé cristã”.
Sem o Cristo histórico não haveria cristianismo. A sua força e singularidade estão neste fato, melhor dizendo: na pessoa de Cristo, não simplesmente nos seus ensinamentos. O cristianismo é o próprio Cristo. A encarnação é toda e inclusivamente missionária: o Verbo fez-se carne e habitou entre nós ( Jo 1.14).
As doutrinas da criação e da encarnação estão inextrincavelmente ligadas. A historicidade de uma requer a historicidade da outra. Negar a historicidade dos três primeiros capítulos de Gênesis torna desnecessária a encarnação do Verbo de Deus. A negação da encarnação torna Gênesis apenas uma metáfora ou um sinal. A encarnação humaniza o homem que se desumanizou com o pecado. O homem sem Deus está perdido em sua autorreferência, contudo, ele ainda é a imagem de Deus e, é na humanização do homem que percebemos a sua beleza e grandeza teorreferente. A evangelização é, de certa forma, um retorno à humanidade perdida. Somente o Evangelho pode humanizar o homem. Deus é glorificado neste propósito.
Deus se agencia ordinariamente na história, ainda que não exclusiva ou necessariamente, por meio de seus servos. É uma amostragem disso que temos na obra de Franklin Ferreira. Na realidade, o autor se propõe a escrever com objetividade uma “história da espiritualidade”. Para isso, selecionou 32 personagens dentro de critérios que bem expôs, procurando “demonstrar a ligação entre devoção disciplinada, erudição, produção teológica e renovação eclesial e social”.
Sem nenhuma pretensão explícita ou disfarçada de construir uma hagiografia de diversos servos de Deus, o autor constrói a sua obra de forma acadêmica e devocional. Tendo como pano de fundo a espiritualidade, parece seguir o princípio de que “a verdadeira espiritualidade abrange toda a realidade”, como disse Francis Schaeffer. Para isso, valeu- -se de fontes primárias e secundárias, fornecendo sempre a bibliografia utilizada. Em cada capítulo há sugestões de leitura para aprofundamento do capítulo e no final do livro uma bibliografia geral. Fez isso com leveza, indicando o contexto do autor, sua formação, algumas peculiaridades de sua vida, ideias principais, contribuições e relevância.
Deste modo, somos contemplados com um esboço histórico que chega ao final do século xx, por meio de personagens que marcaram a história de forma diversificada, com contribuições amplamente reconhecidas ou não, privilegiando não apenas um único tipo de aproximação ou tradição teológica. Isto é salutar.
No entanto, Franklin tem algo a mais em vista. No final, após se valer do conceito de J. Gresham Machen de que “liberalismo não é cristianismo” e, de certo modo, de Schaeffer – “a diferença real entre o liberalismo e o cristianismo bíblico não é uma questão de pesquisa acadêmica, mas de pressuposições” –, fazendo uma crítica bem fundamentada a esta posição, declara: “Se desejamos ser uma igreja fiel, precisamos redescobrir as doutrinas centrais da fé cristã, e isso não é uma tarefa fácil. Precisamos estudar todas as doutrinas bíblicas, buscando saber quais são aquelas cujo conhecimento é vital para nossa salvação e quais são aquelas em que podemos ter opiniões diferentes”. Assim, valendo-se de exemplos, especialmente a partir da Reforma Protestante e de seus Credos, propõe uma revitalização da Igreja por meio do estudo e ensino da Escritura e de suas doutrinas fundamentais, acompanhadas por uma prática devocional comprometida. Franklin está certo. O caminho que seguiu e o seu objetivo se unem em uma unidade perfeita.
Certamente ele concorda com a interpretação de Edwin Dargan:
O declínio da vida e da atividade espiritual nas igrejas é geralmente acompanhada por um tipo de pregação formal, sem vida e infrutífera, e isso parcialmente como causa e parcialmente como efeito. Por outro lado, os grandes reavivamentos da história cristã usualmente remontam à obra do púlpito, e, no decurso do seu progresso, têm desenvolvido e tornado possível um alto nível de pregação.
Em julho de 1922, numa conferência dirigida à pastores, Karl Barth declarou:
É apenas um lugar comum que não haja nada mais importante, mais urgente, mais útil, mais redentor e mais salutar; não há nada, do ponto de vista do céu ou da terra, mais relevante à situação real do que o falar e o ouvir da Palavra de Deus no poder original e regulador de sua verdade, em sua toda erradicante e toda reconciliadora sinceridade, na luz que não lança somente sobre o tempo e sobre confusões dotempo, mas também além, em direção ao brilho da eternidade, revelando o tempo e a eternidade através de cada um e em cada um – a Palavra, o Logos do Deus vivo.
Portanto, inspirando-me na instrução de Barth aos herdeiros do pensamento de João Calvino, podemos dizer que, na obra de Franklin, temos um estímulo a não simplesmente nos deter nestas nuvens de testemunhas que viveram a sua fé em meio aos desafios de sua época, mas, a voltarmos a Jesus Cristo, o Deus encarnado, que nos fala por meio de Sua Palavra com a mesma intensidade de quando foi revelada e registrada (Rm 1.16).
Calvino, com a autoridade própria de um pregador fiel, orienta: “Devemos entender que Jesus Cristo deseja governar sua igreja mediante a pregação de sua Palavra, à qual nós devemos dar toda devida reverência”. Portanto: Igreja do século xxi, torne às Escrituras! Elas testificam de Cristo em quem somente há vida e salvação ( Jo 5.39: At 4.12). “Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando- nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o autor e consumador da fé, Jesus…” (Hb 12.1-2).
A obra do pastor Franklin Ferreira é um eloquente e convincente convite a isso. Parabéns Franklin, parabéns Editora Fiel, e parabéns leitor da língua portuguesa. Deus seja louvado. Amém.
São Paulo, Primavera de 2013
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
Membro da equipe de pastores da 1ª Igreja Presbiteriana
de São Bernardo do Campo, SP
Este artigo é parte do livro “Servos de Deus”, lançamento de Fevereiro, pela Editora Fiel