Um blog do Ministério Fiel
Mateus 18.16: o papel das testemunhas
Não é fácil estar envolvido na disputa de outra pessoa. De fato, não é sequer seguro. Provérbios diz: “Quem se mete em questão alheia é como aquele que toma pelas orelhas um cão que passa” (Provérbios 26.17).
Ainda assim, Jesus sabe que algumas vezes o cachorro tem que ser segurado pelas orelhas, porque qualquer briga entre dois membros de uma igreja é, em certo sentido, sua própria briga (veja 1Coríntios 12.26). Assim, quando um irmão ofendido confronta seu ofensor e o ofensor se recusa a se arrepender, Jesus ordena: “toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça” (Mateus 18.16).
Então, quem são esses outros um ou dois? E por que eles importam tanto para a igreja?
Quem são eles?
John Nolland sugere que eles têm que ser testemunhas do pecado cometido e devem ser “independentemente cientes do problema”#1. O texto, entretanto, nos dá duas razões para rejeitar essa visão. Primeiro, Jesus não os chama de testemunhas. Ele requer que o irmão ofendido tome “um ou dois” (Mateus 18.16), não que ele tome uma ou duas testemunhas. Jesus espera que eles se tornem testemunhas depois, mas eles não têm que ser testemunhas da ofensa.#2
Segundo, essa reunião deve seguir um propósito inicial e privado, qualquer que seja o pecado que o irmão se recuse a se arrepender. Ainda assim, se “um ou dois” devem ser testemunhas da ofensa, então a segunda reunião deveria ser condicional: ela poderia somente acontecer se um ou dois vissem o pecado acontecer. Desde que muitas ofensas não têm testemunhas e desde que Jesus não fez a segunda reunião condicional, o “um ou dois” não têm que ser testemunhas da ofensa. Apesar do irmão pecador não se arrepender, eles irão se tornar testemunhas do pecado para a igreja, para que, como Jesus diz: “pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça” (Mateus 18.16).
Em certo sentido, esse um ou dois não são como testemunhas de um crime, mas testemunhas da assinatura do testamento de uma pessoa. Eles não vieram para testificar acerca de algo que aconteceu no passado, mas para participar da reunião entre dois irmãos. Então eles estarão aptos para testificar sobre ele perante a igreja.
Por que eles são importantes?
Desde que o objetivo é a restauração, os outros um ou dois deveriam agir como conselheiros e mediadores, não como mercenários contratados para ofender o irmão. Apesar deles terem vindo à reunião a pedido do irmão ofendido, eles devem se lembrar que eles têm um ministério para ambos os lados: ajudar o irmão pecador a se arrepender e ajudar o irmão ofendido a perdoar. Eles não são advogados do irmão ofendido; eles são advogados do crescimento espiritual e verdadeiro arrependimento de ambos os irmãos e da restauração do relacionamento quebrado.
O papel dos “outros” não é fácil, mas é importante.
Eles são importantes para o ofensor e para o ofendido
Eles lidarão com uma pessoa que está sendo confrontada com seu pecado e outra pessoa que foi ofendida por esse pecado. Eles devem ajudar o irmão pecador, que pode estar lutando para se arrepender. Além do mais, a maioria das pessoas não responde com alegria quando seus pecados são expostos. E eles devem também ajudar o irmão ofendido, que pode estar profundamente ferido ou muito amargurado para perdoar de imediato. Na sua luta e amargura, ele pode não ter notado que o irmão pecador estava pronto para se arrepender, ou mesmo tentar se arrepender na primeira reunião entre eles. Quando isso acontecer, os “um ou dois” terão de ajudar o irmão ofendido a perdoar em vez de ajudar o irmão pecador a se arrepender.
Eles são importantes para a igreja
Os “outros” também carregam uma pesada responsabilidade para a igreja. Se o ofendido se recusar a se arrepender, eles devem agir como testemunhas perante a igreja do que eles viram e ouviram na segunda reunião. Eles poder ter que estar diante da igreja e serem advogados da excomunhão da pessoa não arrependida.
Assim, aqueles escolhidos devem ser sábios conselheiros que podem ministrar o evangelho e ajudar as pessoas a restaurarem um relacionamento quebrado. Eles devem também ser pessoas confiáveis de boa postura que possuem integridade aos olhos da congregação. Como sábios conselheiros, eles podem ajudar aqueles envolvidos a se arrependerem, ou perdoar, e trabalhar com eles em direção à reconciliação com Deus e entre si. Como pessoas de integridade, o testemunho deles diante da congregação assegurará que “pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça” (Mateus 18.16). A reputação das testemunhas permitirá que a congregação aja sem entrar numa investigação pública e independente do pecado. Tal investigação é susceptível a prejudicar a missão da igreja de alcançar com o evangelho para a pessoa excomungada.
#1 John Nolland, The Gospel of Matthew, NIGTC (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2005), 746-47. Se eles não sabem nada acerca da ofensa até serem chamados para participar da segunda reunião, então Nolland diz que “o apelo para multiplicar testemunhas não faz sentido”.
#2 Essa é a posição que Jay E. Adams toma: “As ‘testemunhas’ não são simplesmente testemunhas… Elas são desenhadas como participando ativamente no processo de reconciliação. É quando a recusa acontece, e somente então, que elas se tornam testemunhas… elas se tornarão testemunhas se e quando o assunto é formalmente trazido perante a igreja”. Jay E. Adams, A Handbook of Church Discipline: A Right and Privilege of Every Church Member (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1974), 60 (ênfase no original).