Como começar um ministério para jovens e adolescentes na igreja? (Parte 2 de 2)

Parte 1 Parte 2

2) Perspectiva eclesiológica

Um ministério jovem fiel precisa de uma visão eclesiológica madura. É comum vermos “ministérios jovens” fortes desligados da vida da igreja. Bem-intencionados, mas equivocados, líderes de jovens criam um ambiente competitivo dentro da própria igreja. O ministério jovem, ao invés de servir a igreja e seus propósitos de proclamação do Evangelho, cria um grupo fechado em si mesmo, repleto de pessoas semelhantes. Isso é um erro que cometemos por décadas e que precisa de uma reavaliação. O ministério jovem não é uma igreja numa versão mais legal (ou mais “descolada”) dentro da igreja.

Ao isolarmos o grupo de jovens, tornamos a vida da igreja difícil de ser vivida dentro dos moldes bíblicos. A unidade em meio a diversidade sofre um golpe brutal. Um grupo exclusivo de jovens reunidos é incapaz de mostrar a beleza da diversidade que o Evangelho conquistou. Um grupo repleto de pessoas da mesma faixa etária deixa de usufruir dos benefícios do ministério intergeracional.

Portanto, antes de definir o ministério jovem, é preciso uma definição madura e bíblica sobre a igreja local. A Igreja Universal do Senhor Jesus Cristo é conhecida por meio de suas representações locais. Por isso, qualquer proposta de igreja focada e fechada num grupo exclusivo erra em demonstrar a diversidade do povo de Deus. O Evangelho criou a unidade rompendo a barreira de inimizade que existia entre judeus e gentios (Efésios 2.13, 14). Essa unidade reflete o caráter de Cristo e, por isso, deve ser diligentemente preservada (Efésios 4.1-6).

A preservação da unidade da igreja tem seu início no ministério da Palavra de Deus (Efésios 4.7-13). A Palavra de Deus equipa a todos os ouvintes dentro da igreja para o desempenho do serviço e edificação do corpo de Cristo. Quando a igreja vive isso, cada parte coopera para o mesmo objetivo: edificação da igreja, santuário do Espírito Santo (Efésios 2.22).

Considere alguns sinais de que o ministério com jovens e adolescentes estão desligados da igreja local e competindo com o restante da igreja:

• Uma valorização da reunião de jovens (células ou grupos pequenos de jovens) em detrimento do culto público quando a igreja toda se reúne;

• Um apego a líderes carismáticos (líder da “pegada louca” apenas) em detrimento de líderes bíblicos com caráter provado;

• Uma ênfase no entretenimento em detrimento da verdade;

• Construção de relacionamentos superficiais – não centrados em Cristo, mas simplesmente porque “são legais” – em detrimento da graça e verdade dos relacionamentos que devem imperar nos relacionamentos entre cristãos;

• Círculos de relacionamentos limitados a jovens;

• A mentalidade dos pais de que “enquanto estão na reunião de jovens, está bom”.

Sinais de que os jovens estão integrados ou caminhando para serem integrados no contexto da igreja local como um todo:

• Participação ativa de jovens e adolescentes no culto público;

• Existe uma identificação do jovem com toda a equipe pastoral e diversidade de liderança bíblica madura com acesso ao grupo de jovens e adolescentes;

• Isso não quer dizer que não possa haver uma referência entre o grupo de jovens na equipe pastoral. O ponto é que não existe uma exclusividade artificial e o jovem compreende os líderes reconhecidos como seus pastores.

• Interesse pela verdade bíblica e crescimento em discernimento;

• Existe uma disposição de servir o restante da igreja (em termos de faixas etárias);

• Existe uma disposição de criar relacionamentos com outros grupos da igreja, aprendendo com os mais velhos e discipulando os mais novos;

• A mentalidade dos pais é de enxergar o ministério jovem como um apoio à responsabilidade bíblica de criarem seus filhos, não de terceirização de seus papéis.

3) Perspectiva pastoral

O ministério jovem e adolescente precisa de uma teologia pastoral bíblica. O que significa cuidar/pastorear ovelhas? O que significa pastorear ovelhas jovens e adolescentes? São perguntas que precisam de respostas bíblicas. É comum reduzir o ministério com jovens e adolescentes a uma mentalidade de “babá”, com bastante entretenimento e repleto de superficialidades que não promovem maturidade.

O objetivo pastoral é a edificação da Igreja promovendo maturidade individual à semelhança de Cristo (Colossenses 1.28, 29). O pastor faz isso ensinando e aconselhando. Expandindo um pouco a ideia, o pastor precisa de uma visão ministerial centrada na Pessoa e obra de Cristo, anunciada por meio do ensino e do aconselhamento. Tanto no ministério público como individual (Atos 20.20).

Como que isso acontece no contexto do ministério com jovens e adolescentes? A Bíblia aponta para a responsabilidade dos pais na tarefa. Uma teologia pastoral bíblica irá funcionar numa eclesiologia bíblica. Então, a prática do ministério dos pastores e líderes de jovens e adolescentes começa com uma disposição em equipar os pais. Obviamente que estamos falando um conjunto amplo de possibilidades uma vez que alguns jovens já são adultos formados e devem ser encarados como tal. Mas, principalmente com adolescentes, o envolvimento com os pais precisa ser levado em consideração.

Além do engajamento dos pais, devemos considerar o envolvimento de adultos maduros no discipulado de jovens e adolescentes. Nem todos os jovens e adolescentes irão contar com pais interessados no cumprimento de suas responsabilidades ou terão pais comprometidos com Cristo. Em situações como essas, vemos a participação da igreja local como família espiritual de jovens e adolescentes criando o ambiente propício para relacionamentos saudáveis intergeracionais (Tito 2; 1 Pedro 5.5).

Mãos à obra

Baseado nas 3 perspectivas acima, como você irá pensar o ministério jovem? Veja, não se trata apenas de um modelo a ser implementado, mas uma cultura a ser desenvolvida ao redor das verdades da Escritura. Cada uma das perspectivas nos ajuda a construir uma mentalidade capaz de enxergar o jovem e o adolescente de forma bíblica. O Evangelho deve ser visto na vida da igreja, pregado para os jovens da igreja e cuidadosamente usado na construção de relacionamentos dentro do contexto da igreja.

De forma prática, considere os seguintes passos iniciais:

• Ore para que Deus levante líderes (entre os jovens). Quando o trabalho pareceu maior que a capacidade dos trabalhadores, Jesus nos chamou a orar.

• Treine homens líderes no grupo de jovens.

• Enfatize o estudo da Palavra de Deus de forma sistemática e relevante.

• Encoraje os jovens e adolescentes a viverem a Palavra de Deus, implementando mudanças em suas decisões e relacionamentos.

• Ensine sobre a importância da igreja local.

• Reflita sobre as diferenças entre “reunião de jovens x culto público da igreja local”. As diferenças irão ajudá-lo a aproveitar as oportunidades da reunião de jovens que não estão disponíveis no culto local sem criar uma competição danosa para a unidade da igreja.

Por: Alexandre Mendes. © 2016 Ministério Fiel. Todos os direitos reservados. Website: MinisterioFiel.com.br. Original: Como começar um ministério para jovens e adolescentes na igreja? (Parte 2 de 2)

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