Um blog do Ministério Fiel
Elegendo presbíteros
Na obra clássica de 1832, The Ruling Elder [O Presbítero Regente], Samuel Miller escreveu o seguinte: “O projeto de nomear pessoas para o ofício de presbítero regente não é para dar-lhes prestígio; não é para dar-lhes uma oportunidade de aparecer como oradores em processos judiciais; não é para criar os cortejos de cerimônias eclesiásticas; mas para assegurar conselheiros e regentes aptos, fiéis e verdadeiramente devotados da igreja. – para obter orientações sábias e eficientes, que não somente devem acompanhar o rebanho em sua jornada rumo ao céu, mas para ir adiante deles em tudo que pertence ao dever do cristão1. ”
As palavras de Miller são como tão vivas agora quanto eram no século 19. Estamos em uma situação desesperadora em que a igreja de Cristo tem abaixado seus padrões, não somente na esfera da adoração teocêntrica e da exposição bíblica, mas na esfera do governo eclesiástico também. Como pastores, temos nos enganado ao pensar que temos todas as respostas e que não temos necessidade de presbíteros qualificados biblicamente à nossa volta, nos encorajando, nos admoestando e nos amando.
É crucial para o ministério evangélico do pastoreamento das ovelhas do nosso Sumo Pastor que identifiquemos aqueles que Deus deu para servir como pastores dentre o rebanho. Cada passo do processo de eleição de presbíteros demanda cuidado e todos envolvidos no processo de eleição devem estar imersos em oração que é focada no reino. Desde o início do processo de eleição ao fim, a congregação e seus presbíteros devem considerar o peso do assunto. De fato, muitos cristãos estão mais preocupados em seguir os meandros da política de eleição local e nacional do que em eleger oficiais para pastorear a família de Deus.
O primeiro passo da eleição de presbíteros pode ser o mais crítico. Em muitas igrejas, particularmente aquelas de tradição presbiteriana, os presbíteros em potencial são nomeados formalmente por membros comunicantes da congregação. De acordo com o livro de ordem eclesiástica da Igreja Presbiteriana da América, presbíteros são nomeados pelos membros da congregação: “Em tempos determinados pela reunião, membros comunicantes da congregação podem indicar nomes para a reunião2 Da mesma forma, o livro de ordem eclesiástica da Igreja Presbiteriana Ortodoxa diz: “Tais oficiais, escolhidos pelo povo, dentre os seus3…” Cada livro de ordem é escrito com extremo cuidado e sabedoria, e assembleias gerais de cada corpo ecleciástico têm sofrido grandes dores com o passar dos anos para estarem certas que seus livros de ordem estão precisamente de acordo com suas tradições e com o que é mais meticulosamente bíblico. E enquanto cada livro de ordem permite que os presbíteros indiquem potenciais presbíteros, cada livro também parece recomendar que os potenciais presbíteros sejam nomeados por aqueles que não são presbíteros na igreja.
Não tenho nenhum desacordo com a importância e com a precedência bíblica (i.e. Atos 6.3; 14.23) para o papel da congregação em indicar presbíteros. Mas ainda assim, é ultimamente responsabilidade dos presbíteros nomear e eleger presbíteros. Porque é sobre os presbíteros da igreja que Deus colocou a autoridade e responsabilidade de pastorear seu povo (Atos 6.1-7; 14.23; 1 Timóteo 5.17-22; Hebreus 13.17). Em Deliberate Church [Igreja Intencional], os autores Mark Dever e Paul Alexander escrevem, “Nunca é demais realçar que somente presbíteros deveriam nomear outros presbíteros, ambos porque eles são os membros mais espiritualmente maduros da congregação e porque eles conhecem melhor a vida da congregação.4” Geralmente, em igrejas onde homens são nomeados pelo povo da congregação, o processo de nomeação se torna uma disputa de popularidade. Nesses contextos, um homem que é nomeado é geralmente procurado por aquele que o nomeou para informa-lo que está sendo nomeado para o ofício. Então, se os presbíteros não confirmarem essa nomeação entregue pelo membro da congregação, aquele que é nomeado se sente, em alguns casos, preterido, ou, talvez, não qualificado, quando de fato o indivíduo simplesmente não tem sido desejado naquele tempo. Ocasionalmente, as consequências são devastadoras.
Em cada situação, se o povo da congregação está nomeando presbíteros em potencial, ou se os presbíteros estão nomeando e elegendo presbíteros em potencial, em última instância é incumbência dos presbíteros existentes da igreja discernir quem será nomeado, examinado e eleito para o ofício. A integridade do processo eletivo é inextricavelmente dependente da integridade dos presbíteros. Deve existir necessariamente, portanto, homens biblicamente qualificados e fiéis que são nomeados, examinando e elegendo. À parte de tal integridade no presbitério, uma igreja irá facilmente apostatar. Sobre esse ponto, Alexander Strauch comenta:
“Tão vitalmente importante quanto selecionar, examinar, aprovar e instalar presbíteros e diáconos prospectivos, os supervisores deveriam direcionar o processo inteiro… Se os presbíteros não supervisionarem o processo de apontamento, desordem e mal gerenciamento acontecerão e pessoas irão se machucar. Além do mais, se os presbíteros não tomarem iniciativa, o processo irá estagnar. Os presbíteros têm posição, autoridade e conhecimento para movimentar toda a igreja em direção à ação. Eles sabem suas necessidades e conhecem seu povo. Então eles podem, intencionalmente ou não, sufocar ou encorajar do desenvolvimento dos novos presbíteros5. ”
De forma similar, John Owen, em sua obra on The True Nature of a Gospel Church [Sobre a Verdadeira Natureza de uma Igreja Evangélica], estipula:
Esse é o poder e direito dado à igreja, considerado em sua essência, com respeito aos seus oficiais – a saber, para projetar, chamar, escolher e separar as pessoas, pelas vias da forma como Cristo falou, pelas suas leis, ele tem anexado à igreja poder e autoridade… A sabedoria pretendida não é prometida a todos os membros da igreja em geral, nem é exigido deles a procura por isso pelas formas e meios de alcança-la antes dela se estabelecer, mas respeito é tido como incluso somente até os oficiais da igreja.6”
Aos presbíteros da igreja, Deus tem dado a sabedoria e autoridade necessárias para governar a igreja de acordo com sua Palavra. Isso não significa que os presbíteros da igreja efetivamente fazem outros presbíteros. É simplesmente de responsabilidade dos presbíteros da igreja discernir quem Deus tem levantado para servir como presbítero (Atos 20.28). Em seu livro, The Elders of the Church [Os Presbíteros da Igreja], Lawrence R. Eyres escreve, “Deus torna homens em presbíteros e o dever da igreja é discernir que homens Deus tem dado para a igreja para o ensino e governo.7” O ponto de Eyers é bom e não deveria ser subestimando. O princípio encontrado em tal ensino é brilhantemente profundo e provê a igreja com muitas implicações práticas.
Entre essas implicações, primeiro e mais importante, os presbíteros devem sempre ter em mente que eles não são cabeça da igreja; Cristo é o único que é cabeça da igreja. Isso não é meramente uma suprema declaração doutrinária; é uma declaração de consequências práticas. Se Cristo é entendido como sendo a cabeça viva da igreja, que morreu e que ora por ela (João 10.11; 17.17-23; Efésios 5.25), os presbíteros da igreja verão a si mesmos como sub-pastores de Cristo, servindo-lhe como a cabeça viva e ativa (Efésios 5.23). Como sub-pastores, então, os presbíteros possuem a grande oportunidade e responsabilidade de eleger homens para o ofício de um presbítero que o próprio Cristo tem provido. Além do mais, Cristo dá dons ao seu povo e os separa para servir (1 Coríntios 12.1-31).
Homens que são nomeados para o ofício de presbítero deveriam ser homens que o Senhor já tem levantado. Alguém pode perguntar, como o Senhor revela aqueles que ele tem levantado? Dessa forma: O Senhor tem distribuído ao seu povo vários dons para serem empregados na sua igreja e no seu reino (Salmo 68.18; 1 Coríntios 12.1-31; Efésios 4.4-16). Ao distribuir dons, ele tem dado ao seu povo a responsabilidade de empregar seus dons para o benefício mútuo do corpo inteiro de Cristo. Portanto, homens cujos dons são manifestados de acordo com o mandamento do Senhor (Mateus 25.14-30), e que estão responsavelmente empregando seus dons, deveriam ser reconhecidos pelos presbíteros da igreja e encorajados a continuar em amor e boas obras de acordo com seus dons (Hebreus 10.24). Assim sendo, os presbíteros da igreja estarão aptos para discernir aqueles que o Senhor tem levantado para servir no ofício de presbítero. Sobre esse ponto, Strauch assevera: “Então, antes de um homem ser apontado para o presbitério, ele já está provando a si mesmo ao liderar, ensinar e suportar a responsabilidade na igreja.8” Para o mesmo fim, aqueles homens que estão “provando” a si mesmos para serem presbíteros deveriam estar envolvidos, o tanto quanto possam, no cuidado do povo de Deus. Ao fazer isso, tais homens estão demonstrando seu desejo de servir ao Senhor como um presbítero, o que é uma coisa nobre como o apóstolo Paulo assevera (1 Timóteo 3.1)
1 Samuel Miller (1769–1850), The Ruling Elder in David W. Hall and Joseph H. Hall,Paradigms in Polity (Grand Rapids: Eerdmans, 1994), 428.
2 Book of Church Order of the Presbyterian Church in America, Sixth Edition, “On the Election, ordination, and Installation of Ruling Elders and Deacons,” Chapter 24, section 1.
3 Book of Church Order of the Orthodox Presbyterian Church, 2005 Edition, “Ruling Elders,” Chapter 10, section 1.
4 Mark Dever and Paul Alexander, The Deliberate Church (Wheaton: Crossway, 2005), 157.
5 Alexander Strauch, Biblical Eldership (Colorado Springs: Lewis and Roth, 1995), 278.
6 John Owen, The True Nature of a Gospel Church, ed. William H. Goold, in The Works of John Owen, vol. 16, (first published 1689; Edinburgh: Banner of Truth, 1995), 39–41.
7 Lawrence R. Eyres, The Elders of the Church (Phillipsburg: Presbyterian and Reformed, 1980), 7.
8 Strauch, Biblical Eldership, 281.