Um blog do Ministério Fiel
Acolhei-vos uns aos outros
Recentemente, recebi uma carta de um casal de nossa congregação que tem trabalhado pela causa do evangelho no Congo durante a maior parte de suas vidas. Ao lê-la, uma linha em particular me chamou a atenção. “Nós oramos”, escreveram eles, “para que todos nós aprendamos a amar, perdoar e aceitar mais uns aos outros no tempo que Deus nos dá”.
Este é um dos pedidos mais importantes que qualquer um de nós poderia fazer a Deus. O Senhor chama os crentes a amar, perdoar e aceitar uns aos outros, precisamente porque ele nos amou, perdoou e aceitou em Cristo. Essa é uma das verdades mais importantes que emerge em quase todas as seções de aplicação das cartas do Novo Testamento. É fundamental para o ensino do apóstolo Paulo, e não menos em Romanos, talvez a sua maior carta, do que em Efésios, Filipenses e Colossenses. O apóstolo responsabilizou a igreja em Roma com esta verdade quando escreveu: “Portanto, acolhei-vos uns aos outros como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus” (Romanos 15.7).
Não deveria ser surpresa para nós encontrarmos esta aplicação em uma carta tão cheia da verdade sobre como Deus justifica e aceita, gratuitamente, por sua graça, aqueles que creem em Cristo. Já que Deus nos recebeu para si mesmo em Cristo, devemos receber uns aos outros. No entanto, o contexto mostra que pode haver uma deficiência pecaminosa de tal recepção e acolhimento de outras pessoas no âmbito de uma igreja local.
Curiosamente, além da questão de justiça própria, o apóstolo lida apenas com outro problema pastoral na Igreja em Roma. Dizia respeito aos membros mais fracos e mais fortes se recusarem a aceitar uns aos outros. Aqueles com consciências fortes e biblicamente orientadas estavam desprezando os fracos que não tiveram suas consciências articuladas com o ensino bíblico sobre sua liberdade para comer e beber. Aqueles cujas consciências eram fracas com respeito a comida e bebida estavam julgando aqueles cujas consciências eram fortes. Paulo resumiu o problema quando escreveu: “Quem come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come, porque Deus o acolheu” (14.3).
Enquanto as disputas sobre comida e bebida podem ser ou não proeminentes em nossas comunidades hoje, a questão de desprezar e julgar os outros em uma comunidade é um dos problemas perenes aos quais todos nós somos suscetíveis. Muitas vezes, só estamos dispostos a oferecer aceitação para um grupo seleto. Na nossa carne, temos a propensão de fazer amizade apenas com aqueles que pensamos ter virtudes que acreditamos que estão em nós mesmos ou que queríamos que fosse verdade sobre nós mesmos. Convencemo-nos de que só temos que aceitar aqueles com valores semelhantes ou virtudes aparentes. No entanto, isso não é aceitação, é afinidade. Enquanto ensinava a seus discípulos esse princípio, nosso Salvador perguntou: “E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios também o mesmo?” (Mateus 5.47).
O evangelho nos cura de nossa propensão pecaminosa por mostrar um tratamento preferencial ao selecionar os crentes (Tiago 2.8-13). Quando nos lembramos de que nos tornamos recebedores da graça de Deus por virtude da morte sacrificial de Jesus, vamos querer estender graça para outros crentes. Quando reconhecemos que Jesus morreu por nós quando éramos completamente desagradáveis e contrários a ele (Romanos 5.6-11), a fim de nos reconciliar com Deus através de sua morte expiatória e propiciatória pelo nosso pecado, ficamos ansiosos para acolher a todos “por quem Cristo morreu” (14.15). Quando damos atenção ao fato de que “Cristo não se agradou a si mesmo”, antes, tomou sobre si as injúrias com que ultrajavam a Deus (15.3), tornamo-nos zelosos em suportar as fraquezas e falhas dos outros para o bem deles.
O acolhimento que recebemos de Cristo é um acolhimento que ama, perdoa, edifica e cresce. Que Deus nos dê a graça de acolher todos os outros crentes, já que ele tem nos acolhido em comunhão consigo mesmo pela morte sacrificial de Cristo na cruz.