Um blog do Ministério Fiel
5 pastores falam sobre disciplina eclesiástica
Pastores do 9 Marcas e Fórum de Teólogos:
Quais são algumas lições sobre disciplina eclesiástica que você aprendeu da forma mais difícil?
Respostas de:
Tom Ascol
A real dificuldade na disciplina eclesiástica corretiva não é tanto saber o que fazer, ou sequer como fazer, apesar dessas questões serem problemáticas. A parte mais difícil é, na verdade, administrar isso. É doloroso. Não há forma fácil de confrontar um irmão em seu pecado. Se ele persiste, não há forma fácil de tomar um ou dois outros com você para confrontá-lo novamente. Se ele se recusa a se arrepender, não há forma fácil de contar à igreja. E se ele se recusa a ouvir “até mesmo” a igreja, é absolutamente excruciante removê-lo da membresia: para ser “ entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no Dia do Senhor Jesus” (1Coríntios 5.5).
Estabelecer os termos desse fato – de que não há forma fácil de tomar esses passos – tem sido uma das lições mais sensatas, e ainda assim úteis, que tenho aprendido como um pastor. Enquanto lidero uma igreja para tomar o passo final da disciplina, certas questões sempre se escondem no escuro: “não há outra forma? Há algo mais que podemos fazer para evitar isso? “ Essas questões surgem, penso, de um desejo próprio de evitar tomar o passo mais sério que uma igreja pode tomar ao lidar com a alma de uma pessoa. Ainda assim, ao reconciliar-me, como um pastor, com fato de que fazer o que Cristo comanda em tal caso é inevitavelmente doloroso e ao ensinar a igreja a ver isso dessa forma, estamos encorajando a não recear do nosso dever, mas tomar nossa cruz com uma visão da glória de Deus e o bem-estar do membro teimoso.
Pela bondade de Deus, tive o privilégio de ver o fruto da disciplina eclesiástica ser suportada não somente na restauração dos irmãos e irmãs que têm se submetido a ela, mas também no fortalecimento da igreja no temor do Senhor e na conversão dos descrentes. Identifico-me completamente com as seguintes palavras de Robert Murray M’Cheyne, conforme ele descreve sua própria luta pastoral com a disciplina eclesiástica.
Quando eu primeiramente ingressei no trabalho do ministério entre vocês, estava excessivamente ignorante à vasta importância da disciplina eclesiástica. Pensei que meu grande, e quase único, trabalho era orar e pregar. Eu vi suas almas como preciosas e o tempo tão curto, que eu devotei todo meu tempo, cuidado e força para labutar na palavra e doutrina. Quando casos de disciplina foram eram trazidos diante de mim e dos presbíteros, eu considerei esses casos com um tipo de aversão. Era um dever que eu desprezei; e posso dizer, verdadeiramente, que quase me afastou do trabalho do ministério entre vocês. Porém, agradou ao Senhor, que ensina seus servos de forma diferente que o homem ensina, a abençoar alguns dos casos de disciplina eclesiástica ao manifesto e conversão inevitável das almas daqueles debaixo do seu cuidado; a partir daquela hora, uma nova luz rompeu em minha mente e vi que se pregar fosse uma ordem de Cristo, assim também era a disciplina. Agora sinto-me profundamente persuadido que ambos são de Deus – que duas chaves são autorizadas a nós por Cristo, a chave da doutrina, pela qual destravamos os tesouros da Bíblia, a outra, a chave da disciplina, pela qual abrimos ou fechamos o caminho para as ordenanças da fé que estão lacradas. Ambas são presentes de Cristo e nenhuma delas deve ser renunciada sem pecado. (Memoir and Remains of Robert Murray M’Cheyne, Andrew Bonar; Baker, reprint, 1978, pp. 104-5).
Tom Ascol é o pastor sênior da Grace Baptist Church em Cape Coral, Flórida.
Robert “Bob” Johnson
Aqui estão quatro lições que tenho aprendido sobre disciplina eclesiástica que têm destruído os mitos que costumava acreditar.
Mito 1: Depois de dominar disciplina eclesiástica, você pode prosseguir para outra coisa.
Disciplina eclesiástica não é como aprender a andar de bicicleta, onde uma vez que você tenha dominado, não precisa trabalhar mais para manter. Sempre que negligenciei em enfatizar disciplina eclesiástica no ministério privado e público, a saúde do meu rebanho sofreu.
Lição aprendida: O aspecto do discipulado e da disciplina da vida da igreja é tão normal e regular quanto pregar, ensinar e evangelizar. Líderes eclesiásticos devem ensinar regularmente sobre disciplina e envolver-se regularmente na disciplina formal, e quando necessário, disciplina corretiva.
Mito 2: Se eu ignorar a situação, ela irá resolver-se.
Quando há uma situação a ser resolvida, posso encontrar toda sorte de razões porque não ter que fazer nada sobre ela hoje. Entretanto, sempre que falho em estar a par de um problema, apegos pessoais e reações emocionais tendem a definir a situação, em vez de princípios bíblicos claros.
Lição aprendida: Nunca é tarde para fazer a coisa certa, mas fazê-lo cedo ajuda a clarificar o problema real antes da congregação tomar partido.
Mito 3: É claro que pessoas entenderão a disciplina eclesiástica; está na Bíblia.
Tenho sido encarado com muitos olhares de surpresa quando pessoas são avisadas que nós praticamos isso. Não deveríamos estar tão surpresos quando pessoas escolhem alianças familiares em vez da Bíblia, mas o que é particularmente doloroso é quando pessoas que têm sido disciplinadas vão para outra igreja local que falha em reconhecer a disciplina que nós temos lidado.
Lição aprendida: Nunca assuma que pessoas ou outras igrejas entendem e apoiam disciplina eclesiástica. Portanto, um pastor deveria continuamente olhar por formas de ajudar o rebanho a crescer nisso.
Mito 4: Ninguém faria parte de uma igreja que faz isso.
Enquanto alguns escolhem fugir, tenho encontrado muitos membros do rebanho que estão aliviados em saber que eles são parte de uma família que acredita e pratica tudo que a palavra de Deus diz. Disciplina eclesiástica é um dom de Deus à igreja para manter a doutrina pura, os lobos afastados e a noiva pura.
Lição aprendida: A palavra de Deus não pode ser improvisada.
Robert Johnson é o pastor sênior de Cornerstone Baptist Church em Roseville, Michigan.
Dennis Newkirk
Eu acredito em disciplina eclesiástica. É, entretanto, fácil de cometer erros, então proceda com cuidado e oração.
Aprendi a não partir para disciplina com noções preconcebidas ou preconceitos. Aprendi a investigar completamente, a investigar os indivíduos envolvidos com integralidade exaustiva. Aprendi a fazer essas coisas porque deduzi conclusões erradas e tomei ações inapropriadas devido à falta de fatos. Os resultados foram dolorosos, no mínimo.
Um pastor não deve ter somente os detalhes, mas também entender que uma vez que ele tenha pegado a estrada da disciplina, será difícil parar o movimento para frente. Em outras palavras, considere o fim antes de começar sua jornada. Nós devemos praticar disciplina, mas devemos manter os olhos bem abertos.
Também aprendi que alguns membros de igrejas não concordarão que a ação pecaminosa da pessoa foi severa o suficiente para exigir disciplina. Eles apelarão para a graça, para o perdão, para a paciência e pedirão por misericórdia. Sabemos que a disciplina pode ser uma das ações mais cheias de graça que podemos tomar em direção ao crente pecador, mas nem todo mundo reconhecerá isso. Portanto, presbíteros deveriam estar preparados para resistir.
A lição mais significante que aprendi da forma mais difícil veio durante esses tempos quando falhei em persegui-la. Nós fazemos mais mal do que bem quando evitamos a disciplina.
Algum tempo atrás, tínhamos um homem em nosso time de líderes que agiu por detrás dos panos em desarmonia. Atrasamos uma ação substantiva, esperando que a situação se consertasse por si mesma. Mas não foi assim, um dano desnecessário foi feito, e levou meses para superar nossa negligência. Quando ele falhou em se arrepender e foi removido da membresia, era como se nuvens subitamente se dispersassem e um novo dia raiasse.
Lições aprendidas? Pratique a disciplina, mas faça com cuidado, deliberadamente e em oração.
Dennis Newkirk é o pastor de Henderson Hills Baptist Church em Edmond, Oklahoma
Walter Price
Uma lição que aprendi é que a disciplina eclesiástica pode ser uma grande oportunidade para grande alegria. Cada vez que tomamos o passo final da excomunhão, a igreja e seus líderes experimentaram grande agonia. Mas, em muitas situações, a dor no coração tem sido substituída por alegria.
Recentemente, um homem que foi removido da membresia há 10 anos por ter sido pego em flagrante em um adultério não arrependido, veio ao meu escritório em lágrimas para contar da profunda convicção de Deus em sua vida. Ele estava profundamente arrependido e grato por eu ter aceitado suas desculpas, sua confissão e irá se reunir com nossos presbíteros para expressar isso para eles.
Minha tendência teria sido considera-lo perdido para sempre. Mas lembrei-me novamente que o tempo de Deus raramente é o meu.
Quão grato estou ao Senhor, por ele nos permitir experimentar alegria de garantir o perdão e ser parte do processo de restauração. Apesar de ter existido uma alegria dolorosa em saber que temos sido obedientes às Escrituras, a alegria resultante na presença da restauração é ainda mais estimulante. Se tivermos sido infiéis em não praticar a disciplina bíblica, seremos os mais desfavorecidos por causa disso.
Walter Price é o pastor da Fellowship na Pass Church em Beaumont, Califórnia.
Philip Ryken
Praticamente tudo que sei acerca da disciplina eclesiástica tenho aprendido pela forma mais difícil: por uma experiência triste.
A mais dolorosa das dificuldades que tive no ministério pastoral, até agora, envolveu a disciplina formal dos membros da igreja que se desviaram dos caminhos do Senhor. Em cada caso, os presbíteros da Tenth Presbyterian Church derramaram muitas lágrimas.
O que aprendi?
Aprendi a não atrasar o processo formal de disciplina quando as circunstâncias demandam. Problemas espirituais não melhoram simplesmente por si só; hesitação somente torna as coisas piores.
Aprendi a ter certeza que todos os envolvidos em um caso de disciplina estão cuidadosos acerca da confidencialidade, incluindo tomar precauções especiais com comunicação eletrônica e exercitar sabedoria nas conversações com as esposas.
Aprendi que o engano do pecado pode levar a um endurecimento do coração que só pode ser resolvido através de jejum e oração.
Aprendi que a maioria das pessoas sairão de suas igrejas em vez de honrarem seus votos de membresia ao lidar honestamente e de forma direta com seus pastores e presbíteros.
Aprendi que quando o arrependimento é genuíno, as pessoas confrontadas com o pecado cooperarão com seus presbíteros e irão trata-los com respeito, sem ficarem com raiva, ou tentarem assumir o controle do processo de disciplina, ou lutarem contra as consequências do seu pecado.
Aprendi que poucas coisas causam mais dificuldade na igreja que homens (especialmente) que são muito arrogantes, ou autocentrados, ou raivosos para ver o dano que estão causando para outras pessoas, especialmente para suas próprias famílias.
Aprendi a sabedoria de seguir Provérbios 28.13, 14 e 29.1, 9, 19, 22.
Aprendi que nada traz mais alegria para o coração de um pastor que um pecador que verdadeiramente se arrepende.
Philip Ryken é o Ministro Sênior da Tenth Presbyterian Church em Filadélfia, Pensilvânia.