Atividades multitarefa e a mordomia da mente

Você já foi tentado a colocar “capacidade de multitarefa” em seu currículo?

Em uma sociedade que superestima a capacidade de executar um monte de tarefas (aparentemente) ao mesmo tempo, não surpreende que a multitarefa pareça ser uma capacidade ou um talento – aliás, algo que é muitíssimo desejado (necessário, supomos?) em muitas situações.

E se estivermos errados? E se acompanhar várias tarefas ao mesmo tempo realmente estiver impedindo a nossa capacidade de ser bons administradores no local de trabalho?

O mito da multitarefa

Recentemente, a multitarefa foi considerada um mito, principalmente porque estudos têm demonstrado que esse fenômeno é, de fato, um mero alternar rapidamente entre múltiplas tarefas.

Entretanto, como relata a escritora Vivian Giang em Fast Company, “embora esse salto de tarefa em tarefa possa resultar em um falso senso de realização, o cérebro humano não foi feito para a multitarefa”.

Esses estudos também mostraram que tentar executar multitarefas (denominado mais precisamente de “switch-tasking” [alternância de tarefas] por Dave Crenshaw) produz três efeitos imediatos negativos:

 1. Aumento no tempo necessário para o cumprimento das tarefas recebidas;

 2. Redução na produtividade;

 3. Níveis de estresse elevados.

Outros impactos negativos da multitarefa incluem um aumento da probabilidade de cometer erros e efeitos negativos permanentes no cérebro.

Devemos reconhecer esses efeitos como obstáculos à mordomia fiel. A realização de tarefas de uma maneira que leve mais tempo, reduza a produtividade, aumente o estresse e a probabilidade para erros não é benéfica nem para a jornada de trabalho do indivíduo nem para o bem geral da empresa.

Mordomia fiel da mente

Quando executamos nosso trabalho de uma forma que manifestadamente causa impactos danosos no nosso cérebro, não estamos exercendo uma mordomia fiel nem no local de trabalho nem da própria mente.

Giant escreve:

Pesquisas nos dizem reiteradas vezes que a multitarefa é prejudicial para o nosso cérebro. Alguns estudos de pesquisa concluíram que nossos cérebros ficam realmente “entorpecidos” enquanto estão trabalhando em muita coisa ao mesmo tempo.

Outro estudo descobriu que pessoas multiatarefadas experimentaram quedas em seus QI em comparação a alguém que perdeu uma noite de sono. Ainda que essas pessoas achem que estão fazendo mais, elas estão trabalhando em um nível cognitivo muito baixo e custando bilhões de dólares às empresas em perda de produtividade.

Resumindo, os danos cognitivos associados com a alternância de tarefas nos livram de completar tudo o que somos capazes de completar. Consequentemente, nossas mentes não estão sendo bem administradas. Estamos desperdiçando as valiosas habilidades cognitivas que Deus nos deu.

Em acréscimo a esses impactos imediatos, Giant fornece evidência para efeitos negativos e permanentes:

Os custos cognitivos pioram. Se você é um multitarefa, você pode ter tido algum dano sério permanente, uma vez que um estudo que realizou varreduras de ressonância magnética no cérebro de pessoas multitarefas descobriu que elas tinham menos densidade cerebral em áreas que controlavam a empatia e as emoções.

Ademais, pessoas multitarefas ficam viciadas na gratificação instantânea que advém da conclusão de uma tarefa trivial, como enviar um e-mail. Isso conduz a um ciclo de feedback perigoso que leva você a acreditar que está produzindo em um ritmo ideal, mas isso é ilusório.

Ao longo de nossas vidas, desperdiçando tempo suficiente “em um estado de superficialidade frenética”, podemos, com efeito, perder permanentemente a capacidade do trabalho intenso – um conceito que é enaltecido da boca para fora, mas, paradoxalmente, muitas vezes não é nem praticado nem efetivamente estimulado, diz o professor da Universidade de Georgetown Cal Newport.

Dave Crenshaw lamenta: “A multitarefa é pior que uma mentira porque ela é a norma cultural”. Para extrair o máximo de nossas habilidades cognitivas, alguma coisa precisa ceder.

Monotarefa em um mundo multitarefa

A mordomia fiel da mente exigirá adaptação premeditada dos hábitos de trabalho. Isso pode não ser fácil, dada a sua atual atmosfera de trabalho, mas comece aos poucos e trabalhe para adaptar o que puder.

Feche ou minimize sua janela de mensagens recebidas para que ela não lhe sirva de distração. Termine uma tarefa antes de começar outra. Ao concentrar deliberadamente seu foco longe da periferia e em uma tarefa de cada vez, você começará a produzir um tipo especial de fruto.

Escolher ser monotarefa em um mundo multitarefa provavelmente fará você destacar-se da multidão. Mas, coragem: na Escritura, vemos que o povo de Deus continuamente tem se diferenciado por várias práticas (por exemplo, veja o código e leis levíticos do Antigo Testamento, as práticas da igreja em Atos e os diversos imperativos a várias igrejas nas epístolas do Novo Testamento).

Ainda que alguns não-crentes possam compreender e herdar os benefícios da monotarefa, esta prática devia ser a norma para aqueles que pertencem ao Pai. Há benefícios pessoais e de longo alcance na monotarefa, mas o chamado bíblico para a mordomia deveria ser o motivador primário dos crentes.

Quando reconhecemos que tudo quanto o Pai nos confiou são dons que exigem uma mordomia adequada e fiel, é justo que respondamos como mordomos fiéis.

Por: Jessica Schaeffer. © Institute for Faith, Work & Economics. Original: Multitasking and Stewardship of the Mind

Original: Atividades multitarefa e a mordomia da mente. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Tradução: Leonardo Bruno Galdino.