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Girolamo Zanchi – A sabedoria e presciência de Deus (Reforma500)
Com respeito à divina sabedoria e presciência, farei as seguintes afirmações:
Proposição 1. Deus é, e sempre foi tão perfeitamente sábio, que nada jamais frustrou, frusta ou pode frustar o seu conhecimento. Ele sabia, desde toda a eternidade, não somente o que ele mesmo pretendia fazer, mas também o que ele inclinaria e permitiria que os outros fizessem. “Conhecidas são a Deus, desde o princípio do mundo (ap aiwnoV) todas as suas obras” (Atos 15.18).
Proposição 2. Consequentemente, Deus não sabe nada agora, nem saberá nada mais adiante, que Ele não conheceu e previu desde a eternidade; sendo a sua presciência coeterna consigo mesmo e se estendendo a tudo que é ou deve ser feito (Hebreus 4.13). Todas as coisas que compreendem passado, presente e futuro, estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos que lidar.
Proposição 3. Esta presciência de Deus não é conjectural e incerta (pois, então, não seria presciência), mas é segura e infalível, de modo que tudo o que ele prevê ser futuro necessariamente acontecerá. Pois, o seu conhecimento não pode mais ser frustrado ou sua sabedoria enganada, do que ele pode deixar de ser Deus. Não, se qualquer um destes fosse o caso, ele realmente deixaria de ser Deus, sendo todo erro e frustração absolutamente incompatível com a natureza divina.
Proposição 4. A influência que a presciência divina tem sobre a certa realização futura das coisas conhecidas não torna desnecessária a intervenção de causas secundárias, nem destrói a própria natureza das coisas.
Meu entendimento é que a presciência de Deus não coloca nenhuma necessidade coercitiva sobre as vontades dos seres naturalmente livres. Por exemplo, o homem, mesmo em seu estado caído, é dotado de uma liberdade natural da vontade, mas age, desde o primeiro até o último momento da sua vida, em absoluta subserviência (embora, talvez, ele não o saiba ou o intencione) aos propósitos e decretos de Deus concernentes a ele; todavia, ele não é passível à compulsão, mas age tão livre e voluntariamente como se fosse sui juris, não sujeito a nenhum controle e absolutamente senhor de si mesmo. Isto fez com que Lutero — depois de ter demonstrado como todas as coisas necessária e inevitavelmente acontecem, em consequência da vontade soberana e da presciência infalível de Deus — dizer que “devemos distinguir cuidadosamente entre uma necessidade de infalibilidade e uma necessidade de coação, já que tanto homens bons quanto maus, embora por suas ações cumpram o decreto e designação de Deus, ainda assim, não são obrigados a fazer qualquer coisa, mas agem voluntariamente”.
Proposição 5. A presciência de Deus, considerada de forma abstrata, não é a única causa dos seres e eventos, mas a sua vontade e presciência juntos. Por isso encontramos (Atos 2.23) que seu determinado conselho e presciência agem em conjunto, sendo este último resultante e fundado no primeiro.