Girolamo Zanchi – A sabedoria e presciência de Deus (Reforma500)

500 anos de Reforma Protestante

Em comemoração aos 500 anos de Reforma Protestante, o Voltemos ao Evangelho trará artigos semanais e biografias de diferentes reformadores: Girolamo Zachi (jan), Theodoro Beza (fev), Thomas Cranmer (mar), Guilherme Farrel (abr), William Tyndale (mai), Martin Bucer (jun), John Knox (jul), Ulrico Zuínglio (ago), João Calvino (set) e Martinho Lutero (out).

Com respeito à divina sabedoria e presciência, farei as seguintes afirmações:

Proposição 1. Deus é, e sempre foi tão perfeitamente sábio, que nada jamais frustrou, frusta ou pode frustar o seu conhecimento. Ele sabia, desde toda a eternidade, não somente o que ele mesmo pretendia fazer, mas também o que ele inclinaria e permitiria que os outros fizessem. “Conhecidas são a Deus, desde o princípio do mundo (ap aiwnoV) todas as suas obras” (Atos 15.18).

Proposição 2. Consequentemente, Deus não sabe nada agora, nem saberá nada mais adiante, que Ele não conheceu e previu desde a eternidade; sendo a sua presciência coeterna consigo mesmo e se estendendo a tudo que é ou deve ser feito (Hebreus 4.13). Todas as coisas que compreendem passado, presente e futuro, estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos que lidar.

Proposição 3. Esta presciência de Deus não é conjectural e incerta (pois, então, não seria presciência), mas é segura e infalível, de modo que tudo o que ele prevê ser futuro necessariamente acontecerá. Pois, o seu conhecimento não pode mais ser frustrado ou sua sabedoria enganada, do que ele pode deixar de ser Deus. Não, se qualquer um destes fosse o caso, ele realmente deixaria de ser Deus, sendo todo erro e frustração absolutamente incompatível com a natureza divina.

Proposição 4. A influência que a presciência divina tem sobre a certa realização futura das coisas conhecidas não torna desnecessária a intervenção de causas secundárias, nem destrói a própria natureza das coisas.

Meu entendimento é que a presciência de Deus não coloca nenhuma necessidade coercitiva sobre as vontades dos seres naturalmente livres. Por exemplo, o homem, mesmo em seu estado caído, é dotado de uma liberdade natural da vontade, mas age, desde o primeiro até o último momento da sua vida, em absoluta subserviência (embora, talvez, ele não o saiba ou o intencione) aos propósitos e decretos de Deus concernentes a ele; todavia, ele não é passível à compulsão, mas age tão livre e voluntariamente como se fosse sui juris, não sujeito a nenhum controle e absolutamente senhor de si mesmo. Isto fez com que Lutero — depois de ter demonstrado como todas as coisas necessária e inevitavelmente acontecem, em consequência da vontade soberana e da presciência infalível de Deus — dizer que “devemos distinguir cuidadosamente entre uma necessidade de infalibilidade e uma necessidade de coação, já que tanto homens bons quanto maus, embora por suas ações cumpram o decreto e designação de Deus, ainda assim, não são obrigados a fazer qualquer coisa, mas agem voluntariamente”.

Proposição 5. A presciência de Deus, considerada de forma abstrata, não é a única causa dos seres e eventos, mas a sua vontade e presciência juntos. Por isso encontramos (Atos 2.23) que seu determinado conselho e presciência agem em conjunto, sendo este último resultante e fundado no primeiro.

Por: Girolamo Zanchi. Fonte: Absolute Predestination

Original: Girolamo Zanchi – A sabedoria e presciência de Deus (Reforma500). © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Camila Rebeca Teixeira. Revisão: William Teixeira.