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Exortação ao conhecimento das Sagradas Escrituras (Parte 1) (Reforma 500)
Essa é a primeira de 3 partes da homilia, Uma Proveitosa Exortação à Leitura e ao Conhecimento das Sagradas Escrituras.
A glória das Sagradas Escrituras: Para um cristão não pode haver nada mais necessário ou proveitoso do que o conhecimento das Sagradas Escrituras, uma vez que nelas está contida a verdadeira Palavra de Deus, a qual revela a sua glória e também os deveres do homem.
A perfeição das Sagradas Escrituras: E não há verdade ou doutrina necessária para a nossa salvação eterna, senão a que é (ou pode ser) extraída dessa fonte e poço da verdade.
O conhecimento das Sagradas Escrituras é necessário. Portanto, todos que desejam entrar no caminho correto e perfeito para Deus devem aplicar as suas mentes a conhecerem as Sagradas Escrituras, sem as quais eles não podem conhecer a Deus e a sua vontade de modo suficiente, nem conhecer a sua posição e dever.
A quem o conhecimento das Sagradas Escrituras é doce e agradável; e quem são os inimigos das Sagradas Escrituras. Como a bebida é agradável para os sedentos, e como a comida é deleitosa para o faminto, assim é a leitura, audição, exame e estudo das Sagradas Escrituras para aqueles que são desejosos de conhecer a Deus e a sua vontade ou a si mesmos. E somente os estômagos cheios das vaidades mundanas aborrecem e odeiam o conhecimento e alimento da Palavra de Deus, de modo que nos tais não há o favor de Deus, nem piedade alguma. Esta é a causa do porque eles desejam tais vaidades, em vez do conhecimento de Deus,
Uma analogia adequada para declarar quem odeia as Escrituras. Assim como para aqueles que estão enfermos e sentem dor — não importa o que comam ou bebam, mesmo que seja apetitoso — tudo será amargoso como absinto ao seu paladar; não que a comida ou bebida sejam amargas, mas pela corrupção e gosto amargo de suas próprias línguas; desse modo, a Palavra de Deus é amarga, não em si mesma, mas para aqueles que têm as suas mentes corrompidas pelo prolongado costume do pecado e pelo amor a esse mundo.
Primeira parte da exortação
Uma exortação à leitura e exame diligentes das Sagradas Escrituras. Rejeitem a corrupção dos homens carnais, os quais somente se preocupam com o seu exterior. Ouçam e leiam de modo reverente as Sagradas Escrituras, as quais são o alimento da alma (Mateus 4.4). Busquem diligentemente a fonte da vida no Antigo e do Novo Testamentos, e não se vá para os poços fétidos das tradições dos homens em busca de justificação e de salvação.
As Sagradas Escrituras contêm a doutrina suficiente para a nossa salvação. O que nós aprendemos nas Sagradas Escrituras. As Sagradas Escrituras contêm plenamente o que nós devemos fazer e evitar; o que nós devemos crer e amar e o que devemos buscar das mãos de Deus. Nesses livros encontraremos o Pai, o Filho e o Espírito Santo, por quem todas as coisas foram criadas e são sustentadas. Encontraremos que essas três Pessoas são um Deus e uma substância. Nesses livros, aprendemos a conhecer quão vis e miseráveis nós somos, e também a conhecer quão bom Deus é e como ele faz as suas criaturas participarem da sua bondade. Também conhecemos a vontade de Deus e o que lhe agrada, tanto quanto (para o presente tempo) é conveniente sabermos. E, como diz o grande pastor e piedoso pregador João Crisóstomo, o que é necessário para a salvação do homem está plenamente contido nas Escrituras de Deus. Aquele que é ignorante, pode ali aprender e obter conhecimento. Aquele que é duro de coração e um pecador obstinado, encontrará ali sobre os tormentos eternos (preparados pela justiça de Deus), de modo a atemorizá-lo, comovê-lo e quebrantá-lo. Aquele que está oprimido pela miséria nesse mundo, encontrará libertação nas promessas de vida eterna, para o seu grande consolo e refrigério. Aquele que está ferido mortalmente, encontrará ali o remédio por meio do qual ele será restaurado à saúde.
As Sagradas Escrituras fornecem doutrina suficiente para todos os homens de todas as idades. Quais são os benefícios e o proveito provenientes do conhecimento das Sagradas Escrituras. Se for necessário ensinar alguma verdade ou reprovar falsas doutrinas, repreender qualquer vício, recomendar qualquer virtude, dar um bom conselho, consolar ou exortar, ou fazer qualquer outra coisa necessária para a nossa salvação, todas essas coisas, diz João Crisóstomo, podemos aprender abundantemente a partir da Escritura. Fulgêncio diz que nas Escrituras há abundantemente o suficiente, tanto para os homens comerem quanto para as crianças mamarem. Há ali o que é adequado para todas as idades, e para todas as classes e tipos de homens. Portanto, as Escrituras devem estar com frequência em nossas mãos, diante dos nossos olhos, em nossos ouvidos, nas nossas bocas, mas sobretudo em nossos corações. Porque a Escritura de Deus é o alimento celestial das nossas almas (Mateus 4.4), ouvi-la e guardá-la produz bênçãos (Lucas 11.28), santifica (João 17.17), aperfeiçoa, converte as nossas almas (Salmos 19.7), é lâmpada para nossos pés (Salmos 119.105), é um instrumento seguro, firme e eterno de salvação, ela dá sabedoria aos corações simples e humildes, conforta, alegra, ilumina e anima a nossa consciência. As Escrituras são uma joia ou tesouro mais excelente do que qualquer ouro ou pedra preciosa, são mais doces do que o mel, são chamadas de a melhor parte, que Maria escolheu, pois tem em si o conforto eterno (Lucas 10.42). As palavras da Sagrada Escritura são chamadas de palavras de vida eterna (João 6.68), pois elas são instrumentos de Deus, ordenadas para esse mesmo propósito. Elas revelam a promessa de Deus e tais promessas se cumprem pelo auxílio de Deus e sendo recebidas por um coração crente, há uma obra espiritual operando nelas. Elas são vivas, vivificadoras e eficazes, e mais cortantes do que qualquer espada de dois gumes, e penetram até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas (Hebreus 4.12). Cristo chama a si mesmo de um construtor sábio, que edifica sobre a sua palavra, sobre a seu fundamento seguro e inabalável (Mateus 7.24). Pela Palavra de Deus, nós seremos julgados, pois a própria palavra que tenho proferido, diz Cristo, essa vos julgará no último dia (João 12.48). Àquele que guarda a palavra de Cristo é prometido o amor e o favor de Deus, e que ele será a habitação ou templo da bendita Trindade (João 14.23). Para aquele que diligentemente lê a Palavra e a guarda em seu coração, a grande afeição pelas coisas desse mundo será diminuída, e crescerá em seu lugar o grande desejo pelas coisas celestiais (as quais Deus promete nas Escrituras). E não há nada que fortaleça a nossa fé e a nossa confiança em Deus, que tanto conserve a inocência e a pureza do coração e também da vida piedosa e da conversação exterior, quanto a leitura e a meditação contínuas da Palavra de Deus. Pois, aquilo que pela frequente leitura das Sagradas Escrituras e diligente exame das mesmas for impresso e gravado no coração, por fim se torna quase unido à natureza. E, além disso, o efeito e a virtude da Palavra de Deus é iluminar os ignorantes e lhes dar mais luz, para que fiel e diligentemente a leiam, confortem os seus corações e sejam encorajados a fazer o que Deus ordena. A Palavra de Deus ensina a paciência em toda adversidade, prosperidade e humildade; ensina a honra que é devida a Deus e a misericórdia e o amor que são devidos ao próximo. Ela dá bom conselho em todas as questões duvidosas, revela a quem devemos recorrer por ajuda e por socorro em todos os perigos, e que Deus é o único que dá a vitória em todas as batalhas e em todas as tentações de nossos inimigos carnais e espirituais (1 Samuel 14.4-23; 2 Crônicas 20.7, 17, 29; 1 Coríntios 15.57; 1 João 5.4).
Quem mais se beneficia ao ler a Palavra de Deus. No que diz respeito à leitura da Palavra de Deus, nem sempre tem mais proveito aquele que está sempre mais disposto a folhear o Livro ou a citá-la à parte do Livro, mas aquele que é mais transformado por ela, quem é mais ajudado pelo Espírito Santo, [1] aquele que tem o seu coração e sua vida mais afetados e modificados por aquilo que ele lê, [2] aquele que a cada dia é menos orgulhoso, irado, invejoso e desejoso dos prazeres mundanos e vãos e [3] aquele que diariamente abandona os seus antigos vícios, cresce cada vez mais em virtude. E para abreviar, não há nada que mais mantenha a piedade do homem e afaste dele a vanglória, do que a contínua leitura ou audição da Palavra de Deus, se isso estiver unido a uma mente piedosa e uma boa afeição por conhecer e seguir a vontade de Deus.
Quais são os malefícios provenientes da ignorância da Palavra de Deus. Sem uma busca simples, uma intenção pura e uma boa mentalidade, nada é admitido para bem diante de Deus. E, por outro lado, nada mais obscurece Cristo e a glória de Deus, nem produz maior cegueira e toda sorte de vícios do que a ignorância da Palavra de Deus (Isaías 5.13, 24; Mateus 22.29; 1 Coríntios 14.20, 37-38).
[Continua na Parte 2]