Um blog do Ministério Fiel
Exortação ao conhecimento das Sagradas Escrituras (Parte 3) (Reforma 500)
Essa é a Parte 3/3 da homilia, Uma Proveitosa Exortação à Leitura e ao Conhecimento das Sagradas Escrituras. (Leia a Parte 1 e a Parte 2)
E, se você teme cair em erro, leia as Sagradas Escrituras; eu lhe mostrarei como você pode lê-la sem perigo de cair em erros:
Como as Sagradas Escrituras podem ser lidas com mais proveito e sem qualquer risco. Leia a Palavra de Deus humildemente, com um coração manso e simples, com a intenção de glorificar a Deus e não a si mesmo com o conhecimento que obtiver dela. Não a leia sem orar diariamente a Deus, para que ele conduza a sua leitura a um bom efeito, e não tome sobre você a exigência de explicar a Escritura para além do que consiga entender claramente. Pois, como diz Agostinho, o conhecimento das Sagradas Escrituras é um lugar grande, amplo e elevado, mas a porta é muito baixa, para que o altivo e arrogante não consiga caminhar nele. Mas, aquele que se inclina, humilha a si mesmo, entrará pela porta. A presunção e arrogância é a mãe de todos os erros; já a humildade não precisa temer erro algum. Pois, a humildade buscará apenas conhecer a verdade, examinará e reunirá uma passagem com a outra, e onde não conseguir chegar ao significado, orará e perguntará a outro que possa conhecê-lo, e não tratará de encontrar outro significado de modo presunçoso e precipitado sobre o que não conhece. Logo, o homem humilde pode buscar qualquer verdade nas Escrituras sem qualquer perigo de erro. E se ele for ignorante, deveria ler e examinar as Sagradas Escrituras, a fim de se livrar de sua ignorância. Eu não digo que um homem não possa prosperar apenas ouvindo a Palavra de Deus, mas ele pode prosperar muito mais fazendo ambos: ouvindo-a e lendo-a.
Algumas passagens das Escrituras são fáceis de serem entendidas, já outras são difíceis. Digo isso a respeito do medo de lê-las devido a ignorância do leitor. E, sobre a complexidade das Escrituras, aquele que é tão fraco que não consegue comer alimento sólido, pode beber o doce e suave leite, e adiar o restante para quando ele se tornar mais forte e crescer no conhecimento de Deus. Pois, Deus recebe o sábio e o ignorante, não lança ninguém fora e não faz acepção de pessoas. A Escritura está repleta de vales baixos e caminhos aplainados, os quais são de fácil acesso para todos os homens; mas também possui montanhas e montes elevados, os quais poucos homens conseguem escalar.
Deus não deixa de ensinar alguém que tenha boa vontade em conhecer a sua Palavra. Quanto a qualquer pessoa que se dedique às Sagradas Escrituras, com estudo diligente e desejo ardente, é impossível (diz Crisóstomo) que tal pessoa seja deixada sem auxílio; pois, o Deus Todo-Poderoso enviará algum ensino piedoso, assim como ele instruiu o eunuco, um homem nobre da Etiópia e tesoureiro da rainha Candace, o qual tendo desejo de ler as Escrituras (ainda que não a compreendesse), pelo anelo que tinha pela Palavra de Deus, o Senhor enviou o seu apóstolo Filipe para declarar-lhe o verdadeiro sentido da Escritura que ele leu. Contudo, se houver falta de um homem instruído que possa ensinar e esclarecer, o próprio Deus envia luz às nossas mentes e ensina aquelas coisas que são necessárias para nós que somos ignorantes.
A que o conhecimento das Escrituras deve estar unido. Crisóstomo afirma que a sabedoria humana e a mundana ou ciência não são necessárias para o entendimento das Escrituras, mas sim a revelação do Espírito Santo, quem revela o verdadeiro sentido àqueles que com humildade e diligência buscam tal entendimento. Aquele que pede, recebe; aquele que busca, encontra e aquele que bate, terá a porta aberta (Mateus 7.7-8).
Uma boa regra para a compreensão das Escrituras. Se nós lermos uma, duas ou três vezes e não entendermos, não devemos parar, mas prossigamos em ler, orar, perguntar a outros, e, assim ainda batendo, finalmente a porta será aberta, como afirma Agostinho. Embora muitas coisas nas Escrituras sejam ditas em mistérios difíceis, contudo não há nada que se possa falar em mistérios em uma só passagem, sem que em outros lugares isso seja falado mais familiar e claramente, de acordo com a capacidade tanto de instruídos quanto de ignorantes.
Nenhum homem está excluído do conhecimento da vontade de Cristo. Todo homem tem o dever de aprender, guardar na memória e efetivamente praticar aquelas coisas nas Escrituras que devem ser entendidas e são necessárias para a salvação. E quanto aos mistérios difíceis, contente-se em ser ignorante quanto a eles, até que chegue o tempo em que agrade a Deus lhes revelar tais mistérios. Enquanto isso, se ele carecer de capacidade ou oportunidade, Deus não considerará isso como sendo devido à sua insensatez. Quanto aquilo que entende, tal pessoa deve continuar a ler, pois, apesar da complexidade de algumas passagens, a leitura do todo não deve ser negligenciada.
Aquelas pessoas que desejam continuar em ignorância. Para concluir brevemente, como diz Agostinho, pelas Escrituras todos os homens são corrigidos, os homens fracos são fortalecidos e os homens fortes são consolados. De modo que, certamente, ninguém é inimigo da leitura da Palavra de Deus, senão aqueles que são tão ignorantes, que não entendem quão benéfica ela é; ou tão enfermos, que odeiam o remédio mais agradável que poderia curá-los; ou ainda, aqueles que são tão ímpios, que desejam que o povo continue na cegueira e ignorância de Deus.
As Sagradas Escrituras são um dos principais benefícios de Deus. Assim, brevemente citamos alguns dos proveitos da santa Palavra de Deus, que é um dos seus principais e mais eminentes benefícios dados e declarados à humanidade no mundo. Sejamos gratos a Deus com todo o coração, por esse seu dom grande e especial, favor benevolente e providência paternal.
A leitura correta, o uso e o estudo frutífero das Sagradas Escrituras. Alegremo-nos em receber esse dom precioso de nosso Pai celestial. Que possamos ouvir, ler e conhecer essas Escrituras, as quais são santas regras, mandamentos e estatutos de nossa religião Cristã, e sobre elas nós devemos fazer profissão a Deus em nosso batismo. Com temor e reverência, guardemos (no cofre do nosso coração) essas lições necessárias e frutíferas. Que possamos meditar nelas de dia e de noite. Vamos, por assim dizer ruminá-la, para que possamos obter um efeito doce e espiritual, aquilo que é essencial, o mel, o sabor, o conforto e a consolação a partir delas (Salmo 56.4). Aquietemo-nos e certifiquemos as nossas consciências, com a mais infalível certeza, verdade e eterna confiança nelas. Oremos a Deus (o único Autor desses estudos celestiais) para que possamos falar, pensar, crer e viver a partir daqui de acordo com toda a doutrina e verdade delas.
E por esses meios, teremos a defesa, o favor e a graça de Deus nesse mundo, com a inefável consolação da paz e a calma de consciência, e após essa vida miserável, fruiremos da bem-aventurança e da glória eterna no céu, o que Deus concede a todos os que morreram em Jesus Cristo, a quem, junto com o Pai e Espírito Santo, pertencem todas as honras e as glória, tanto agora como eternamente.