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O Retrato de Dorian Gray – Romances seculares que recomendamos [10]
O Retrato de Dorian Gray (Penguin-Cia das Letras, 2012), de Oscar Wilde, é um romance intelectualmente desafiador que oscila entre uma conversa amena, aparentemente sem direção e um fio narrativo instigante que, com o tempo, borbulha até à superfície com a intensidade de uma erupção vulcânica. Embora conte com um pouco mais de um século de idade, esse livro já tem sido considerado um “clássico” pelos amantes da literatura, condição que vim a reconhecer após a sua leitura. O domínio que Wilde tem da língua inglesa é quase incomparável na literatura recente.
Alerta de spoiler
Eis a ideia central do livro. Dorian Gray é um jovem cuja aparência física é vistosa e inofensiva. Um aspirante a artista pinta um belo retrato dele. Dorian deseja se parecer sempre com a sua aparência juvenil no retrato. O desejo vira realidade. Dorian permanece o mesmo – jovem e encantador, mas o retrato começa a transformar-se na imagem de sua alma.
Quando Dorian adota uma vida de hedonismo, ele usa seu rosto bonito e charme para obter tudo o que deseja na vida. Sua insensibilidade leva um amigo a suicidar-se. Os maus desejos de seu coração, no fim, o levam a assassinar um amigo a sangue frio. Ao longo de um período de vinte anos, Dorian se transforma num monstro do lado de dentro (refletido pelo retrato de sua alma), ao mesmo tempo em que permanece jovem e inofensivo do lado de fora.
A homossexualidade de Oscar Wilde não é segredo, e o leitor consegue facilmente discernir certas conotações homossexuais no livro (especialmente no início). Talvez, as insinuações sutis de homossexualidade de Wilde tenham tornado suas obras tão atraentes para os amantes da literatura que tendem a simpatizar-se e aprovar o comportamento homossexual.
Ao ler Dorian Gray, contudo, não pude deixar de notar como o estilo de vida hedonista é tão implicitamente condenado pelo desenlace da narrativa. Se o hedonismo de Dorian inclui relacionamentos sexuais com homens bem como com mulheres (e Wilde sugere isso), então a homossexualidade entra debaixo do mesmo guarda-chuva que o restante das paixões pecaminosas de Dorian. Dificilmente se pode caracterizar O Retrato de Dorian Gray como um livro pró-homossexual.
Os leitores deste blog considerarão o retrato da depravação em Dorian Gray intrigante. Por toda a estória, Dorian, mesmo em seu hedonismo, age de uma maneira que obriga o leitor a desejar justiça e redenção. O final do livro enfatiza a necessidade de castigo e retribuição – apontando para a morte como o salário do pecado.
Com que uma vida de hedonismo desenfreado se parece? O que ela faz à alma? O que acontece com o ser humano que tenta satisfazer cada uma de suas paixões e desejos? Como o pecado nos afeta fisicamente? Envelhecemos porque pecamos? São essas e outras questões que Oscar Wilde levanta em O Retrato de Dorian Gray.