Um blog do Ministério Fiel
Enquanto agonizo – Romances seculares que recomendamos [14]
Ocasionalmente, estudantes de literatura americana são confiados ao romance de 1930 de William Faulkner, Enquanto agonizo (L&PM Pocket, 2009). A escolha é um tanto pragmática, uma vez que Faulkner é um dos grandes ficcionistas do século 20; porém, sua obra-prima, Som e Fúria, é incrivelmente difícil de ler. Enquanto agonizo é breve e o enredo é intrigante (os preparativos de uma família interiorana para o enterro da matriarca, entravado por uma excursão dificultosa até o jazigo da família). Um dos capítulos é composto inteiramente de uma frase (“Minha mãe é um peixe”), o que deixou muitos estudantes perplexos e irritados. Pelo menos agora há uma adaptação cinematográfica dirigida pelo chiquérrimo James Franco.
Para os cristãos, Enquanto agonizo oferece uma mina de ouro de descobertas teológicas, não em termos de afirmação devocional de ortodoxia, mas em termos de seus lembretes moderados da necessidade da fé. Faulkner adorava o Antigo Testamento, mas era menos encantado com o Novo, acreditando que as histórias das Escrituras Hebraicas eram mais fascinantes. Minha sensação é de que ele era um cripto-calvinista que acreditava que a expiação é tão limitada (e Deus tão santo ou tão cruel) que ninguém é eleito. Deus é um Juiz justo que, com razão, condena todos à morte. Cada um de nós, então, vive em uma trajetória inalterável para a morte; urubus circulam cada um de nossos cadáveres, pelo menos metaforicamente.
Ouvi dizer que a cultura ocidental, em particular a americana, é fascinada pelo fruto do evangelho ao mesmo tempo em que repudia suas raízes no ministério sacrificial e gracioso de Cristo, que nos convoca ao arrependimento humilde. Enquanto agonizo retrata um mundo apavorante que não possui nem o evangelho nem seu fruto.
O romance reflete sobre a natureza da masculinidade e da feminilidade.
Ele nos confronta com o desespero que acompanha o aborto.
Ele nos fornece uma encarnação fictícia do disparate mais grosseiro do Prêmio Darwin.
Para aqueles de nós que se tornaram seguidores de Cristo na juventude, há um risco constante de esquecimento sobre o que é a vida sem a esperança do evangelho. Simplesmente não conseguimos lembrar o que sé viver sem esperança, que é a condição dos nossos amigos e vizinhos à parte Cristo. Enquanto agonizo é uma forma de mostrar empatia novamente com essa desesperança. Quando chegamos às páginas finais, somos vencidos: Oh! Quem dera esse mundo não tivesse de ser assim! Quem dera fôssemos mais como animais moribundos aprisionados em um mundo moribundo! Quem dera houvesse um Salvador que pudesse resgatar-nos de nossa estupidez e de nossa mortalidade!
Ah, aqui está a lição. A salvação vem de fora desta esfera. Até que humilhemos nossos corações e ergamos nossos olhos, não podemos ver o que está transcendentalmente presente: a oferta de graça de Cristo.
Leia: Enquanto agonizo