Um blog do Ministério Fiel
O Deus que não aprende
Quem é a pessoa mais inteligente que você conhece? Não o mais sabichão, mas o pensador mais habilidoso intelectual- mente? No meu caso, é o meu avô. Um devoto homem de fé, ele foi um engenheiro nuclear antes que esse campo de conhecimento sequer existisse. Ele acumulou patentes e premiações merecidas ao logo de uma carreira que se estendeu bem até os seus oitenta anos. Ele morreu aos noventa e três anos, ainda com uma mente ativa. No seu funeral, aqueles de quem ele foi mentor o descreveram afetuosamente como alguém tão brilhante que, por certo, o pouco que tinha esquecido sobre ciência ao longo do tempo era mais do que eles poderiam aprender durante a vida toda. Entretanto, mesmo a pessoa mais inteligente que conheci oferece apenas uma pálida sombra do Deus a quem ele adorava.
Deus não é meramente cognoscível; ele é onisciente — ilimitado em seu conhecimento. Ele sabe todas as coisas, não porque ele as aprendeu, mas porque ele é a sua origem. Deus não aprende. Aprender implica mudança, e, como já vimos, ele não muda. Aprender implica mover um limite de conhecimento, e seu conhecimento não tem limites. O ditado “você sempre aprende algo novo todos os dias” não se aplica a ele de forma alguma. Deus não aprendeu uma coisa sequer. Não sendo limitado pelo tempo, Deus sabe todas as coisas passadas, presentes e futuras, assim como todas as coisas existentes fora do tempo. E ele nunca se esquece, porque está plenamente presente em todos os lugares. Já consideramos com relação à sua incompreensibilidade, que ele tem perfeito conhecimento tanto de si mesmo quanto de nós. Mas isso é apenas o começo de tudo o que ele sabe.
1. W. Tozer nos oferece uma tentativa lírica de capturar a profundidade do conhecimento de Deus:
Deus conhece, de forma instantânea e sem esforço, cada assunto e todos os assuntos, toda e cada mente, cada espírito e todos os espíritos, todo e cada ser, toda a criação e todas as criaturas, cada pluralidade e todas as pluralidades, toda e cada lei, todas as relações, todas as causas, todos os pensamentos, todos os mistérios, todos os enigmas, todo sentimento, todos os desejos, cada segredo guardado, todos os tronos e domínios, todas as personalidades, todas as coisas visíveis e invisíveis no céu e na terra, o movimento, o espaço, o tempo, a vida, a morte, o bem, o mal, o paraíso e o inferno. Porque Deus conhece todas as coisas perfeitamente, ele não conhece uma coisa melhor do que outra, mas todas as coisas igualmente bem. Ele nada descobre. Ele nunca é surpreendido, nunca se espanta. Ele nunca se pergunta sobre coisa alguma nem busca informação ou faz perguntas (exceto quando sonda os homens para o próprio bem deles).
Embora aprender seja algo completamente desconhecido para Deus, para o ser humano, é completamente fundamental. Isso começa mesmo antes de nascermos — o ventre de nossa mãe é nossa primeira sala de aula. É onde nossos cinco sentidos começam a processar estímulos. Nós nunca paramos de aprender. A afirmação “você nunca é velho demais para aprender” foi verdade para o meu avô, e eu oro para que seja verdade na minha vida também. Do berço ao túmulo, aprender é essencial ao ser humano. Não apenas isso, é um direito humano. A Organização das Nações Unidas vê a educação como “um direito humano fundamental e essencial para o exercício de todos os outros direitos humanos”. Quando queremos negar a alguém o pleno exercício de sua humanidade, impedir o aprendizado é frequentemente a medida que usamos. Mulheres, pobres e até mesmo etnias inteiras têm sido mantidos sem acesso à educação, a fim de serem controlados ou marginalizados. Ser humano é aprender. Negar o aprendizado humano é se colocar como Deus, ainda que uma versão malévola dele. Somente um Deus benevolente pode determinar os limites do entendimento humano em áreas que sejam certas e boas.
TESTANDO NOSSOS LIMITES DE PRENDIZADO
Deus deixou o universo aberto para nossa exploração. Nós somos livres para descobrir o que quisermos, de acordo com nossas habilidades intelectuais, nos tempos e lugares que ele ordenou para nós. Embora não seja claro se Deus colocou limites na quantidade de conhecimento que a raça humana pode explorar, ele certamente colocou limites na quantidade de conhecimento que cada ser humano pode consumir e usar. Esses limites estão se tornando cada vez mais evidentes àqueles de nós vivendo numa era de explosão de informações. Trinta anos depois de sua criação, estima-se que 39% da população mundial (2,7 bilhões de pessoas) usa a internet. E a quantidade de informação é assustadora. A cada minuto, usuários de e-mail enviam 204 milhões de mensagens, usuários do site Pinterest salvam 3472 imagens, o Google recebe mais de 4 milhões de buscas e os usuários do Facebook compartilham 2,5 milhões de postagens. Estamos testando os limites de nosso consumo de uma maneira que as gerações anteriores não testaram. A internet oferece um self-service a todos, desde aquele que está realmente fazendo uma pesquisa até quem está simplesmente entediado. E nós estamos entrando repetidamente na fila desse restaurante como se nossos cérebros tivessem espaço para (ou fossem usar) qualquer coisa com que os alimentarmos. Assim como todos os restaurantes self-service, embora sejam maravilhosos em sua acessibilidade e variedade, o consumo impensado pode levar a problemas de saúde. Há uma diferença entre o aprendizado saudável e a glutonaria de informações: um é sobre ser completamente humano, e o outro é sobre ansiar a ausência de limites. Nosso desejo insaciável por informação é um claro sinal de que cobiçamos a onisciência divina. Queremos saber de todos os fatos, mas, como seres finitos, nós não fomos projetados para isso. E assim, não é de se surpreender que o consumo desmedido de informação nos leve, não a um aumento de nossa paz de espírito como esperávamos, mas a uma crescente dissonância. Psicólogos desenvolveram um termo para descrever o que acontece quando ignoramos os bons limites daquilo com que alimentamos o nosso cérebro: sobrecarga de informação. Estudos mostram que a sobrecarga de informação pode causar irritabilidade, raiva, letargia, apatia e insônia. Ela pode levar à pressão alta, estresse cardiovascular, desordens alimentares, dores de cabeça, dores de estômago, dores musculares e problemas de visão. Ela afeta nossa cognição e, logo, nossa produtividade, diminuindo a nossa capacidade de atenção e concentração.
De maneira contraintuitiva, a sobrecarga de informação também diminui a nossa capacidade de tomar decisões. Embora coletar fatos nos auxilie na tomada de decisões, com tantos fatos conflitantes para considerar, nós travamos. Sofremos de “paralisia por análise”, sempre temendo que outra informação invalide a nossa escolha atual. Incapazes de medir os, aparentemente, infinitos prós e contras de qualquer decisão, nós nunca decidimos. O resultado é a inação.
A sobrecarga de informações ainda tem outro efeito devastador: ela acaba com a empatia. Uma pesquisa conduzida pela Universidade do Sul da Califórnia revelou que a exposição rápida a manchetes, ou histórias de desastre, ou tragédia humana, pode adormecer nosso sentido de moralidade e produzir indiferença. De acordo com um sociólogo da USC, Manuel Castells: “Na cultura da mídia onde violência e sofrimento se tornam uma atração sem fim, seja na ficção ou no jornalismo, a indiferença à vista do sofrimento humano gradualmente se implanta”.
Que Deus nos ajude se os crentes desconsiderarem os bons limites para as nossas mentes. Que Deus nos ajude se a igreja sucumbir à inação e à indiferença diante do sofrimento humano. Devemos respeitar os bons limites determinados por Deus para a quantidade de informação que podemos processar e para a quantidade de tempo que se leva para processá-la de maneira que resulte em ação e empatia.