O ministério pastoral e o deleite do anonimato

Este é um artigo de um convidado, Pete Greasley, pastor principal da Christchurch em Newport, Whales.

“Eu sou chamado para o ministério pastoral?”. Boa pergunta. Essa é uma questão vital, não apenas para a sua própria vida, mas para aqueles que você ama e para a igreja pela qual Jesus derramou o seu sangue.

Ao tentar determinar a resposta, tenho outra pergunta (bem, na verdade são quatro) que aprofundam e detalham a questão.

De modo simples, é isso: Eu sou o homem certo, no lugar certo, na hora certa, pelo motivo certo?

Este website busca principalmente responder à primeira pergunta: “Eu sou o homem certo?”. Quanto à segunda e à terceira, essas são perguntas que só podem ser respondidas por meio de sua própria oração e convicção — juntamente com aqueles que o conhecem e amam — e a igreja que terá a responsabilidade contínua de expressar um chamado “específico” ao serviço.

Mas é a última pergunta, o “por quê?”, o motivo, os impulsos e desejos internos que nos levam a buscar um chamado ministerial, que eu desejo brevemente destacar e nos ajudar a examinar neste artigo.

Aqui está a minha conclusão (eu não sou o primeiro a fazê-lo, Tito 1.12-13!) após considerar a mim mesmo e muitos líderes que eu conheci em mais de 30 anos de ministério pastoral: A maioria dos homens entram no ministério pastoral pelo motivo errado.

Isso pode ser um pouco severo. Provavelmente, seria mais correto dizer: “por motivos confusos”. Com certeza, eu amo o Senhor, amo a igreja, sou apaixonado por servir ao evangelho, e sinto uma forte vocação para dar minha vida por algo que tem significado e propósito ao ver esse evangelho sendo propagado. Porém, ao mesmo tempo, pode haver uma parte de mim, se eu for completamente honesto (poucos de nós somos), que deseja profundamente ser respeitado, considerado, escutado, honrado, amado e adorado! Nós amamos o louvor dos homens; e o ministério pastoral pode ser uma maneira garantida de obter esse louvor.

Na igreja, estamos pregando todo o evangelho de Marcos. Na semana passada, eu preguei em Marcos 12.38-40: “Guardai-vos dos escribas!”. Depois de uma série de confrontações com os líderes religiosos no templo, Jesus expõe os seus atos e motivos pecaminosos. Embora isso aparente ocorrer de modo diferente em seus seguidores mais próximos, esses mesmos motivos têm aparecido nos discípulos também! Eles desejam exatamente o mesmo tipo de honra e respeito que vemos os escribas demandando. Infelizmente, em momentos diferentes, para a maioria de nós, também o desejamos.

Isso ocorre de muitas maneiras, desde algo tão simples como a busca de elogios após uma pregação – “Foi tudo bem? Foi proveitoso?” – ou um leve exagero de “quantos estiveram lá?”, até o abandono da sua igreja para buscar outra (mais prestigiada) posição pastoral, onde possa ter “maior influência por causa do evangelho”. Junto com isso, o circo da mídia em sites como Twitter e Facebook oferece uma outra esfera global para a minha… pecaminosa obsessão sobre mim mesmo. A oportunidade de ser um “usuário” conectado ao “centro do alvo”, de compartilhar um compartilhamento de uma postagem minha no Twitter (novamente, por causa do evangelho, é claro), a possibilidade de “tornar-se viral” por um “usuário” mais famoso ter promovido o meu…

Você percebe? É exaustivo, e eu já vi homens perderem a sua lucidez para prosseguirem ou arruinarem-se em desilusão consternada e deixarem o ministério porque eles não poderiam continuar.

Há um caminho melhor. Entre no ministério pelo motivo certo.

Grandeza redefinida

Quando saí da escola, por volta da década de setenta (correção: fui expulso) aos 16 aos, segui meu caminho em um emprego como estagiário de gerência com Woolworths. Eu amei. Seis meses depois, eu tive uma avaliação completa e me disseram de modo muito claro: “Você não é o melhor do mundo nesse campo. O máximo que você vai conseguir é ser gerente de uma pequena loja em uma cidade atrasada”. Passei os cinco anos seguintes, sem sucesso, fazendo tudo o que podia para provar que eles estavam errados.

Após me tornar um cristão e (muito cedo) ter percebido que eu estava disponível para o ministério pastoral em tempo integral, trouxe comigo esse mesmo desejo de me provar no ministério. Tenho visto uma movimentação similar com os indivíduos que vêm do espectro oposto: primeiro de Oxford ou de Cambridge que têm que viver segundo as suas próprias expectativas (e de outros).

Eu sonhei em ser o novo C.H. Spurgeon e com multidões se reunindo para me ouvir pregar ou ler meus sermões. Bem, depois de muitos anos nisso, posso afirmar que certamente isso apenas se provou acontecer “nos meus sonhos!”. Lembro-me de ter ouvido cedo a famosa citação do missionário batista William Carey: “Tente grandes coisas para Deus, espere grande coisas de Deus”. Apenas algumas décadas mais tarde, quando li sobre sua vida, questionei alguns dos frutos produzidos e erros que ele cometeu sob essa bandeira.

Agora, não me interpretem mal, sou tão ambicioso quanto sempre fui. Mas, pela graça de Deus, minhas ambições foram redirecionadas em grande parte. Apenas as “grandes coisas” que estou tentando agora são muito menos centradas em tentar fazer algo que me torne conhecido ou eminente, especialmente pelos meus semelhantes, e muito mais em tentar servir fielmente o Salvador na pequena esfera em que fui colocado. Eu sou um pastor. Possuo um rebanho que tenho o privilégio de servir por mais de 20 anos. Eles me conhecem, inclusive os defeitos, e ainda me suportam.

“Tente grandes coisas?”. É uma grande coisa ser capaz de preparar e pregar sermões para as mesmas pessoas a cada semana. É uma grande coisa sentar-se com um casal passando por lutas e ajudá-los a viver o evangelho. É uma grande coisa passar uma semana dormindo no chão de um quarto de hospital, aguardando com um santo precioso, para que não fique sozinho nessas horas finais. É uma grande coisa ver alguém conhecer o Senhor depois de anos de oração. É uma grande coisa realizar a cerimônia de casamento de alguém a quem você também dedicou como um bebê. A lista é interminável. Grandeza redefinida, pessoalmente.

Agradeço a Deus por homens como Charles Spurgeon, John Piper, Tim Keller etc. Eu realmente agradeço. Seus ministérios, juntamente com muitos outros, têm sido uma ajuda indizível a mim. Mas eu não sou eles. Eu não posso fazer o que eles podem fazer, e a realidade é que a maioria dos homens no ministério, na maioria das vezes, nem sequer estão perto de fazer o que eles fizeram, e está tudo bem. Isso é melhor do que “bem”. Parece-me que a igreja tem prosperado e crescido por mais de 2.000 anos, não principalmente por causa de seus Wesleys, Edwards e Whitefields, mas devido ao serviço fiel e anônimo de homens comuns cujos nomes não sabemos ou esquecemos completamente e em quem o Salvador tem deleite e a quem confiou o seu precioso rebanho.

Eu li alguns grandes livros nos últimos anos, mas é provável que nenhum tenha me comovido tanto quanto o livro de Carson sobre seu pai, Memórias de Um Pastor Comum [Editora Fiel]. Não é um livro que incita leitura rápida, nem particularmente excitante ou repleto dos insights perspicazes habituais do Dr. Carson. De fato, eu achei o livro muito comum. E essa é a questão essencial! Ler sobre a vida de Tom Carson foi entrar em contato com a voz mansa e suave de Deus me dizendo: “isso é bom, isso é certo, esse é você”.

Eu sou muito grato por Jesus ter chamado os discípulos mesmo conhecendo todos os motivos errados em seus corações referentes à autopromoção. Sou muito grato por ele ter feito o mesmo comigo. E eu sou grato pela graça contínua que ainda está, mesmo agora, me retirando dos motivos “errados” para o ministério e me ajudando a desfrutar dos corretos. Isso nunca estará totalmente resolvido deste lado da glória, mas uma coisa eu faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam, avanço para as que diante de mim estão.

Por:Dave Harvey. © Am I Called?. Website: amicalled.com. Traduzido com permissão. Fonte: PASTORAL MINISTRY AND THE DELIGHT OF OBSCURITY

Original: O ministério pastoral e o deleite do anonimato. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Camila Rebeca Teixeira. Revisão: André Aloísio Oliveira da Silva.