Um blog do Ministério Fiel
Martin Bucer e a Reforma em Estrasburgo
Estrasburgo, a capital da Alsácia, celebrada por sua catedral gótica, sua universidade e suas bibliotecas, muito tempo antes da Reforma foi o cenário de Tauler, um místico pregador do avivamento e dos “Amigos de Deus”. Estrasburgo era uma cidade completamente alemã antes de Luís XIV tê-la incorporado à França (1681); ela foi reconquistada pela Alemanha em 1870.
A Reforma começou nesta cidade em 1523. Zell, Bucer, Capito (Köpfel), Hedio (Heil), e por alguns anos também Calvino (de 1538 a 1541), trabalharam lá com grande sucesso. Os magistrados civis aboliram a missa em 1528, e favorecem a causa protestante sob a liderança de Jacob Sturm, um patriota que representava a cidade em todas as negociações locais importantes, na Dieta e em conferências com os Romanistas, até a sua morte, em 1553. Ele solicitou a fundação de uma faculdade cristã, onde o ensino clássico e a piedade evangélica deveriam ser cultivados. Seu homônimo, Johann Sturm, um eminente pedagogo, foi chamado de Paris para presidir esta faculdade (1537), que passou a ser uma academia e, finalmente, uma universidade. Ambos eram homens moderados e concordavam com Capito e Bucer. A igreja de Estrasburgo foi muito agitada pela Guerra dos Camponeses, por Anabatistas e por tristes controvérsias sacramentais.
O principal reformador de Estrasburgo foi Martin Bucer (1491-1552). Ele era natural da Alsácia, era um monge dominicano e depois foi ordenado ao sacerdócio. Ele foi profundamente impactado por Lutero na disputa em Heidelberg (1518); obteve a dispensa papal de seus votos monásticos (1521); deixou a igreja romana; encontrou refúgio no castelo de Francis de Sickingen; casou-se com uma freira e aceitou um chamado para Estrasburgo em 1523.
Ali, ele trabalhou como ministro durante vinte e cinco anos, e participou de muitos movimentos importantes relacionados à Reforma. Ele participou do colóquio em Marburgo (1529); escreveu, com Capito, a Confissão Tetrapolitana (1530); estimulou um acordo formal e de curta duração entre Lutero e Zuínglio por meio da Concórdia de Wittenberg (1536); infelizmente, foi conivente com a bigamia de Filipe de Hesse; e assumiu uma liderança, com Filipe Melâncton, na mal-sucedida reforma do arcebispo Herrmann de Colônia (1542). Problemas políticos sérios e sua resistência ao Ínterim semi-papista tornaram a sua estadia em Estrasburgo perigosa e, finalmente, impossível. Melâncton em Wittenberg, Micônio na Basiléia e Calvino em Genebra, ofereceram-lhe asilo; mas ele aceitou, juntamente com Fagius, um chamado de Cranmer para a Inglaterra (1549). Ele o ajudou em suas reformas; foi altamente estimado pelo arcebispo e pelo rei Eduardo VI, e findou os seus labores como professor de teologia em Cambridge. Seus ossos foram exumados no reinado de Maria, a sanguinária (1556), mas sua memória foi devidamente restaurada pela rainha Elizabete (1560).
Bucer é estimado como o terceiro (ao lado de Lutero e Melâncton) entre os Reformadores da Alemanha, como teólogo e diplomático erudito, e especialmente como conciliador e pacificador entre os Luteranos e os Zuinglianos. Ele também formou um elo de ligação entre a Alemanha e a Inglaterra, e exerceu alguma influência na definição dos padrões anglicanos de doutrina e adoração. Seu lema era: “Cremos em Cristo, não na igreja” [“Wir sind Christgläubig, nicht kirchgläubig”].
Ele imprimiu as suas características na igreja de Estrasburgo, que ocupou um meio termo entre Wittenberg e Zürich, e deu abrigo a Calvino e aos refugiados Reformados da França. O luteranismo estrito triunfou por um período, mas a sua catolicidade irênica foi revivida no pietismo prático de Spener, que também era da Alsácia. Em tempos mais recentes, mestres de Estrasburgo, sob a liderança do Dr. Reuss, fizeram a intermediação entre a teologia protestante da Alemanha e da França, nas duas línguas, e apresentaram a melhor edição das obras de João Calvino.