Um blog do Ministério Fiel
Você não pode amar missões sem amar a igreja local
Diga-me se isso lhe parece familiar. O calouro Joe da faculdade se une à sua igreja. Ele está encantado por Jesus. Ele quer entregar a sua vida ao Senhor, o que significa dedicá-la aos povos não alcançados nas partes mais difíceis do mundo. Joe mal pode suportar a classe média, o Cristianismo americano e sua complacência e obsessão com o conforto. Ele ouve os sermões de David Platt em seu caminho às aulas, e mal pode esperar para sair da escola para que possa ir para as selvas da Indonésia ou do Equador e levar o evangelho àqueles que nunca o ouviram antes. A maior parte do discipulado que você pode dar ao Joe envolve ajudá-lo a pensar mais graciosamente nos santos na mesma congregação que ele – santos que nunca deixaram o país, mas amam Jesus e estão servindo fielmente ao Senhor através de suas vidas comuns e tranquilas.
E depois… Joe encontra Jane. Eles se apaixonam um pelo outro. Enquanto a graduação se aproxima, ele percebe que precisa conseguir um emprego (pelo menos para que possa comprar um anel). Jane tem uma grande dívida da faculdade, e assim ele percebe que eles precisam pagá-la antes que possam ir a qualquer lugar. Ao mesmo tempo, Joe começou a entender a importância de ter outros crentes envolvidos em sua vida, particularmente através da igreja local. Ele se tornou um membro fixo da igreja, mostrando-se constante em servir sacrificialmente os necessitados. Ele inicia o ministério evangelístico e traz outros com ele. Ele está comprometido em amar fielmente a sua nova esposa, trabalhando fielmente em seu trabalho secular e servindo fielmente à igreja. Lentamente, seu sonho de ir para o exterior desaparece sob as responsabilidades e alegrias de sua vida como ela é. Logo, ele olha para aquele jovem calouro de olhos brilhantes, cheio de zelo e julgamento, e balança a cabeça, lembrando como ele também costumava ser assim.
Eu vi essa situação acontecer repetidamente. Em um nível, não há nada de errado com as pessoas decidirem que o Senhor na verdade não as chamou para missões transculturais. Fixar-se em uma igreja local a longo prazo, trabalhar em um emprego secular, e viver uma vida tranquila não é apenas “ok”; é uma vocação honrosa que o Senhor dá a muitos.
E, ainda assim, não posso deixar de me perguntar se estamos servindo bem esses jovens zelotes se apenas os mais perseverantes persistem na busca do trabalho missionário. Para mim, essa situação está longe de ser abstrata, já que minha esposa, minha filha e eu nos mudamos para o Oriente Médio no ano passado.
Isso é importante por pelo menos duas razões. Em primeiro lugar, há uma tendência terrível de “os que ficam” e “os frequentadores” (pelo menos os jovens) questionarem os motivos do outro “lado”. Em segundo lugar, o zelo missionário e o amor pela igreja local não devem ser afeições concorrentes em nosso coração. Se uma parece vencer a outra, há um problema, já que a igreja é o corpo a quem o nosso Senhor deu o trabalho das missões.
Sugestões
Esse não é apenas um problema porque todos nós precisamos nos relacionar bem. A consequência involuntária dessa dicotomia é que as pessoas dispostas a mudar as suas vidas para o exterior por causa do evangelho são muitas vezes as menos convencidas da importância da igreja local. Quando as pessoas consideram as missões e a igreja local como dois estilos de vida cristãos completamente distintos e, portanto, mutuamente exclusivos, não apenas perdemos pessoas qualificadas que seriam grandes missionários; nós construímos igrejas que acreditam que missões é algo “daquelas pessoas” lá fora, não nosso.
Como igreja, de que forma devemos considerar e responder a essa questão? Como devemos ajudar as pessoas, especialmente os jovens, a tomarem decisões sábias sobre como entregar a vida ao serviço do Senhor? Como podemos fazer isso de modo sóbrio, sem demonizar ou elevar a decisão de ficar ou ir?
A questão, obviamente, ultrapassa os limites de um breve artigo, mas aqui estão algumas propostas iniciais:
1. A igreja local é essencial, mas a sua não é.
Quando as pessoas dizem que têm crescido em amor pela igreja local, muitas vezes querem dizer que aumentaram o seu amor por sua igreja local particular e pelas pessoas que estão nela. Claro, isso é algo maravilhoso. Eu oro para que isso seja verdade para cada vez mais cristãos. Porém, nós não estamos necessariamente ligados a uma igreja local pelo resto de nossas vidas. Se você não pode imaginar a sua vida para além de uma igreja particular, isso pode refletir um amor pelo conforto que você experimenta atualmente, em vez de um amor pela noiva de Cristo.
A igreja local é essencial para o plano do Senhor. O próprio Cristo nos prometeu que as portas do inferno não prevaleceriam contra a igreja (Mateus 16.18). Mas isso não significa que a sua igreja será essencial até que Jesus volte. À medida que ensinamos as pessoas a amarem a igreja local, precisamos ensiná-las a amarem mais o reino de Deus, de modo que, se o Senhor as chamar, elas estejam dispostas a desistir da comunhão em uma igreja para ajudar outra, seja na mesma rua ou em todo o mundo. Nossa membresia em uma igreja é significativa por causa de sua afirmação da nossa cidadania do reino. Nossa participação em uma igreja local é importante porque é uma manifestação de nossa membresia muito mais importante na assembleia celestial que está por vir.
2. Missões podem ser emocionantes, mas raramente são românticas.
Uma razão pela qual muitos jovens são tão apaixonados por missões é porque a veem como uma grande aventura. Não me interpretem mal, é emocionante ser parte do avanço do evangelho. É emocionante tanto na teoria quanto nos momentos reais ao vermos as pessoas chegarem à fé, crescendo em maturidade e estabelecendo uma igreja.
Mas há também muito de comum nas missões. Permita-me descrever a você no que o primeiro mês de vida no exterior consistiu: burocracia; solicitação de um visto; mudar para um apartamento; mobiliar o nosso apartamento, à espera de nosso visto; burocracia administrativa; encontrar o nosso caminho em torno de uma nova cidade; aprender novas regras de direção; aprender onde comprar comida; mais burocracia administrativa — ah, e eu mencionei a burocracia? Acrescente a tudo isso outros desafios básicos de viver em um novo lugar: fazer novos amigos, conhecer novas pessoas, adaptar-se a um novo trabalho e dinâmica de escritório, adaptar-se à paternidade (no nosso caso); e qualquer romantismo desaparece rapidamente.
Assim como a vida em qualquer lugar, a vida no exterior está cheia de momentos ordinários. Esperar um dia inteiro na agência de correios ou se perder em uma cidade nova não é exatamente o conteúdo de biografias missionárias. Se sua principal motivação para viver uma vida radical é a emoção, você não vai durar muito tempo em meio às dificuldades da vida real. Os membros da igreja precisam de uma visão escatológica mais forte do que você está tendo; eles precisam de uma visão constante da fidelidade cristã do dia-a-dia.
3. Missões são um sacrifício.
Assim como qualquer outra forma de vida cristã, as missões são um sacrifício (Romanos 12). Talvez em uma reação ao romantismo juvenil do estilo de vida “radical” demandado por escritores como Platt e Francis Chan, alguns parecem argumentar que os cristãos não devem aspirar realizar muito mais do que cumprir as suas responsabilidades básicas como membro da família, membro da igreja, ou empregado. Mas isso não pode estar certo. É bom e certo que os cristãos desejem ser muito usados pelo Senhor — pelo nome do Senhor, não pelo seu próprio.
Em alguns casos, mudar-se para o exterior significa ir para onde não há atualmente nenhuma igreja. Esse é um grande sacrifício para um cristão fazer, e espero que seja feito por cristãos que sentem o custo mais fortemente, e não por crentes cujo senso de dependência de uma igreja local é enfraquecido. Pense em quantas vezes o apóstolo Paulo sentiu profundamente saudades das igrejas que deixou para trás. Ele não as deixou por aventura ou diversão; ele as deixou para que houvesse mais igrejas em mais lugares para a glória de Deus.
Que muitas igrejas avaliem os seus atuais missionários com base em seus frutos imediatos comparados com o que foi dito. Seus missionários se sentem pressionados a ter histórias incríveis sobre povos vindo a Cristo cada vez que eles os visitam? Se assim for, através de relatórios e pedidos de oração distorcidos deles, você pode estar ensinando os seus futuros missionários a como avaliar o sucesso de suas vidas no exterior.
Viver em outra cultura por causa do evangelho somente às vezes é impressionante, mas sempre é custoso. No entanto, sabemos que o Senhor e seu evangelho são dignos disso.
As igrejas devem valorizar corretamente o sacrifício que honra a Deus e a função de servir ao reino tanto do missionário no exterior como da mãe que fica em casa. Ao fazer isso, elas cultivarão um ambiente saudável para cada membro atuar onde e como podem servir ao Senhor.
4. A liberdade cristã não pode ser uma cobertura para o pecado.
Há uma tendência humana para justificar as coisas boas que temos feito em detrimento de outras coisas boas. Como cristãos, não podemos fazer isso.
O casamento é uma boa dádiva, assim como a solteirice. Da mesma forma, viver em outra cultura e viver em sua cultura nativa são boas maneiras de servir ao Senhor. Precisamos de cristãos que façam as duas coisas porque nenhum cristão pode viver em todos os contextos em que são necessárias testemunhas fiéis.
Da mesma forma, os dois bons caminhos podem ser usados como uma cobertura para o pecado. Alguém pode optar por ficar na sua cultura nativa porque ama demais o seu conforto. Alguém pode escolher as missões transculturais porque está evitando o compromisso e a responsabilidade por causa da aventura. Não sejamos tão rápidos em encontrar falhas naqueles que escolheram a vida “oposta”. Em vez disso, devemos ter o cuidado de verificar primeiro as traves de nossos próprios olhos.
Conclusão
O serviço em missões globais e o serviço à igreja local não são opostos um ao outro; ou pelo menos não deveriam ser.
E, no entanto, muitas vezes ensinamos pelo exemplo, se não explicitamente, que o amor à igreja local se parece com permanecer onde você está por um longo tempo. Imagine o que aconteceria se a sua igreja começasse a enviar para o exterior aqueles membros que amam e servem melhor a igreja. Imagine o que poderia acontecer se os seus membros considerassem cada vez mais as missões como integradas às suas vidas como membros da igreja, quer fiquem, quer vão.