Um blog do Ministério Fiel
Os Reformadores e a centralidade da adoração
A redescoberta da doutrina da justificação somente pela fé por Martinho Lutero serviu como base teológica para a Reforma Protestante. Ele chegou a essa posição ortodoxa após um estudo cuidadoso da Escritura, juntamente com a convicção de que somente a Escritura é autoritativa, em última instância, e não a Igreja Católica Romana. A ortodoxia (doutrina correta) levou à ortopraxia (prática correta), incluindo a compreensão bíblica apropriada da adoração. A Reforma Protestante do século dezesseis pode ser justamente descrita como uma reforma da adoração na igreja. Os reformadores, incluindo Lutero, Ulrico Zuínglio, e depois João Calvino, insistiram que a adoração na igreja era vital para o cristão, ainda que eles estivessem perturbados por uma série de práticas na Igreja Católica Romana. Isso os motivou a olharem para a Escritura, a autoridade suprema, a fim de instruírem a igreja sobre como a adoração bíblica deveria ser praticada.
O princípio regulador do culto é um termo que muitos protestantes usam para descrever o princípio bíblico de como a igreja deve adorar a Deus. De modo simples, o princípio afirma que, na adoração corporativa, a igreja deve seguir as instruções da Escritura somente. Num certo sentido, toda a vida cristã está sujeita a um “princípio regulador”, porque devemos sempre estar vivendo de acordo com as Escrituras. Há, naturalmente, muitas áreas da vida que não são diretamente abordadas pelas Escrituras; por exemplo: que escola devo frequentar? Com quem devo me casar? Que carreira devo escolher? Nesses casos, devemos extrair boas e necessárias consequências das Escrituras para nos ajudar a tomar decisões sábias, como nos ensina a Confissão de Fé de Westminster 1.6. No entanto, o princípio regulador do culto vai além para explicar que somente o que é prescrito especificamente nas Escrituras é admitido na adoração corporativa. Em outras palavras, muitos reformadores insistiram que a adoração deve ser realizada de acordo com as instruções diretas e específicas da Escritura.
Quais são as prescrições específicas para a adoração encontradas nas Escrituras? Existem cinco elementos-chave. Primeiramente, a Bíblia deve ser lida (1 Timóteo 4.13). Em segundo lugar, e de modo muito significativo para os reformadores, a adoração deve incluir a pregação da Palavra (2 Timóteo 4.2; Romanos 10.14-15). Na Igreja Católica Romana medieval, a pregação era desprezada, enquanto a missa era elevada em prioridade na adoração. Os reformadores insistiram que a pregação é central e um meio de graça para fortalecer os crentes em sua santificação. Em terceiro lugar, orações devem ser oferecidas na adoração (Mateus 21.13; Atos 4.24-30). Em quarto lugar, os sacramentos devem ser corretamente administrados (Mateus 28.19; 1 Coríntios 11.23-26). Lembre-se: os reformadores determinaram que a Bíblia ensina apenas dois sacramentos: o batismo e a ceia do Senhor. Finalmente, o canto também é incluído como um elemento de adoração (Efésios 5.19).
O elemento de louvor no culto dá um exemplo de algumas das diferenças entre os reformadores em sua compreensão sobre a adoração bíblica. Lutero amava música e compôs uma série de hinos, incluindo o famoso “Castelo forte é nosso Deus”. Ele cria que cantar tanto os salmos bíblicos quanto novos hinos é uma parte importante da adoração. Além disso, Lutero acreditava que a era do Novo Testamento dava maior liberdade no culto em comparação com o Antigo Testamento. João Calvino, contudo, tinha uma compreensão muito mais estrita do princípio regulador quanto ao canto no culto público. Calvino argumentou que somente as palavras da Escritura deveriam ser cantadas no culto de adoração. Assim, o livro dos Salmos foi metrificado e cantado em muitas das igrejas reformadas influenciadas por Calvino. O legado da abordagem de Calvino pode ser visto também nos puritanos do século dezessete, como é encontrado no Diretório do Culto Público produzido pela Assembleia de Westminster.
Poderíamos culpar Calvino por ter sido tão rígido em sua apropriação do princípio regulador, mas devemos lembrar o contexto em que Calvino e outros reformadores estavam atuando. Os reformadores consideravam idólatras muitas práticas dentro da Igreja Católica Romana. O uso de imagens e relíquias, a prioridade da missa e as orações aos santos e a Maria eram práticas que desviavam as pessoas da adoração ao Deus verdadeiro e vivo para alguma outra pessoa ou objeto físico. Para os reformadores, essas práticas estavam em clara violação ao ensino da Escritura. Consequentemente, para restaurar a verdadeira adoração e combater a idolatria, Calvino e outros seguiram e puseram em prática, às vezes, uma compreensão mais estrita do princípio regulador.
A recuperação da adoração bíblica é um fruto direto da Reforma. De muitas maneiras, os cultos de adoração da maioria das igrejas evangélicas protestantes atuais, especialmente com a centralidade da pregação, podem ser rastreados até a Reforma. Como na Reforma, hoje continua o desacordo sobre a aplicação do princípio regulador. No entanto, o desacordo sobre essa questão deve nos motivar a retornar à Escritura, nossa autoridade final, para nos instruir sobre como devemos adorar o nosso Deus.