Afinal, é bom ou não é bom que a mulher esteja só?

Outro dia, assisti um vídeo para casais no qual o palestrante, em tom de brincadeira e ironia, disse ter encontrado um versículo bíblico que, se fosse seguido à risca, evitaria quaisquer tipos de problemas no casamento. Com uma plateia curiosa e ansiosa para descobrir a “fórmula mágica” que iria resolver suas dificuldades conjugais, ele apresentou 1 Coríntios 7.1 “(… ) é melhor que o homem não toque em mulher”.

É óbvio que a intenção do palestrante era, de maneira descontraída, demonstrar aos seus ouvintes que nos relacionamentos conjugais sempre haverá obstáculos a serem vencidos, uma vez que ambos são seres humanos e, portanto, pecadores.

Com o exemplo acima, o fato que eu gostaria de salientar é que, infelizmente, ao fazer uma leitura superficial do capítulo 7 de primeira cartas aos coríntios, algumas pessoas podem concluir precipitadamente que Paulo poderia estar refutando a declaração de Deus feita em Gênesis 2.18: “não é bom que o homem esteja só”. Mas seria mesmo isso? Estaria Paulo em desacordo com Deus? Afinal, é bom ou não é bom que o homem esteja só?

Fica evidente que precisamos olhar com mais atenção para o contexto desta carta, para que possamos responder a estas perguntas.

Antes de mais nada, devemos nos lembrar de que Corinto era uma cidade marcada pela depravação sexual e pelos cultos pagãos. Muito provavelmente, a cidade estava passando por um período economicamente difícil. O fato é que alguns homens e mulheres daquela sociedade vieram para o seio da igreja e trouxeram consigo diversos costumes e práticas imorais daquela época (1Co 5.10-13).

Paulo, através de cartas, vinha exortando aqueles cristãos a um viver separado e mais coerente com a Palavra (1Co 5.9). Em meio a essas trocas de correspondências, 1 Coríntios 7.1 sugere que o apóstolo tenha sido questionado do que seria melhor para o relacionamento entre homens e mulheres, visto que, ao que tudo indica, alguns membros da igreja acreditavam que não deviriam casar-se (1Co 7.1), outros praticavam a abstinência sexual dentro do casamento (1Co 7.3-5), havia cristãos casados intentando deixar seu cônjuge sem motivo justo (1Co 7.10,11) ou pela incredulidade destes (1Co 7.12-16).

Aqueles irmãos viviam um momento extremamente angustiante (1Co 7.26) – talvez pela perseguição do primeiro século ou pela situação econômica da cidade, e é neste contexto que o apóstolo, primeiramente, reafirma a legitimidade do casamento, recorrendo aos  ensinos do próprio Senhor (1Co 7.10) – Lembremos que, em Mateus 19, os fariseus questionaram Cristo acerca do divórcio a fim de tentá-lo. Ao final, diante da seriedade com a qual o relacionamento conjugal foi exposto por Jesus, os próprios discípulos exclamam: “Se é essa a condição do homem com relação a sua mulher, então é melhor não casar!”. Para a surpresa deles, a resposta de Jesus foi que nem todos receberam este dom. Ele prossegue admitindo que há eunucos de nascença, eunucos feitos por homens e aqueles que se fizeram eunucos por amor do Reino.

Voltando ao nosso texto, Paulo passa a instruir os casados a manterem-se nesta condição, salvo em caso de abandono.  Com esta porção da carta, podemos perceber que o apóstolo não é avesso ao casamento, antes, valoriza a instituição criada por Deus. Aliás, em 1 Timóteo 4.1-3, ele afirma que os enganadores, que ensinam doutrinas de demônios, é que se opõe ao casamento.

Por que, então, Paulo disse aos solteiros e viúvos que seu desejo é que fossem como ele, que seria bom se permanecessem no estado em que ele próprio vivia (1Co 7.8)?

Ao ler o restante do capítulo, podemos chegar a conclusão de que Paulo estava preocupado com a difícil e angustiosa situação pela qual eles passavam. E que, diante deste cenário, era melhor que aqueles que não tinham cônjuges, permanecessem sozinhos (1Co 7.26;29-32). Entretanto, ainda que a situação fosse totalmente desfavorável ao casamento, a pureza sexual não poderia ser posta em jogo, por isso, o conselho de Paulo foi para que aqueles que não conseguissem dominar seus apetites sexuais, então, que se casassem. (1Co 7.9).

Nesta enriquecedora passagem, o apóstolo evidentemente esclarece que o estado de solteiro ou de casado não é determinante para a condição espiritual do crente. Ou seja, ninguém é melhor do que ninguém devido a sua condição civil. Ele diz claramente que o casar-se não é pecado e que o permanecer virgem (solteiro e sexualmente puro) é bom. Ele nos ensina que o casamento é uma instituição dada por Deus e que deve ser conduzido em retidão. Por outro lado, também ensina que a solteirice é igualmente um dom divino, que deve ser encarada com a mesma seriedade do casamento.

Ambas situações são dons de Deus para o cristão. Ambas exigem responsabilidades por parte do crente. Ambas podem trazer felicidade, cada qual a sua maneira (1 Co 7.33; 40).

Por isso, nós cristãos devemos olhar para a situação do solteiro como um estado precioso diante de Deus. Um período de graça para o desenvolvimento e amadurecimento do cristão em determinadas áreas de sua vida. Um tempo em que o solteiro pode abençoar a igreja local, colocando-se a serviço do reino. Os solteiros são um dom de Deus à igreja, e como falta este reconhecimento em nosso meio!

Precisamos, também, reconhecer a graça de Senhor na vida a dois. Devemos glorificá-lo através do casamento, amando e respeitando o cônjuge, procurando agradar-lhe em todas as áreas, inclusive nos que diz respeito às relações sexuais.

Encaremos a realidade de que a nossa sociedade é tão perversa quanto a de Corinto; os tempos são difíceis e muitas vezes angustiosos. Lembremo-nos que verdadeiramente não é bom que o homem esteja só e que, certamente, não estamos, pois Ele prometeu estar conosco, com os casados e com os solteiros, todos os dias até a consumação dos séculos (Mt 28.20).

Regozijemo-nos e andemos portanto, na solteirice ou na vida conjugal, cada qual segundo o dom que o Senhor lhe tem distribuído, de forma digna da vocação a que fomos chamados. (1Co 7.17; Ef 4.1).

Por: Laise Oliveira. © Voltemos Ao Evangelho. Website: VoltemosAoeEangelho.com. Todos os direitos reservados. Original: Afinal, é bom ou não é bom que a mulher esteja só?