Reflexões acerca das resoluções de Jonathan Edwards

É provável que um leitor moderno das “Resoluções” de Jonathan Edwards pense: e quanto à dieta? E, a Nova Inglaterra do século XVIII não tinha academias que ele poderia resolver frequentar? Hoje, perder peso e fazer mais exercício são quase a totalidade das nossas resoluções. Reunimos nossa força de vontade, autoexame e autodisciplina na tentativa de parecermos melhores. Edwards estava envolvido em uma tentativa de ser melhor.

Porém, o esforço de auto-aperfeiçoamento de Edwards — tão extenuante de modo a engajar “todo poder, força, vigor e veemência, até violência, dos quais eu sou capaz” — é o de um homem completamente instruído pela Palavra de Deus e pelo evangelho da salvação pela graça por meio da fé em Jesus Cristo. Edwards exercitava a sua vontade, sabendo que sua vontade estava em cativeiro. Ele resolveu ser justo, sabendo que a sua justiça não obtinha a sua salvação. Ele se examinava, sabendo que a sua segurança espiritual estava fora de si mesmo — no fato objetivo da expiação de Cristo pelos seus pecados.

Muitos dos hábitos puritanos e hábitos da mente — a sua ética de trabalho, sua autodisciplina e sua seriedade moral — persistiram muito tempo depois do eclipse de sua teologia, sendo retomados pelos secularistas do Iluminismo, pelos liberais do evangelho social e pelos materialistas vitorianos. Pouco depois do tempo de Edwards, Benjamin Franklin iniciou um programa semelhante de resoluções e autoexame. Franklin apresentou treze resoluções — em oposição às setenta de Edwards — que foram edificadas em torno de virtudes racionais, tais como frugalidade, moderação e castidade.

Enquanto as resoluções de Edwards estavam centradas na glória de Deus, nas Escrituras, no céu e no inferno, e em Jesus Cristo, as de Franklin eram seculares, pragmáticas e mundanas, focadas em se tornar um bom cidadão e um empresário de sucesso. Embora Franklin mencione a oração, Cristo é reduzido a um bom exemplo a ser seguido, citado de modo similar a Sócrates.

Franklin mantinha um gráfico no qual ele fazia marcas de verificação indicando o seu progresso. Quando ele descobriu que tinha problemas para mantê-las todas de uma vez, ele tentou se concentrar em uma virtude de cada vez. Quando ele descobriu que ainda não estava fazendo todos os progressos, finalmente desistiu de todo o plano.

Prestar tal atenção a si mesmo, quando separado de um autoexame bíblico destinado a promover o arrependimento, pode gerar outro tipo de fruto: o Romantismo.

As aulas de literatura americana estudam hoje Jonathan Edwards não por sua teologia e nem mesmo por seu sermão “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado”, com suas ilustrações atemorizantes, mas como um precursor dos transcendentalistas.

Edwards percebeu o significado espiritual na natureza, que, como criação de Deus, ele via como uma expressão da personalidade divina. Os historiadores literários — perdendo o ponto da cosmovisão distintamente cristã de Edwards — interpretam isso como um passo para a deificação da natureza pelos transcendentalistas.

Edwards também examinava a sua vida interior, como ele fez em suas “Resoluções”, e cuidava de suas emoções internas, que ele associava com seu estado espiritual, como fez em sua “Narrativa Pessoal”. Isso é considerado como um passo rumo à deificação do eu dos transcendentalistas.

Na realidade, Edwards era muito diferente do seu companheiro da Nova Inglaterra Ralph Waldo Emerson, o místico unitariano compondo rapsódias sobre a natureza. Nem era muito parecido com Walt Whitman, o grande poeta americano que escreveu um poema épico intitulado “Canção sobre mim mesmo”. Ao contrário, Edwards exemplifica a sensibilidade cristã integrada na qual o espírito, o intelecto e as emoções têm o seu lugar. Mais tarde, nas palavras de T.S. Eliot, esses poderes humanos se tornariam “dissociados” nos movimentos conflitantes do Iluminismo, do Romantismo e do Modernismo.

Edwards certamente não é culpado pela obsessão com o eu que caracteriza a cultura americana e até mesmo muitas tensões do cristianismo americano. Nossas listas de campeões de venda atestam nossos valores de auto-ajuda, autossuficiência e auto-aperfeiçoamento. Muitos de nossos púlpitos ressoam com os slogans “seja verdadeiro consigo mesmo”, “confie em si mesmo” e até “tenha fé em si mesmo”. Se Edwards ouvisse tais coisas, certamente pregaria um sermão que faria “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado” parecer um devocional para a escola bíblica de férias.

Porém, mesmo cristãos conservadores com frequência podem cair na armadilha de prestar muita atenção a si mesmos. “Eu realmente sou salvo?”, podemos meditar às vezes, olhando para nossas vidas internas e pecados ocultos e encontrando pouca evidência de nossa santidade.

Precisamos admitir que as nossas próprias resoluções para melhorar as nossas vidas, por mais bem-intencionadas e sinceramente feitas que sejam, muitas vezes têm pouco efeito. Não podemos sequer manter as nossas resoluções para perder peso ou nos exercitar na academia, muito menos eliminar os nossos pecados de luxúria e crueldade.

Certamente Edwards concordaria com Martinho Lutero, que, em seu aconselhamento espiritual, exortaria as almas atormentadas a pararem de olhar para si mesmas. Em vez disso, elas deveriam olhar para fora de si mesmas, para Cristo na cruz.

A salvação, ambos insistiriam, é extra nos (fora de nós), fundamentada na graça inabalável de Deus e na obra objetiva de Cristo. Quando olhamos para dentro de nós, vemos nosso pecado e nossa fraqueza, conduzindo-nos apenas ao desespero. Mas quando olhamos para fora, para as promessas da Palavra de Deus, podemos encontrar alegria, confiança e segurança.

Por: Gene Edward Veith. © Ligonier Ministries.Website: ligonier.org. Traduzido com permissão. Fonte: The Resolution Solution.

Original: Reflexões acerca das resoluções de Jonathan Edwards. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Camila Rebeca Teixeira. Revisão: André Aloísio Oliveira da Silva.