Um blog do Ministério Fiel
Acabou a oração, mas ainda tem chá
Ela estava sentada no último banco da igreja, bem perto da porta de saída. Suas roupas não pareciam estar bem passadas, na verdade pareciam estar bem usadas, rotas, quase esfarrapadas. Os seus ossos pontiagudos estavam evidentes sob suas vestes. O seu olhar estava voltado para o chão, olhos opacos, fixos.
Enquanto as músicas eram entoadas, ela foi capaz de esboçar algo próximo do que seria um sorriso. Mas não cantou, não louvou.
Era claro que havia uma distância entre sua mente e o resto de seu corpo sentado no banco da igreja. Mas afinal, por onde seus pensamentos divagavam?
No final do culto ela se levantou, solitária, mal notaram que ela estava indo embora. Ela se esgueirou entre as pessoas que falavam alto, riam e se cumprimentavam. Desapercebidamente ela saiu do salão de culto, com passos estreitos, um tanto incertos, inexatos. Partiu.
Depois desse dia, a igreja ficou um pouco estranha. As conversas eram leves, voavam acima das cabeças, dançavam nas nuvens. Havia um ar de felicidade. Os homens acreditavam em sua própria força e poder. As mulheres sonhavam com uma vida independente e realmente acreditavam que tinham uma vida livre. Mas, na verdade, eram todos escravos de sua própria vontade.
A alegria era fugaz, passageira, e aquelas pessoas foram se tornando ligeiramente artificiais. Seus relacionamentos passaram a ser rasos, afinal, não podiam demonstrar que algo não ia bem, não era isso o esperado de quem aprendia na assembleia.
O tempo foi passando e ninguém sentiu falta daquela dama que havia saído da igreja sem ser notada. Um tempo depois de sua partida, a igreja ficou quase sem vida.
Em uma manhã chuvosa e úmida quando Maria Clara dos Anjos, entristecida e apática, com a alma embolorada, entrou na igreja e se lembrou daquela dama. Deu-se conta de que há muito tempo não a via na igreja, nem tinha mais ouvido falar dela nos cultos, nem nas rodas de conversas com os conhecidos, nem tão pouco frequentava a mesa com sua família. Por onde andaria aquela dama? Será que ela havia emagrecido tanto que se tornou incapaz de andar até a igreja?
Maria Clara dos Anjos, sentou-se, encurvando seu pescoço, lentamente abaixou sua cabeça, fechou seus olhos e se aquietou. Percebeu então a presença daquela dama, Dona Oração, e com ela elevou seus pensamentos a Deus. Dona Oração fez o coração de Maria se aquecer, moveu as águas, e as mágoas foram se escoando para fora de Maria Clara. Quanto mais Maria Clara estava junto à Dona Oração, mais sua mente clareava, mais discernimento lhe era atribuído. Maria Clara genuinamente se alegrou em Deus, seu Salvador.
Dona Oração começou a engordar conforme Maria Clara andava com ela.
Aquela menina-moça, Maria Clara, falou para sua amiga-irmã o que tinha acontecido em sua vida depois de reencontrar Dona Oração, e sua amiga quis conhecê-la. Juntas iniciaram uma jornada de um misterioso tempo de jardinagem da alma. Iniciaram arrancando as ervas daninhas das mágoas que sufocaram o perdão até extingui-lo. Aravam, com o auxílio de Dona Oração, a terra de seu coração. Plantaram a semente incorruptível da Palavra de Deus e, depois, veio o tempo de colheita, trazendo frutos, deliciosos frutos.
Dona Oração não se sentava mais no último banco da igreja despercebida por todos, ao contrário, agora toda a congregação ouvia falar dela, todos queriam desfrutar de um tempo com ela, porque experimentaram de seus suculentos frutos: uma cesta colorida e cheirosa com frutos de justiça, paz, longanimidade, serviço, adoração, perdão. Eram todos bons os frutos que Dona oração jardinou.
Ela voltou a participar das mesas nas casas das famílias. Dona Oração fazia transbordar louvores nas canções cantadas pela congregação. Ela mudou suas roupas surradas em novas vestes, engordou e participava ativamente da vida da igreja, de manhã, à tarde e durante a noite, onde houvesse um membro da igreja, ela estava com ele. Onde houvesse um trabalho, lá estava ela laborando. Dona Oração era incansável, exalando o bom perfume de seus frutos.
Mas Dona Oração surpreendeu mesmo quando ensinou a comunidade a lutar – Eu vou à sua frente! – ela dizia. E com Dona Oração, abriam-se caminhos, encontravam-se reforços e com ela vinha todo o exército celeste com trombetas, estandarte e, inclusive, o General.
Dona Oração transformara a vida da igreja.