O grande Deus maravilhoso

O fato de os homens imaginarem que já explicaram tudo a respeito de Deus é uma evidência segura de que não O compreendem. Na realidade, é correto e adequado ter e amar nossas “confissões de fé” e “catecismos”. Tanto é bom quanto útil tentar explicar e definir a doutrina concernente a Deus, para nosso próprio benefício e o de outros. Mas o cristão sábio recorda que nenhuma fórmula ou definição a respeito dEle pode, de maneira abrangente, afirmar tudo que devemos saber sobre Deus. As confissões de fé e os catecismos são bons em suas definições concernentes a Ele; no entanto, não têm o objetivo de serem exaustivos, pois são incapazes de compreender o Infinito. Se pudéssemos criar expressões linguísticas para definir de maneira abrangente o Ser divino, precisaríamos ser infinitos assim como Ele.

Pensar sobre Deus é a ocupação mais admirável para qualquer criatura. Sem dúvida, os exploradores que pioneiramente investigam uma terra desabitada sentem medo e admiração por causa de seu privilégio. Os cientistas que pesquisam em seus microscópios e descobrem organismos ainda desconhecidos ou os astrônomos que contemplam uma extensa galáxia sentem-se extasiados diante daquilo que é raro ou desconhecido para os homens. Mas, o que são os continentes perdidos, ou as estrelas, ou os microorganismos com- parados ao bendito Deus vivo?

A mente é o instrumento pelo qual os homens “olham” para Deus; é um precioso “telescópio” através do qual cada pessoa foi capacitada pelo Criador a sondar todas as coisas criadas e “olhar” para Ele. Nutrir pensamentos corretos sobre o Ser divino é a síntese de todas as bênçãos. Quer chamemos isto de teologia, meditação, devoção ou piedade, a prática de fixar nossos pensamentos em Deus, até que nossos corações estejam “profundamente aquecidos”, é a melhor das bênçãos que podemos desfrutar deste lado da eternidade.

A mente assemelha-se a um aparelho de televisão pelo qual o homem pode criar imagens que ninguém pode ver, exceto ele mesmo e Deus. Os pensamentos surgem em nossas mentes aos milhares, a cada hora de nossa existência. Uma pessoa pode treinar seus pensamentos, escolher alguns e rejeitar outros. Entretanto, um pensamento é comum a todos os homens — a compreensão de que Deus existe. Aquele que afirma: “Não há Deus”, dá motivo para ser chamado de “insensato” (Sl 14.1), visto que está dizendo uma mentira e sabe que sua afirmação não é verdadeira.

Nenhum homem realmente crê que Deus não existe. A sua mente o informa a respeito da existência dEle. Talvez seu coração esteja endurecido, sua cultura seja primitiva e não possua conhecimento algum da Bíblia; todavia, sua inteligência, uma dádiva divina, lhe declara que vive na presença de um grande Ser invisível. A infelicidade do homem ímpio está no fato de que ele não pode fugir de Deus. E o indizível consolo do crente está na impossibilidade dele ser removido da presença de Deus.

Visto que todos os homens intuitivamente sabem que Deus existe, é apenas motivado por um ato de perversa força de vontade que o ímpio decide rejeitar Deus mesmo por um momento. Essa atitude é chamada de deter “a verdade pela injustiça” (Rm 1.18). O instinto do pecador informa-o

sobre a existência de Deus e o fato de que Ele vê todas as coisas. No entanto, o pecador não gosta de saber que Deus existe e não deseja que Ele o esteja vendo. Portanto, o pecador tem de inventar meios pelos quais expulsa Deus de seus pensamentos. O mundo é um autêntico celeiro de mentiras inventadas pelos homens, durante sucessivas gerações, com o propósito de rejeitar Deus em suas mentes. Isso tem sido feito através da música, do álcool, diversões e milhares de outras coisas. A perversidade do pecado pode ser vista em inúmeros modos, nos quais o pecador utiliza a criação de Deus para excluí-Lo de seus pensa- mentos.

O fato de que todos os pecadores sabem instintivamente que Deus existe explica porque o mundo está da maneira como o vemos agora. Admitida a verdade bíblica de que o pecador deseja ocultar-se e fugir de Deus, temos de esperar que este mundo seja um labirinto de túneis escuros para os homens escaparem dEle, o grande “Inimigo”, conforme os pecadores erroneamente O consideram.

O longo e árduo trabalho do pecador consiste em cavar até às profundezas de algum lugar, para ficar distante do Criador que ele não ama e não deseja ter em sua vida. Sua própria mente lhe diz que não pode fazer isso. Mas ele continua tentando escapar, apesar da inutilidade de sua atitude. A vida de um pecador é basicamente algo irracional. Não é melhor do que a de um rato na enfadonha tarefa de girar constantemente um moinho. O rato talvez corra com rapidez e a roda do moinho gire velozmente, mas ele está sempre no mesmo lugar.

O homem não pode escapar de Deus, assim como é incapaz de fugir de sua própria sombra. Esquivar-se da presença de Deus é impossível. Toda a vida do pecador caracteriza-se por uma mentira atrás da outra.

A única maneira de fugirmos da ira de Deus é correr para nos refugiarmos em sua misericórdia. A solução racional, bem como espiritual, para o problema do pecador se encontra em buscar a Deus, a fim de encontrar nEle amizade e amor. Isto, por meio da indizível graça de Deus, é o que todo crente aprendeu em sua conversão. Uma grande parte da paz que desfrutamos, a partir do momento que nos convertemos a Deus, está no fato de que agora não precisamos mais percorrer os labirintos do pecado para tentarmos evitar a presença de Deus. Converter-se a Deus é a única solução para cada um dos problemas do pecador. Outros problemas permanecem, mas são menos importantes e de pouca duração.

Causa-nos grande tristeza o fato de que os crentes não utilizam suas mentes a fim de pensar mais na bendita pessoa de Deus. Se o fizessem, descobririam ser esta uma experiência estimulante e enriquecedora. Renovariam suas mentes, obteriam refrigério para suas almas e enobreceriam suas vidas. Se meditássemos em Deus por meia hora, cada dia, seríamos homens melhores. Deus é o supremo e o primordial objeto de nossos pensamentos; pensar corretamente a respeito dEle significa ser transformado na própria imagem de Cristo, se O temos como nosso Salvador.

Cada ponderação sobre Deus finaliza em mistério e produz admiração em nossas mentes. Instintivamente, ficamos maravilhados em pensar que Deus não tem origem, não foi criado, não depende de nada, porém é eterno e auto-suficiente. Admiramo-nos ao pensar que Ele está ao redor de todos nós, mas, apesar disso, não podemos vê-Lo; e que está infinitamente acima de nós, todavia, infinitamente presente entre nós. É admirável pensar que todas as criaturas são obras de suas mãos e que todos os seres vivos existem e se movem nEle (At 17.28). É emocionante pensar que todos os acontecimentos realizam-se por causa do secreto conselho e vontade de Deus; que toda a história do mundo com certeza chegará ao ponto exato que Deus ordenou desde a eternidade; e que todos os poderes malignos, por meio de sua rebeldia extrema, apenas cumprem o papel para o qual foram designados. Em resumo, causa-nos êxtase a compreensão de que temos um Deus que “dele, e por meio dele, e para ele são todas as cousas”; e a Ele pertence “a glória eternamente” (Rm 11.36).

Alguma pessoa já ouviu o ensino sobre a Trindade santa e não ficou admirada? Podemos entender que Deus é “um só”. Mas este Deus único também é “três”. Nossos pobres raciocínios não compreendem totalmente que estamos na presença de um Ser que pertence a outra ordem de coisas amplamente superior. Pela fé, recebemos a admirável revelação de um Deus que é três pessoas, mas apenas um em essência. Cremos e adoramos. Entretanto, ficamos extasiados ante a magnitude desse mistério. Nossa reação é, juntamente com os anjos e os patriarcas da antigüidade, nos prostrarmos e cobrirmos o rosto.

Quão profundos são os caminhos e pensamentos de Deus! Nossa familiaridade com os fatos da Bíblia não deve obscurecer nosso senso de admiração. O fato é que somos espectadores neste grande universo. Contemplamos a grandeza e percebemos algo da sabedoria de Deus em todas as coisas.

Todavia, não somos capazes de saber por que Deus tem agido à sua maneira em todas as coisas; ou melhor, apenas sabemos que tudo é bom e, por fim, glorificará a Deus. As demais coisas entende- mos com dificuldade: por que uma criação realizada em seis dias? Por que Deus escolheu os judeus? Por que a demora para que Cristo volte? Por que a demora até que os judeus sejam novamente incluídos na igreja? Por que o pecado parece estar prevalecendo tanto e Satanás exercer tamanho poder? Em todas essas indagações, podemos apenas dizer: “Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado” (Mt 11.26).

As Sagradas Escrituras afirmam com certeza: “A glória de Deus é encobrir as cousas” (Pv 25.2). Poderá algum homem sobreviver, se olhar apenas para as futuras dificuldades de sua vida? Não somos capazes nem precisamos sofrer nossas misérias até que elas venham sobre nós. Deus nos conduz como pessoas cujos olhos podem enxergar apenas o que está à sua frente, para que não nos desencorajemos diante de coisas que, com antecedência, pudéssemos ver. Somente Cristo, dentre todos os homens, experimentou e soube a plena extensão dos sofrimentos que estavam por vir. Ele contemplava, sem dúvida, desde a sua infância, e recebia um ensaio do Getsêmani e do Calvário sem- pre que lia o Antigo Testamento. Entretanto, Ele, sendo o Deus- Homem, podia suportá-lo. Nós não somos capazes!

Quão sábio e verdadeiro é o nosso Deus! Mas, quem crê nEle? As Escrituras, nós afirmamos, são a revelação dEle. Quem as leva a sério? Os judeus, que as liam com tanta assiduidade, entenderam que sua nação rejeitaria seu próprio Messias? Judas Iscariotes viu a si mesmo naquelas partes das Escrituras que, com antecedência, falavam sobre seu crime (Sl 41.9; 55.12-14; 109.5-6; Zc 11.13), as quais lemos, e mesmo cantamos, inúmeras vezes? Os discípulos de Cristo acreditavam na cruz ou na ressurreição antes que estas acontecessem? As igrejas apóstatas contemporâneas vêem a si mesmas como aquelas que, de acordo com os escritos apostólicos, um dia se afastarão da verdade? Os papas têm encontrado a si mesmos nas Escrituras? Os homens estão cegos para a luz da Palavra de Deus, porque estão convictos de entenderem o que Deus significa, enquanto, na verdade, não compreendem nada a respeito dEle.

Começamos a entender Deus apenas quando prostramos nossas mentes orgulhosas ante a majestade de sua Palavra e suplicamos por sua graça e luz. A correta atitude mental é tratarmos Deus e tudo que Lhe pertence com o amor, a reverência e o temor apropriados. A sabedoria deste mundo é loucura diante dEle; começamos a ser sábios apenas quando pensamos nEle como o “único Deus sábio”. Não precisamos ser espertos para ser sábios, e sim possuir um co- ração humilde e um espírito contrito.

Deus reserva suas melhores bênçãos para aqueles que verdadeiramente O amam. Para estes Ele concede não somente bênçãos, mas também a Si mesmo. Ele deu descanso a todos os seus eleitos, e estes têm experimentado um perfeito gozo em Cristo. Deus ainda possui muitas maravilhas e grandes obras para realizar neste mundo. Algumas delas não veremos enquanto estivermos vivos. Mas já contemplamos pela fé as coisas que acontecerão, quando Ele virar a última página da história: o fim de todo o mal para o povo de Deus e o início do seu regozijo eterno.

Nosso dever no presente torna-se bastante claro. Precisamos viver e trabalhar pela fé. O Grande Deus Maravilhoso pretende fazer tudo que a Bíblia afirma que Ele fará. Nossa parte é muito simples. Temos de procurar amá-Lo com todo o nosso coração e nos regozijarmos em toda a sua grande bondade.

Que admirável encontro será aquele em que Deus e seu povo finalmente estarão face a face, e Ele os recompensará de acordo com as riquezas de sua graça e glória!

Por: Maurice Roberts. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Original: O grande Deus maravilhoso.