Cura do trauma do aborto

Já se passaram 16 anos desde o meu aborto. Agora eu sou casada, tenho três filhos, e tenho andado com Jesus por aproximadamente oito anos. Mas, em alguns dias, sinto que estou “brincando de casinha”. Em alguns dias, eu tenho 16 anos e estou deitada em uma sala esterilizada, olhando para uma tela de ultra-som, desejando ter desviado o olhar daquela imagem gravada para sempre em minha memória. Estou correndo para casa enquanto o sangue escorre em minhas pernas. Estou ficando em casa em vez de ir para a escola, fingindo estar doente. Estou escondida, esperando que ninguém descubra.

Em alguns dias, me questiono se ainda estou me escondendo.

Hoje, no aniversário de 45 anos da decisão Roe vs. Wade[i], parece que estou tentando me afundar em minha cadeira. A vergonha e o julgamento são palpáveis, mesmo que sejam imaginados.

Não entendi imediatamente por que esse aniversário me faz ter medo. Meu aborto já não é um segredo. Compartilhei minha história, esperando ser um exemplo da abundante misericórdia de Deus para o principal dos pecadores (1Tm 1.15-17). No entanto, mesmo quando experimentei medidas crescentes de cura, há dias, como hoje, quando a dor está tão recente como sempre. Parece uma ferida aberta e as manchetes como um saleiro implacável.

Uma em cada quatro mulheres terá um aborto até os 45 anos. Mulheres como eu estão escondidas em nossas igrejas — em sua igreja — lidando com ciclos de vergonha e arrependimento apesar do que sabemos ser verdade sobre o pecado, o perdão e a graça.

Aqui estão três coisas que aprendi em meio a minha luta pela cura. Espero que ofereçam uma perspectiva útil para aqueles que tentam ministrar as mulheres após um aborto. E espero que encorajem aquelas que sofrem silenciosamente. Você não está sozinha.

1. O aborto é tanto um pecado quanto um trauma

O aborto é pecado. Como qualquer outro pecado, é uma ofensa grave contra um Deus santo. Nossa única esperança é nos arrependermos e crermos no evangelho. E quando o fizermos, devemos permanecer firmes sob a garantia do perdão, mesmo em face de nossas dúvidas e acusações de Satanás (1 João 1.9, Romanos 8.1).

Porém, o aborto também é um trauma que devasta o corpo e a alma. O aborto aponta uma faca para a nossa natureza como portadores da imagem [de Deus], como doadoras da vida — e ninguém se afasta de uma luta de faca sem ficar pelo menos um pouco mutilado. O aborto requer não apenas o arrependimento, mas também a cura.

Tenho sentido medo de admitir a vergonha que muitas vezes ainda me assombra. Medo de considerar as implicações de longo alcance deste pecado. Então, quando algo tem desencadeado a dor, comprimo a dúvida, selando-a com chavões. Eu aplico a verdade da justificação de modo superficial, como um band-aid. Tenho esperado que isso poderia parar o sangramento, mas na verdade apenas cobre a infecção que estava apodrecendo abaixo.

O perdão para o meu aborto veio rapidamente, mas a cura não, e a vergonha oculta tem se manifestado de maneiras que não consigo entender. A dor não confessada traz frutos ruins em muitas formas: raiva, depressão, ansiedade, esforço contínuo.

Essas questões não são apenas o fruto do meu aborto. A realidade da minha história e de muitas outras é que o aborto é apenas uma peça pequena em um quebra-cabeça grande e desmontado. A destruição do pecado — e a bagunça em seu rastro — é vasta.

Mas não precisamos ter vergonha de nossa necessidade de cura. O Senhor Jesus nos acolhe, perguntando gentilmente: “Queres ser curado?” (João 5.6). Talvez tenhamos que responder: “Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé!” (Mc. 9.24).

2. A cura é um processo

Ir a uma conselheira cristã anos após o aborto foi difícil e humilhante. Mas com sua ajuda, aprendi a reconhecer meu passado junto à verdade. Agora, em vez de fugir da minha dor, eu a trago a Jesus em oração, confio que a sua verdade consolará o meu coração (2 Coríntios 1.3-4) e renovará a minha mente (Romanos 12.2). Por meio de sua Palavra e do seu Espírito, Jesus me dá graça e coragem para enfrentar o que temo. E com a ajuda dele, encontro espaço para lamentar por meu aborto e pelos efeitos do pecado com honestidade.

Eu me entristeço por como minha desolação adentrou em meu casamento, em minha maternidade e em meus relacionamentos com os outros. Quando não tenho medo de lidar com o passado pela graça de Deus, sou capaz de confessar e me arrepender do pecado que vem à tona. Não se trata de confessar meu aborto uma e outra vez para pagar algum tipo de penitência, mas sim desfazer aquilo que me desestabiliza: minha esperança deslocada, minha arrogância, meu temor do homem.

Como ele prometeu, Deus envia a sua Palavra para curar (Salmo 107.20) e ilumina aqueles lugares que escondi na escuridão (Hebreus 4.12; 1 João 1). A sua palavra me convence e assegura, acolhe e consola. Quando aplicada cuidadosamente aos meus pensamentos, sentimentos e ações passados ​​e presentes, a verdade de que Jesus me tornou irrepreensível diante de Deus não é um chavão, mas a minha mais profunda fonte de esperança.

Este processo não eliminou a dor que minhas memórias mantêm, mas percebi que elas parecem menos assustadoras. Estou crescendo em paciência no processo — sendo mais lenta para me condenar, e mais rápida para trazer minhas lembranças até Jesus. Percebi que quando permito que elas me conduzam à sua misericórdia, elas podem ser uma ocasião para eu me maravilhar com a graça, não para me afundar em minha cadeira ou gritar com meus filhos.

3. A graça de Deus é suficiente

O sangue de Cristo é suficiente para pagar plenamente pelo pecado  — mesmo pelo pecado do aborto. Sua graça é suficiente para trazer cura (Isaias 53.5), ainda que esse processo demore a vida toda (Filipenses. 1.6).

Mas a graça toda-suficiente de Deus também é tangível. Ao compartilhar minhas lutas com meu marido e membros confiáveis ​​da comunidade da minha igreja, a compaixão, bondade e lembretes da verdade deles favorecem a obra de cura de Cristo em meu coração. Quando eu ouço o evangelho pregado e recebo a Ceia do Senhor, sou mais assegurada do seu perdão, e através destes meios semanais de graça Deus continua a me curar.

Reconhecer o trauma do aborto e abraçar o processo de cura não significa que devemos gastar nossas vidas como mulheres feridas. Mas também não temos que fingir que as cicatrizes não existem. Em vez disso, podemos viver com uma consciência mais honesta de nossa dor e, enquanto o fazemos, viver mais dependentes da graça. Quanto mais Deus revela nossa pecaminosidade, mais gloriosa é a cruz de Cristo. Ali somos lembradas de que Deus é um Pai compassivo (Salmo 103.13), que ele está perto dos contritos de coração (Salmo 34:18), e que, por meio das feridas de Cristo, somos curadas (Isais 53.5).

Observações da revisora: [1] Roe vs. Wade Decision: é o caso judicial pelo qual a Suprema Corte dos Esados Unidos reconheceu o direito ao aborto ou interrupção voluntária da gravidez, nos Estados Unidos.

Vencendo Medos e Ansiedades

Você está cansada de lutar contra o medo e a ansiedade? Você não está sozinha. Essas emoções são surpreendentemente comuns a muitas mulheres, as quais lutam diariamente em diversas áreas da vida: casamento, filhos, trabalho, vida espiritual e problemas graves de saúde.

Deus sabia que o medo e a ansiedade seriam problemas reais para nós, e ele nos deu uma abundância de ajudas claras e práticas na Bíblia. Neste livro, a autora Elyse Fitzpatrick irá ajudá-la a:

  • Identificar a fonte real dos seus medos;
  • Procurar estratégias específicas para você superar a ansiedade;
  • Aprender a substituir sua preocupação por alegria;
  • Descansar segura no cuidado protetor de Deus.

Encontre conforto e encorajamento ao aprender com exemplos de outras mulheres como você – mulheres que descobriram que é realmente possível viver confiando em Deus em todas as circunstâncias da vida.

CONFIRA

Por: Kendra Dahl. © The Gospel Coalition. Website: thegospelcoalition.org. Traduzido com permissão. Fonte: Healing from the Trauma of Abortion.

Original: Cura do trauma do aborto. © Voltemos Ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Tradução: Camila Rebeca Teixeira. Revisão: Renata Machado Gandolfo.