Saudade de casa é só para crianças em acampamentos?

Está gravado na minha memória o dia em que a bomba no poço do meu porão quebrou e eu liguei freneticamente para o senhor Peterscheim. A empresa dele perfurou o poço na propriedade onde construímos nossa casa. A bomba durou trinta e três anos. O que isso tem a ver com aconselhamento ou pastorear uma igreja? Acompanhe comigo uma breve explicação. O senhor Peterscheim orientou-me a pegar uma mangueira de jardim comprida, conectá-la à bomba do tanque, ir com ela pela janela do porão e depois levá-la por mais quinze metros no quintal. Eu deveria então apertar o botão e deixar a água escorrer por várias horas. Respirei fundo e respondi: “Meu senhor, eu não posso fazer isso.” Depois de viver sozinha em minha casa por doze anos após a morte do meu marido, esse foi o momento decisivo em que resolvi me mudar. Senhor Peterscheim, o senhor levou-me ao meu limite. Estou feliz que o fez, mas foi uma aterrissagem forçada. Muitos outros fatores influenciaram minha decisão de mudar de casa, mas naquele dia eu reativei com gosto a procura por uma futura moradia.

Redução não é nada comparada com adaptar-se

Agora estou vivendo em uma bonita casa de repouso [1]. Esperei três anos por uma vaga disponível. Agora, porém, estou em uma luta. Sinto-me como uma pessoa ingrata e meio louca que não parece se adaptar à vida aqui. Eu fiz o meu dever de casa e reuni informações sobre residência para idosos. Meu filho tem trabalhado na indústria de residência para idosos por trinta anos. Ele foi uma grande ajuda, mas nunca foi um residente. Nunca tive dificuldades para fazer amigos (até agora). Eu vim com um senso de aventura, mas muitas vezes me encontro escondida sozinha no meu chalé. Até bem recentemente tive uma experiência terrível de saudade que poderia competir com qualquer criança de acampamento.

Procurei alguém que pudesse dar-me uma perspectiva sobre adaptação à minha nova situação. Uma pessoa da equipe disse que a maioria dos residentes se adapta à comunidade dentro de quatro a seis meses. Estou chegando aos seis meses e ainda me sinto deslocada. No entanto, comecei a ouvir outros residentes, não somente aqui, mas em outras comunidades. Enquanto fazia perguntas, comecei a ouvir estimativas diferentes quanto ao tempo de adaptação (um ano, quatro anos, muitos anos). Recentemente meu filho mandou para mim uma reportagem de uma revista local abordando a dificuldade significativa para se adaptar a uma casa de repouso. Isso mudou a perspectiva ao tornar minha luta normal. Minha experiência não é única, pelo contrário ela é comum.

Constrangida demais para pedir ajuda?

Você está consciente desse problema? Há idosos na sua congregação ou pessoas a quem você aconselha que tenham se aproximado de você procurando ajuda sobre isso? Ao que parece idosas sentem-se constrangidas e não falam sobre o assunto. Porém essa é uma questão séria e crescente enquanto a população envelhece e o grupo demográfico da geração nascida nos anos 50-60 descobre quão difícil é permanecer nos seus próprios lares. Você está pronta, como conselheira, para ajudar adultos mais velhos a fazer essa enorme mudança? “Não te distancies de mim, porque a tribulação está próxima, e não há quem me acuda” (Salmos 22.11). Não deixe aquela pessoa mais velha sofrer sozinha. Encarne o amor de Cristo ao gentilmente levantar o tema e estar disposta a ouvir e oferecer ajuda.

Em toda material promocional encorajando a vida em uma casa de repouso, você nunca verá a foto de uma pessoa idosa chorando com um rosto sério de quem está com saudade. Bem, claro que não, isso dificultaria as vendas. No entanto, o assunto não é mencionado durante as orientações dadas ao novo residente. Os coordenadores de mudança alguma vez levantam a questão? Esse silêncio não é proveitoso para os residentes recém-chegados. Eu li meia dúzia de livros sobre ministério com idosos, mas eles nunca lembram de discutir o problema da saudade entre as recém-chegadas a um novo lar. Inicialmente pensei que minha dificuldade de adaptação era mais difícil porque eu estava fazendo aquilo sozinha. Porém, falei com pessoas casadas que têm lutas semelhantes. Solidão não é só a ausência de pessoas que amamos, mas também o desaparecimento do que é familiar. Até que o novo lar se torne familiar, não importa quanto tempo demore, a saudade pode ser uma aflição muito desafiadora.

A literatura de assistência geriátrica ajuda um pouco. Pelo menos ela reconhece a solidão como um problema sério e generalizado entre os idosos. Acredite se quiser, a solidão é assassina. Meu problema será agravado por preocupações com iminentes crises de saúde devido à incapacidade de adaptação e a depressão que vem junto? Falando em situação de impasse: eu me mudei porque estou muito velha para cuidar da minha amada casa e agora estou lutando para me adaptar à nova. Se não me adaptar logo, estarei morta e não terei mesmo que me ajustar. Beco sem saída! “O coração alegre é bom remédio” (Provérbios 17.22), então estou tentando ver as coisas com bom humor sempre que posso.

Não suponha nada

Como você pode ajudar alguém nessa situação? Por favor não presuma que morar em um lar para idosos atende todas as necessidades dos residentes. Visite, ligue, mande mensagens de texto, e-mail, mande bilhetes e cartões. E então visite novamente. É mais comum do que você imagina que idosos vivendo em asilos sejam negligenciados pela família da igreja. Quando minha mãe se mudou da casa onde tinha vivido por cinquenta anos para uma casa de repouso, em quase dois anos, somente duas pessoas da igreja dela a visitaram. Ela tinha sido muito ativa e envolvida como membro. Isso é um exemplo de como a igreja pode presumir que ministrar a alguém que vive em casa de repouso não é mais sua prioridade.

Jesus perguntou a Pedro, “Tu me amas? … Então apascenta as minhas ovelhas” (João 21.16). Eu pergunto a você: “Você ama aquela pessoa idosa?” Então visite e ajude na adaptação à nova casa. É melhor perguntar se eles estão lutando para se adaptar do que presumir que estão bem porque têm muitas pessoas ao redor deles. Todos nós sabemos que isso pode ser mais solitário em uma multidão do que quando estamos sozinhos. “Volta-te para mim e tem compaixão, porque estou sozinho e aflito” (Salmos 25.16).

A propósito, no dia seguinte àquele em que a bomba do poço quebrou, o senhor Peterscheim instalou uma nova que, eu espero, está agora sendo desfrutada pelos novos e jovens donos.

Questões para reflexão

Quão bem sua igreja monitora o bem-estar dos idosos que têm se mudado para casas de repouso?

Existe um ministério de pastoreio na sua igreja que pode naturalmente alcançar aqueles idosos que estão deixando seus lares queridos para viver em casas de repouso?

Quão disposta você está a fazer um compromisso de acompanhamento a longo prazo com pessoas que estão nessas instituições?

[1] Observações do editor: No contexto brasileiro temos idosas em diversas situações de mudança de residência. Algumas vão morar na casa de um dos filhos, que assume toda a responsabilidade de cuidar da idosa.

Algumas famílias optam por partilhar a moradia da idosa entre os filhos. A idosa passa a ter uma moradia provisória residindo a cada 6 meses na casa de um dos filhos, o que a deixa sem um verdadeiro lar e a torna uma verdadeira peregrina, causando enorme desconforto tanto para a idosa como para as famílias que participam do rodízio.

Há outras soluções e inúmeras formas das idosas residirem, estamos apenas citando algumas possibilidades.

A sua igreja tem se preocupado em auxiliar essa demanda de idosas?

Pense de que forma você pode servir este grupo de irmãs que estão no outono da vida.

Por: Carol Cornish. © Biblical Counseling Coalition. Website: biblicalcounselingcoalition.org. Traduzido com permissão. Fonte: Is Homesickness Only for Camp Kids?

Original: Saudade de casa é só para crianças em acampamentos? © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Tradução: Antonivan E Pereira. Revisão: Renata M Gandolfo.