Batistas são todos arminianos? | VE Entrevista com Wilson Porte

Transcrição

Quando a gente estuda a história da igreja, vemos que ela começa no início do século XV na virada para o XVII, como uma igreja no princípio essencialmente envolvida com uma doutrina levemente arminiana. Embora a gente não poderia considera-la como o arminianismo hoje é, até porque o próprio arminianismo não estava formado como hoje, com toda a sua conscistencia como é hoje na época. Eles eram chamados de batistas gerais porque acreditavam em uma espécie de expiação geral, ou ilimitada. E um ponto interessante é que esses batistas tinham um monte de falhas, e um monte de peculiaridades. Eles acreditavam, por exemplo, na endogamia, onde eles só se casavam com membros da própria igreja local. Em igrejas de 20 membros, só entre aqueles 20 membros é que eles se casavam. Eles eram contra a construção de prédios religiosos e eram aspercionistas. Os primeiros batistas da história batizavam todos por aspersão.

Depois de poucas décadas, pouquíssimas décadas, antes da metade do século XVII, surgiram alguns batistas questionando especialmente a questão da expiação geral, e começaram a acreditar na questão da expiação limitada, ou expiação particular. Começaram a ser chamados por isso de batistas particulares, ou batistas reformados, ou reformados batistas, como a época eles eram tidos. Batistas porque criam que o batismo deveria acontecer após a profissão de fé e não a profissão de fé após o batismo, sendo que na época o batismo poderia acontecer desde o momento do nascimento ou qualquer momento da infância e a profissão de fé era uma atitude futura. Então primeiro a pessoa se arrepende, crê, confessa, tem a sua profissão de fé, para depois ser batizada. Então nessa primeira metade do século XVII nascem esses batistas particulares, aquilo que seria hoje batistas reformados, juntos daqueles que seriam hoje os batistas arminianos, embora esses termos não fossem bem definidos como são hoje.

O ponto é que na virada do século, quando eles entram no século XVIII, esses batistas gerais praticamente desaparecem, sendo que ao final do século VXIII não existe mais igreja batista geral, ou batista “arminiana”, como nós achamas hoje. Pelo simples fato deles serem contra construção de lugares, eles se reuniam só em casas. Começaram também a ter problemas com relação aos outros batistas que acreditavam que a imersão era importante, embora não era um ponto essencial, o essencial era água e Trindade, mas a quantidade de água eles discutiam. Mas os batistas reformados, foram os que começaram a batizar por imersão. Então eles começaram a ter problemas com isso. Tiveram problemas também em relação a outras questões à época.

Eles começaram a deixar de existir por conta da endogamia mesmo, por exemplo. Pelo fato de só poderem se casar com gente da própria igreja local, do mesmo endereço, da mesma casa, menos de 100 anos depois eles deixaram de existir. Então a gente vê por uma linha histórica que aqueles batistas reformados, ou particulares, deram origem praticamente a todas as outras igrejas batistas na Inglaterra, à aqueles pais peregrinos que foram para a América do Norte, e começaram a igreja batista e a tradição batista ali, que veio para o Brasil e para outros lugares do mundo.

Eles tem um plano de fundo histórico reformado, tanto é que a profissão de fé que eles adotam no Estados Unidos é um fruto daquela confissão de fé de 1689 que foi composta na Inglaterra por este grupo de batistas particulares ou batistas reformados. Quando vieram para o Brasil, a gente vê a mesma coisa. A confissão de fé batista que foi adotada aqui era a confissão de fé que era adotada nos Estados Unidos, a Confissão de Fé Batista de New Hampshire, que foi adotada aqui e recebida até poucas décadas atrás, quando foi alterada para a declaração doutrinária da convenção batista brasileira, que ainda tem um pouco desses resquícios reformados, mas já com algumas pinceladas daquilo que seria uma espécie de arminianismo, sendo ela defendida, ou recebida, e abraçada, pelos dois grupos.

Há reformados que dizem que ela é reformada, arminianos que dizem ser totalmente arminiana. Mas o fato é que ela é dúbia, e que cada um vai puxar sardinha pro seu lado nesse sentido. Mas o ponto é que historicamente nós não encontramos nenhuma igreja batista hoje que seja herdeira daquelas igrejas que ali começaram. Todas as igrejas hoje que existem são de certo modo herdeiras das igrejas reformadas batistas do século XVII. Agora, hoje em dia, nós vivemos uma verdadeira mistura de tudo. Você me pergunta sobre batistas reformados e arminianos, mas hoje nós encontramos membros da igreja batista que são pentecostais, outros que são neo-pentecostais, que são liberais teologicamente falando, ou quase que ateus naquilo que acreditam da Palavra.

Então hoje você encontra de tudo, de modo que é muito difícil você definir que a igreja é isso ou aquilo. É reformada, ou ela é de tudo. Assim como os presbiterianos também. Embora teoricamente eles se definam como reformados, mas na prática você não encontra isso em grande parte das igrejas. Assim como os assembleianos também, que se definem como pentecostais e alguns pontos históricos. Mas se você começa a visitar certas igrejas, percebe que há uma grande distinção entre todas elas. Então no meio batista é a mesma coisa. Por isso que eu prefiro antes de defini-la hoje, porque hoje você encontra de tudo, tentar olhar um pouquinho para a nossa história e ver quem foram aqueles homens que Deus usou para lançar os fundamentos teológicos, como Benjamim Keach, John Bunyam, Hanserd Knollys, e tantos outros que Deus usou ali no século XVII para fundamentar aquilo que hoje no mundo todo é conhecido como igreja batista.

Foram com esses homens que os fundamentos foram lançados, e hoje se reconhece tudo que se reconhece. E tudo começou com homens que eram reformados, amavam a Palavra de Deus, voltavam para as Escrituras em todos os pontos, nesse sentido reformado também, e que deram origem a todas as igrejas de hoje.

Por: Wilson Porte. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Original: Batistas são todos arminianos? | VE Entrevista com Wilson Porte